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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Saramago: Todos os Nomes (Tânia Du Bois)


José Saramago faz parte das nossas vidas. E relembrá-lo através de Todos os nomes é fazer referência ao setor cultural e desfrutar de sua companhia em todos os momentos.

Todos os nomes foi a obra que escolhi para comentar, por ser marcante pela sua criatividade, transmitindo uma literatura de qualidade, sem contar as mudanças positivas no seu modo de escrever: grandes parágrafos e grandes ideias.

Todos os nomes trata da história de um escriturário do Registro Civil, José, que fazia coleção de nomes e de recortes de jornais. Certo dia agradou-se do nome de uma mulher e seu desejo de conhecê-la o levou a ignorar as regras do bom funcionamento dos serviços públicos; aproveita-se da vantagem de ser escriturário, para procurar em todos os arquivos dados que o levassem até a mesma. Também, não se detém ao ultrapassar a marca do permitido, para descobrir algo sobre a mulher com aquele nome.

“Pessoas assim como este Sr. José, em toda a parte as encontramos, ocupam o seu tempo ou o tempo que creem sobejar-lhes da vida a juntar selos, latas vazias, pedras... vão tentando pôr alguma ordem no mundo, por um pouco de tempo ainda conseguem, mas só enquanto puderem defender a sua coleção...”.

Com coragem, o personagem passa pela porta do proibido e avança nos arquivos, copiando os dados, o que o deixa feliz e satisfeito ao ter conhecimento do todo.

Ao viver de mentiras, que dão significado a sua vida, passa momentos de suplício ao se deparar com a data da morte constante nas anotações da desconhecida mulher.

O livro está recheado de conteúdo em sua beleza e profundidade com que aborda o silêncio e a solidão do personagem, dando qualidade intrínseca à importância e à significância do nome. O autor nos dá o valor absoluto do nome, como vida; o valor humano, profundo, que repousa na raiz da cultura, enquanto espírito.

“Conhecer o nome que te deram, não conheces o nome que tens”.

“Além do seu nome próprio de José, o Sr. José também tem apelidos, dos mais correntes, sem extravagâncias onomásticas...”.

Todos os nomes, em cada parágrafo, nos faz sentir vivos, retratando o valor do nome no sentido da expressão humana. É sensível a ponto de envolver o leitor em toda a arte encontrada, para refletir que o nome é a nossa natureza, nossa alma, nossos sonhos, nosso inconsciente e, principalmente, a nossa história.

Todos os nomes é Saramago, escritor consagrado e inesquecível, que agora ganhamos (ou perdemos) para a eternidade.
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