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terça-feira, 5 de maio de 2009

Poemas de Almandrade



UMA PINTURA


O paraíso
contorna
o olhar do pintor.
Sede de ver
natureza morta
sem asas.
Meditações
de um pincel
que disseca
a beleza.


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O absurdo
ronda
um céu de metáforas
sombra imóvel
empoeirada
namora
o ar dos museus
palavras desertas
soltas
no colorido
dos jardins de Monet.


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Cenário abstrato
do nada e das coisas.
O quadro é a geometria
onde a realidade
troca de lugar,
muda de enquadramento.
No cálculo das cores
a visibilidade
não nega
a ordem do imaginário.
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DEPOIS
Mar na cama
longe da praia
perto do terreiro
molhada
junho é o mês
seis diz o calendário
uma noite
depois da vernissage
um presente e um ciúme.


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(para Bernardo Queiroz de Andrade)


Uma criança
e um rosto alegre
brincadeira e sonho
talvez eu
não seja
segredo
o menino distante
os olhos
descobrindo
as mãos
inventando
saudade e tempo
o futuro espera
e revela.

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Almandrade (Antônio Luiz M. Andrade) é arquiteto, poeta e artistaplástico baiano. Participou de quatro bienais internacionais em São Paulo, além de várias outras exposições no país e no exterior. Editou em 74 a revista "Semiótica". Publicou os livros "O Sacrifício dos Sentidos", "Obscuridade do Riso","Poemas", "Suor Noturno," "Arquitetura de Algodão". http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/almandrade.html
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