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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Moisés e o mundo (Nilto Maciel)



 
Antes do trovão, aquele ronco medonho dos deuses, faíscas gigantescas incendiaram, num átimo, o céu e a terra. O mundo pegava fogo, feito coivara.

Portas e janelas do castelo se abriam e fechavam, empurradas pela ventania e pelo medo. Gritos de assombro e socorro ensurdeciam Moisés. O bom rei seu pai dava ordens aos servos, a severa rainha não se controlava; e o alvoroço foi mui grande na corte. E, por esta razom, a filha del rei, que havia nome Sofia, veendo o grande mal e destruiçom que viinha aa terra, jo-gou-se aos peitos de seu irmão, derretida em lágrimas e lamentos.
E, abraçados, como se se unissem na desgraça, correram ao mais subterrâneo dos pavimentos, em busca de refúgio.

Sofia, ao perceber as más intenções de Moisés, tentou fugir, gritou, porém o mundo se acabava e de nada adiantava resistir. E rendeu-se.

– Fiinha, rogo-te que aquilo que nunca antre mim e ti passou, que passe agora.

E retirou Moisés uma a uma as vestes de sua bela irmã. E entom britou o cadeado que guardava a boceta de Sofia com sua mão, ca nom houve i nem uu outro que o ousasse britar. E pôs-se a farejar aquelas carnes puras, feito o cão da fome, a abrir em duas bandas a maçã proibida.

Nom queira Deus que todo seja verdade quanto os velhos disserom! E como cuidades vós que esto nom era julgado per mim? E, des hoje mais, nom havemos por que nos queixar, pois já é feito, ca nom pode seer que já nom seja esto que é.

Nisto, o jovem Moisés sacudiu o lençol, para tanger as primeiras moscas e os fantasmas, e arregalou os olhos, em busca do dia que de fato principiava.

– Porra!

De entre suas coxas, um imenso canhão apontava para o teto. Apalpou-o. Uma gosma fedorenta tingia o lençol aqui e ali.

– Culpa dela.

Pôs-se de joelhos em cima da cama. Deus, qui per ressurrectionem Filli tui Domini nostri Jesu Christi, mundum laetificare dignatus es; Praesta, quaesumus, ut per ejus Genitricem Virginem Mariam perpetuae capiamus gaudia vitae. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen. Do lençol maculado modelou, à sua imagem e semelhança, uma alva mulher enrugada e torta. E, sem machucá-la, como se deveras a adorasse, levou as ardentes mãos ao rijo membro e, de tanto brandi-lo, fê-lo vomitar as amarelas babas do gozo sobre a inanimada figura de pano. E caiu de bruços, a lambuzar-se na lama de sua carne.

No rádio da sala, o locutor anunciou um tiro no ouvido do Presidente. No mesmo instante, bateram à porta do quarto de Moisés.

– O que é, mamãe?

– Acorde, homem.
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