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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sob a espada de Dâmocles (Manuel Soares Bulcão Neto)

A tragédia da vida não é morrer,
Mas deixar de amar.
W. Somerset Maugham


Adoeceste fatalmente.

Agora, a sombra da morte come

E bebe contigo.


Mas não te assombres

Com essa sombra

— Seu silêncio eloquente

Mostra bons conselhos.


Como o que diz:

Não leves a vida muito a sério,

Antes ri dela;


Por pilhéria ou encantamento,

Tanto faz: o que importar

É tão-somente rir.


Pois apenas o amor

É mais gratificante que o riso,


E quando só ante a morte

Nada mais lenitivo que rir

Do orgasmo solitário

E da carta sem resposta.


Outro conselho sombrio:

Se o teu projeto de vida

Jaz agora no futuro do pretérito,

Não lamentes,


Nem faças do sótão do tempo

A água-furtada

Para o teu recolhimento.


Melhor abrir o olhar

Para o presente contínuo


E abismar

Pelos infinitos que existem

Em tudo que é singular.


Lembra-te que “um”

É apenas outra maneira

De dizer zero vírgula nove,

Nove, nove ab aeterno.

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