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sábado, 22 de maio de 2010

Conto de Nonato Costa

VELHO COSTUME – (Parte II)


Desde que chegara, sentara-se no banco próximo à porta e observava. Havia pessoas ali. No recanto à direita, sentada, uma senhora nos seus quarenta anos. Nas mãos, a xícara do café tilintava no contato com o pires trincado. Ao seu lado, os dois netos não se aquietavam. No outro, dois senhores com os seus chapéus na cabeça. Usavam bigode. Um deles tinha costeletas longas. Mantinham-se cabisbaixos e silenciosos. Esperavam a hora de sair. Em avançado estado de gravidez, uma mulher também esperava e espiava. Eram notórios o seu cansaço e o cochilo que tirava, recostando a cabeça na parede.

Pessoas passavam para os lados da escola estadual. Do banco da praça, Marcos percebera o movimento e decidira seguir na mesma direção. Um pouco além do colégio, pessoas entravam e saíam da casa pequena e baixa, de cor amarela e reboco rachado. Também ele resolveu entrar. Entra, senta e observa.

A mobília da casa era humilde. Apenas três tamboretes, uma pequena mesa recostada na lateral. Havia, ainda, duas cadeiras antigas, gastas pelo tempo, que sustentavam um caixão. O piso de grandes tijolos, grossos e antigos, trazia consigo lembranças de todos que por eles passaram. Do quarto, vinham soluços e vozes entrecruzadas. Marcos esforçava-se para escutar. Uma velha cortina, amarelada e suja, rasgada na ponta esquerda separava os limites entre a sala e um estreito corredor que dava acesso ao quarto. A tênue luz da sala emprestava ao ambiente uma nostálgica claridade. Marcos, sentado à porta, escutava e observava.

No centro, o caixão. Por baixo do véu transparente, a ausência do fôlego vital. Um senhor moreno de idade avançada. No bolso da calça do morto, restos de fumo comprado de manhã cedo na bodega do seu Felício. Um moleque cuidava de espantar as poucas moscas que insistentes pousavam sobre o rosto do defunto. Também acendia as velas que o vento da noite teimava em apagar. Marcos a observar.

A senhora de vestido preto chegou à janela e falou sem cerimônia. Era a hora do terço. Marcos a observou. Presos ao alto, os cabelos brancos lhe lembravam uma feiticeira. Tinha ainda um grande nariz e a pele enrugada. Mais algumas pessoas entraram na pequena sala. Fazia calor. Acomodadas à esquerda, duas garotas conversavam baixinho. Era sobre o defunto. Morrera de teimoso, garantiam.

Marcos observava. Olhou as duas garotas. Morenas, magras, cabelos longos. Duas graúnas mal cuidadas, pensou. A mais alta não possuía um dos dentes da frente e tinha uma notável cicatriz no pescoço. A outra, mais baixa, de cabelos desgrenhados e tão pálida quanto a luz que se esvaia pelo ambiente, enxugou uma lágrima. Conversavam baixinho. Era sobre o defunto. Morrera de teimoso, garantiam.

Marcos se esforçou para ouvir...
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