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terça-feira, 31 de maio de 2011

Leia-me, se for capaz (Mayara de Araújo)

(Publicado no Diário do Nordeste, Fortaleza, 31 de maio de 2011)


O escritor Pedro Salgueiro lança amanhã uma coletânea de autores cearenses apenas sobre contos fantásticos: causos, lendas e histórias para ninguém dormir

Na boca da noite, quando a lua cheia chegava e a escuridão já não era mais contida pela parca luz dos postes da Light, vinham com ela as muitas histórias misteriosas, contadas ao breu das velas, recriadas pelos adultos com o intento sem-vergonha de assustar meninos pequenos.

Invasão bárbara (Ronaldo Monte)



Estava tudo programado para ser um sábado sofisticado. Começou logo nas primeiras horas, quando saímos de um bom restaurante onde jantamos um excelente salmão acompanhado de um vinho razoável. O que estava previsto em seguida, depois de umas boas horas de sono, era dedicarmos o dia a atividades exclusivamente culturais. Precisava me preparar para um encontro com a escritora Ana Miranda, o que incluía ler e reler alguns de seus livros e consultar sobre ela na internet. Além disso, precisávamos assistir “Cria cuervos”, de Carlos Saura, pois tinha sido convidado para comentá-lo numa sessão especial de cinema. Iríamos passar o sábado numa espécie de levitação.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Coisas Engraçadas de Não se Rir VI: O Mundo do Macho! (Raymundo Netto)




Mulheres são os seres mais machos que eu conheço. Não é brinquedo, não! Inimigos, vá lá, mas inimigas, Deus nos sempre livre!

Estava em mourejada redação de jornal quando apontaram Maria Luíza Fontenele e a Rosa da Fonseca. A Rosa, ao sorrisão largo, tascou-me no peito um panfleto onde propagava em alvo no negro, como se lhe costuma: “O Mundo do Macho Acabou!”. Ri-me: — Rosinha, acabou mesmo, mas faz é tempo, viu? Esse mundo em que a gente vive, se engane não, é fêmeo!

(In) finito (Inocêncio de Melo Filho)


Para Ana Márcia Carvalho

(Bathers, 2005, Dora Holzhandler)



Sonhei contigo nos meus braços


Implorando para eu conhecer


Os enigmas da sua caverna


Acatei sua proposta


Entrei em ti


Uma luz nos iluminou


Anunciando o novo dia


E o fim do meu sonho...

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domingo, 29 de maio de 2011

O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará

O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará




(Expressão Gráfica e Editora/ Selo Edição do CAOS)


Organização de Pedro Salgueiro e pesquisa de Sânzio de Azevedo, Pedro Salgueiro e Alves de Aquino (Poeta de Meia-Tigela)
— ganhador do VI Edital de Incentivo às Artes da SECULT —


O FANTÁSTICO em 173 contos, 60 poemas e 17 recortes de romances cearenses.


A maior e mais completa coletânea do gênero no Estado!


Data: 1º de junho de 2011 (quarta-feira)


Horário: 19h


Local: SESC/SENAC Iracema (Rua Boris, 90 – ao lado do Dragão do Mar)


Apresentação: Entrevista de Carlos Vazconcelos, no Projeto “Bazar das Letras do SESC”, com o organizador e pesquisadores da obra.


Durante o coquetel acontecerá a sessão de autógrafos


Sobre a obra: Incansável, obstinado vampiro de antiguidades, o neopesquisador Pedro Salgueiro (também praticante do fantástico) se deu a missão de vasculhar o passado impresso (livros, revistas, jornais), à cata de obras fora do realismo. Porque, na verdade, só existem duas categorias de literatura: a realista e a não-realista ou fantástica. Não satisfeito com o que encontrou nas bibliotecas públicas de Fortaleza, empreendeu viagens aos mais distantes porões da memória. Certamente não encontrou tudo, porque tesouros estão bem enterrados e muitos talvez nunca sejam localizados. Descobriu [com o auxílio de Sânzio de Azevedo e do Poeta de Meia-Tigela (Alves de Aquino)] poemas, contos, crônicas e romances que vão do absurdo mais arrepiante à irracionalidade mais contagiante. (...) Não se tem notícia de obra tão abrangente no Ceará e mesmo no Brasil. Coletâneas de contos fantásticos há muitas. No entanto, nesta coleção há muito mais do que narrativas curtas de mistério, horror, espanto. Salgueiro arrancou do fundo da terra – como um coveiro imortal, sempre a cavar o chão, embora enterre os mortos (seria melhor dizê-lo, pois, arqueólogo) – peças literárias criadas pela banda sórdida da imaginação humana. Nilto Maciel, escritor e pesquisador em literatura

Apoio Cultural
SESC – CE
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sábado, 28 de maio de 2011

Belvedere Bruno entrevista Nilto Maciel

(Publicado originalmente em Literacia – literaciaentrevistasetc.blogspot.com, de 5/5/2011)



Literacia - Como você vê o atual cenário literário do país?
NM – Se a literatura nasce dos livros e da leitura, a utilização de livros e leitura se inicia na escola. Portanto, para que uma literatura se faça, é necessário que a escola exista e seja boa. No Brasil, a escola não conduz o aluno ao livro, à leitura. A maioria dos estudantes não sabe ler ou não tem o hábito de ler. O que salva a literatura brasileira é a lei natural que faz com que um menino ou menina se dedique a ler, tome gosto pelos livros e chegue a também escrever. É o caso de Machado de Assis, Lima Barreto e tantos outros escritores de origem pobre. A literatura é a irmã desprezada da família das artes. Aquela que os pais desprezam, os padrastos rejeitam, os vizinhos escorraçam, a polícia prende e machuca, os homens no poder chamam de loucos. Tirante um ou outro Paulo Coelho, não há um só escritor brasileiro que consiga se alimentar uma vez por dia, se depender da venda de seus livros. Todo escritor tem uma profissão: médico, advogado, funcionário público, bancário, etc. Apesar disso, temos tido ótimos escritores, que podem ser postos ao lado dos grandes do mundo. Talvez não tenhamos nenhum do tamanho de Camões, Dante e Shakespeare. Com o surgimento da Internet, este quadro tende a melhorar. O estímulo a ler e escrever é muito maior hoje. Assim como a publicar.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Argonautas (Manuel Soares Bulcão Neto)


Uma noite no século. No meu apartamento, bebida, música, baralho. Comigo, jogam pife-pafe Thiago Pauli e Alves de Aquino - Este, professor de Filosofia e escritor, tem por pseudônimo "O Poeta de Meia-Tigela" (aviso aos gulliveres e liliputianos: a tigela é de "Brobdingnag"). Eis que, numa rádio da Internet, Caetano canta "Os argonautas": "Navegar é preciso, viver não é preciso…". Assim como um estalo, associo a frase (lema da Escola de Sagres) com jogo de azar, ciência e nossas vidas inintencionalmente erráticas, "imprecisas". Nesta crônica, desenvolvo "grosso modo" meu pensamento.

Leitura e livros (Emanuel Medeiros Vieira)

(UMA CELEBRAÇÃO DO ESCRITOR E DO LEITOR)


Em memória de Alfredo David Vieira Sanseverino, de Beluco Marra, de Giuseppe Luchini Vieira, de Ivan Moreira da Silva e de Ronaldo Paixão (todos eles apaixonados pela leitura)
Pela intensa e exemplar luta em prol da vida de Maria Aparecida Vieira de Almeida e de Maria Letícia Vieira da Silva
E pela saúde da minha querida afilhada Letícia Lopes Miranda
(Ouvindo Bach, Cartola e Lupícinio Rodrigues)

Quem escreve é um leitor do “passado”? Um nostálgico? Quem sabe. O livro vai acabar? – indagam. Eu sei: a leitura encontrou formas paralelas de existência, como disse José Mindlin. O texto na tela é uma das alternativas atuais do livro. É claro: eu prefiro o impresso. Gosto de ”tocar” o livro, de sentir o seu cheiro, de anotar e de rabiscar no canto, de marcar trechos com canetas coloridas. Para mim, é mais prazeroso encontrar um livro na estante, de ir a sebos, e não à mega-livrarias impessoais. Parece bobagem. Mas é o meu barro. Talvez – como alguém já detectou –, o livro de papel tenha algo de artesanal na sua concepção e impressão. No futuro, ele será objeto de culto de uma minoria? Não se opõe qualquer resistência ao livro digital. Para um viajante contumaz, talvez seja preferível carregar um e-book. Para um leitor habitualmente caseiro e compulsivo como eu – que lê vários livros ao mesmo tempo, que não consegue ler sem anotar –, o livro de papel é melhor.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Uma página ao amor e à paixão (Clauder Arcanjo)



Antes de ti, amada Biscuí, havia poucos, raríssimos tons azuis no céu perdido dos meus olhos; bem como um raro, e evanescente, brilho franco sob a forma de sorriso em meus lábios contritos.

Quando dezoito chegou (mais precisamente, a noite de 18 de julho de 1982), nos salões do Alcione Clube, o azul fez-se manto, e o sorriso habitou definitivamente em mim. Sant’Anna foi a nossa padroeira. No solo sagrado do meu chão natal, a decantada Santana do Acaraú, Licânia literária minha.

Sobre o 3:19 do Gênesis (Carlos Nóbrega)


(Garden of Éden - Jacob de Backer)



Sobre os episódios no Éden


também tenho algo a dizer:


Não fomos somente nós


que tivemos de derramar


o suor do rosto, não.




E as rosas, por exemplo,


e cada botão de rosa


contorcendo-se,


Fazendo origami de si mesmo


apenas para viver,


Não conta?, Não mereceria


pelo menos um versículo?

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palavras cifradas (Tânia Du Bois)



As palavras restringem os nossos sentimentos e, por isso, muitas vezes usamos o chavão: “Não tenho palavras”. O sentimento vai além do que poderia ser descrito.

O poeta Oliveira e Silva pergunta: “Quem somos nós, senão a chuva e o vento, / Quando, por acaso, dialogamos, / sob um céu vago, às vezes pardacento, / Ao gemerem as árvores nos ramos?” Assim, ele indaga sobre o sentido da vida e nos mostra que ela é feita de palavras que podem ser inadequadas, opostas, reparadoras, carinhosas, famosas, educativas, deslocadas, coloridas, surpreendentes e cifradas.

A descoberta (Mariel Reis)


Clarice rodopiava. A vitrola enchia o ambiente de música alta. Os braços erguidos; o quadril em movimento e as pernas alvoroçadas – preenchidas de tumulto. O vestido branco, vincado pela sombra da tarde, acendia pontos de fogueira nos olhos. As chispas de uma alegria selvagem escapavam-se por certo sorriso. Retorciam-se as mãos no tecido transido. Entontecida pelo bailado ardente, tombou-se. O sexo aninhado à quina da mesa. Os olhos elevaram-se em transe. Procurou, em derredor, o que lhe havia tocado.
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terça-feira, 24 de maio de 2011

Navalha na carne (Silvério da Costa)



Carnavalha, romance de Nilto Maciel, é um grande baú de espantos e veleidades da condição humana, no dia a dia dos moradores de Palma.

O livro divide-se em 8 (oito) partes, cada uma delas com diversos capítulos, curtos e nominados, apresentando uma gama de questionamentos acerca da existencialidade. Os capítulos, muito bem estruturados, até poderiam ser chamados de minicontos, dada a sua independência, digamos assim, parcial. Eles se unem, todavia, para alcançar o seu objetivo mor que é busca daquele algo mais que faz do livro um romance.

A era da incerteza (W. J. Solha*)

(Karl Marx)


Todo mundo conhece a lenda folclórica hindu em que sete cegos se deparam, pela primeira vez, com um elefante. Vivi algo semelhante em 1992, depois de ver vários VTs do concerto “Os Indispensáveis”, com música do Eli-Eri, texto meu, participação de vários solistas, sinfônica, grupo de dança Sem Censura e coral da UFPB. Cada um desses VTs foi encomendado por um participante, e o resultado foi que nenhuma das versões afinal disponíveis mostrou o espetáculo como um todo. O contratado por Eli-Eri concentrara-se no maestro, o tenor Elton foi quase que onipresente na sua versão, uma das dançarinas também centralizou totalmente a fita que encomendara, e assim por diante. Eli-Eri percebeu a mancada e me pediu que fizesse uma cópia que juntasse todos aqueles pontos de vista numa montagem cinematográfica da coisa, e foi só quando todos tivemos uma visão de conjunto do que vivêramos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A última carta (Abel Sidney)



Desde que cheguei a esta região de caboclos, botos e igapós, fiz questão de demarcar as etapas de minha vida.
Deixei o passado nos limites do cerrado, no distante Mato Grosso. Para ser mais preciso, em Nobres, num trecho de estrada que não mais existe.
Eu trabalhei no asfaltamento da rodovia que liga Brasília ao Acre, a BR-364. Ela passava pelas minhas pouco férteis terras em Nobres, para adiante seguir, atravessando as reservas dos índios Parecis e Nhambiquaras, rasgando mais adiante ainda os mais terríveis areões que se pudesse sonhar existir.

A poesia em Concerto (Aíla Sampaio)



O poeta Alves Aquino, encarnado no personagem Meia-Tigela, lançou, em 2010, o livro Concerto nº1nico em mim maior para palavra e orquestra. Poema, cujo subtítulo, “Combinação de realidades puramente imaginadas” traduz o movimento dialético que compõe sua criação, conjugando tradição e modernidade, realidade e imaginação. É, como a Bíblia, dividido em livros, mais precisamente, em 4, cada um com 4 subdivisões. Os números assumem importâncias e simbologias que, certamente, se explicarão ao final do seu projeto.

domingo, 22 de maio de 2011

Chuvas (Pedro Du Bois)




Na chuva


encharco


ensopo


destaco o guarda-chuva


ao cinza: empoço


o canto do pássaro


escondido


em vão


em vãos de telhados


eiras e beiras


ressurgem ninhos


de pássaros


cantando o final


da chuva: na hora


seco


resseco


destaco o guarda-chuva


em que me apoio.

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sábado, 21 de maio de 2011

Vidráguas (Carmen Silvia Presotto)



Porque chove…


Tudo é água


que empoça e embacia


Tudo é lágrima


que sublima, condensa e lava


Uma “redescoberta” da literatura africana no Brasil (Adelto Gonçalves*)


I

A Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colocou no mercado uma nova coleção, Poetas de Moçambique, em que apresenta antologias dos maiores poetas modernos de língua portuguesa e origem moçambicana. Segundo a editora, os autores escolhidos estabeleceram freqüentemente diálogo com a literatura brasileira, especialmente com as obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Manuel Bandeira (1886-1968). Os primeiros volumes são dedicados a José Craveirinha (1922-2003) e Rui Knopfli (1932-1997).

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Indagações (Silmar Bohrer)



A vida é feita de indagações


e elas realmente existem,


por que será tantas opiniões


nunca jamais mudam, persistem ?




Breve história de uma antologia do conto marginal (Nilto Maciel)


Queda de Braço: uma antologia do conto marginal foi editado no Rio de Janeiro, em 1977, pelo Club dos Amigos do Marsaninho (pessoa jurídica fictícia criada por Glauco Mattoso), em colaboração com o Movimento de Intercâmbio Cultural (criação de Nilto Maciel). A capa é de Flávio Tâmbalo, com utilização de desenho de Ricardo Augusto Rocha Pinto (originalmente publicado como pôster na revista O Saco, número 3, de julho de 1976). Há duas epígrafes: uma (brincadeira) de Glauco, assinado como Glauco Mattoso “de Santana”: “Um país que tivesse 845 contistas insuportáveis seria genial”, e outra de Antônio Torres: “A gente não pode esquecer também que é da quantidade que se faz a qualidade”. Escrevi uma das dobras do volume. A outra é assinada por Antônio Carlos Villaça. A apresentação é de Glauco, embora o seu nome não apareça. Em tom de brincadeira, faz algumas perguntas: “Uma antologia do conto marginal? Mas o que é antologia? O que é conto? O que é marginal? O que é uma antologia do conto? O que é o conto marginal? Marginal existe? Antologia existe? Existe o conto?” Mais adiante responde uma destas perguntas: “Marginal aqui não designa propriamente o conto, mas o autor, assim considerado face a uma conjuntura bestsellercrática. Isso não implica necessariamente em anonimato ou ineditismo, mas vale alertar que mesmo os trabalhos já publicados em livro o foram à custa e por iniciativa dos próprios autores.”



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Entrevista de Pedro Salgueiro a Breno Fernandes

(Muito – Revista Semanal do Grupo “A Tarde”)

(Pedro Salgueiro)


Pedro Salgueiro (Tamboril, Ceará, 1964) é da geração que ficou conhecida como Geração 90, por conta da compilação homônima organizada por Nelson de Oliveira. Salgueiro tem editados os livros de contos O Peso do Morto (1997), O Espantalho (1996), Brincar Com Armas (2000), Dos Valores do Inimigo (2005) e Inimigos (2007), de contos; além de Fortaleza Voadora, de crônicas. Vencedor do Concurso Guimarães Rosa, da Rádio France Internationale, e do Prêmio de Contos da Biblioteca Nacional/Instituto Nacional do Livro para obras em curso, dentre outros. Tem contos nas coletâneas Contos Cruéis, Geração 90: manuscritos de computador, Os Menores Contos Brasileiros do Século, Quartas Histórias e Todas as Guerras.

Quero alegria (Luciano Bonfim*)

“Eu já sei por que choras, palhaço”.
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.



Discordo quando dizem que os palhaços são pessoas que riem de dentro para fora.

Acredito que os palhaços não conseguem rir de dentro para fora, visto que por dentro são ocos de alegria.

Conheci um que, não conseguindo morrer de rir, suicidou-se na sua própria euforia.

Eles não mostram nem os seus próprios risos nem arrancam a sua mais recôndita gargalhada, posto não a possuirem.

Os palhaços são personagens de sua própria vida triste, de suas desilusões; vivem cercados de cores para esconderem o fosso em que estão metidos.

Os palhaços não conseguem rir de si mesmos – riem de fora para fora, somente por entre os dentes, somente através do público. De perto eles não têm graça alguma.

Os palhaços são pessoas tristes, como todas as outras pessoas do mundo.

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*Luciano Bonfim [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam – Contos [2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético [1992] s e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado [2002] e As Mulheres Cegas [2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências [2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA [desde 1996]; aluno do mestrado em Educação Brasileira [FACED-UFC/2006].
e-mail: luciano.bonfim@yahoo.com.br
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Idade Média (Debora Schach)



Hildegarde de Bingen (1098-1179)


Na última semana


beatificamos um papa,


casamos um príncipe,


fizemos uma cruzada e matamos um mouro.


Bem-vindos à idade média!

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Coisas Engraçadas de Não se Rir IV: Coletividades (Raymundo Netto)

(Especial para O POVO)


É palavrão, cotovelada, empurra-empurra, um calor desgraçado, forró ruim no pé de ouvido, solavancos em buracos que procriam e a turma inda se preocupa se vai chegar atrasado ao trabalho. É mole? Isso, se no percurso não for lesada de seu celular, único bem “não-genérico” implantado em meio ao seu indumento, lembrando que a finada linha “Paranjana” era estágio obrigatório da escola profissionalizante de trombadinhas.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Trigueiro e a trilogia da confissão (Ivo Barroso)

(Transcrito do blog Gaveta do Ivo - Poesia & Tradução)


Carlos Trigueiro começou a ser notado como um dos nossos melhores contistas quando publicou, em 1994, 0 Clube dos Feios e Outras Histórias Extraordinárias, surpreendendo a crítica tupiniquim. Dominada até hoje por equívocos minimalistas, pornográficos ou ambivalentes, a contística nacional dava de frente com esse estreante “castiço” que sabia contar uma história em linguagem legível e com toda a maleabilidade histriônica que o gênero requer. E os contos – desse e de seus livros posteriores –, além do sabor natural da narrativa fluente, das frases de efeito (e até mesmo de algumas pedras de toque), comprometiam-se com um ideário e reflexões conjugados a uma fina ironia, os grandes trunfos da escola imune ao tempo de que Machado de Assis é o guru inconteste.

Ao meu lado (Inocêncio de Melo Filho)

Para Dênis Melo


Quando estás comigo


És mais menino do que homem


Não ignoro isso em ti


É o seu jeito de me dizer


Que és feliz ao meu lado.


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domingo, 15 de maio de 2011

A companhia da solidão (Clauder Arcanjo)




Não a chamo, calo-me quando lhe escuto a cadência dos passos cavos no oitão da minha casa. No mais das vezes, na vã tentativa de não lhe dar guarida, fecho o semblante, enrugo a testa... e faço cara de poucos amigos. Aí, acabo logo percebendo, é que ela se abanca na minha alcova vazia! Alcova antes habitada apenas por mim, por meus livros e rabiscos.

sábado, 14 de maio de 2011

O concerto inebriante do Poeta de Meia-Tigela (Nilto Maciel)


(Nilto, Poeta de Meia-Tigela, Pedro Salgueiro, Raymundo Netto e Manuel Bulcão)

Vi, pela primeira vez, o Poeta de Meia-Tigela numa noite de ano da dezena inicial do terceiro milênio. Visão que me estarreceu. Imaginei-me em estado de alucinação. Sim, aquela figura esguia, quase transparente, alva de pele e roupas, a caminhar na minha direção, me fez tremer. Culpei a bebida. Andava então a me embriagar todo dia. A ter pesadelos, acordar trêmulo e com ganas de subir ao mais alto do prédio e de lá me jogar para o precipício do nunca mais.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Clemente Rosas (W. J. Solha)

Inventário de esperanças e sucessão vertiginosa de experiências de um líder estudantil

(Clemente Rosas)


Bancário com carreira no sertão e na capital paraibanos, tive enorme inveja quando comecei a trocar e-mails - há dois ou três anos - com vários colegas do BB, também escritores, mas que tiveram carreira internacional no Banco do Brasil: Esdras do Nascimento, Ivo Barroso e Carlos Trigueiro – todos agora no Rio. Do mesmo modo, lembro-me – com imenso complexo de inferioridade - da figura lendária em que se tornou um tal de Manoelzinho, que aprendera a ler sozinho aos quinze anos, nas abas de uma serra da região de Pombal, onde vivi; fora pro seminário de Cajazeiras, perto dali; trocara a batina por um emprego no Bradesco, em Recife; se mandara pro Rio – aprovado em concursos da Petrobrás, Banco do Brasil e Banco do Estado de São Paulo, optando pelo primeiro – até que, ante a repressão da ditadura, matriculara-se na Sorbonne, na França, desviando-se de lá pra Universidade Patrice Lumumba, de Moscou, onde morrera algum tempo depois, devido a um tumor no cérebro. Transformei sua trajetória – tão fascinante me parecera - na de meu personagem Zé Medeiros, em meu até hoje inédito romance “Dricas”.

O fim do caos? (João Soares Neto)



Em 2002, publiquei o livro “Sobre a Gênese e o Caos”. Nele, na parte primeira, a gênese, procuro, analiticamente, tentar explicar, se é que é possível, o que levou o Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, a afrontar os Estados Unidos, no dia 11 de setembro de 2001, ocasionando quase 3.000 mortos. Na parte segunda, do caos, criei onze contos diversos, mas todos com foco na tragédia americana. Contos, vocês sabem, são estórias curtas, criadas, geralmente com poucos personagens, com começo, meio e um fim diferente do que se espera.

A memória do holocausto e o holocausto da memória (Eduardo Sabino*)

Novo romance de Michel Laub explora história e subjetividade



“O holocausto nasceu e foi executado na nossa sociedade moderna e racional, em nosso alto estágio de civilização e no auge do desenvolvimento cultural humano, e por essa razão é um problema dessa sociedade, dessa civilização e cultura.” (Zygmunt Bauman)

Diário da Queda, de Michel Laub (Companhia das Letras, 2011), confronta um tema muito explorado pela Arte nas últimas décadas: o holocausto. O narrador-personagem do romance, neto de um sobrevivente de Auschwitz, tem consciência do risco da repetição e foge dela ao focar elementos de uma memória biográfica que se conectam, ainda que subjetivamente, à memória histórica.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Nós em torno de Antero e Lobato (Marco Aqueiva*)




Até há pouco os ideais marchavam à frente, e muitos de nós os perseguíamos como costumam os cães fazer. Os ideais eram sólidos e palpáveis, e não nos queixamos do médico que nos curou da loucura. Temos tantas razões hoje para recusarmos os grandes ideais que suspeito ser esta a razão de sermos indiferentes à história e, pior, tristemente liberados de toda obrigação para com ela, se obviamente isso fosse possível.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A voz do leitor (Tânia Du Bois)





“Se tens um jardim e uma biblioteca, tens tudo” (Marco T. Cícero)

O leitor vive na expectativa de ler e contar histórias, e de mostrar que a literatura é importante em sua vida, como descoberta, conhecimento e lazer. Também, sabe que ao cuidar da literatura tem a oportunidade de viajar com a imaginação e ir aos lugares mais belos. Isso significa que assim consegue alcançar o ímpeto da vitória. Porém, sempre se preocupando com o antes e o depois e, dessa forma, certifica-se das novas criações e produções.

Gengis Khan na poeira (Manuel Soares Bulcão Neto)



Em sua obra Memórias de um revolucionário, Victor Serge fala do seu deslumbramento a bordo de um avião: a paisagem vista do alto, nuvens – lá embaixo – aparentando flocos de algodão herbáceo… Diz, também, não compreender a atitude da maioria das pessoas: acostumar-se a ponto de não olhar, nem mesmo de esguelha, para a janela (logo que a aeronave decola, abrem um jornal, comem alguma coisa e, depois, hibernam).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Generosidade cotidiana (Ronaldo Monte)




Não vou falar da morte de Bin Laden, nem dos espetáculos midiáticos patrocinados pelas monarquias decadentes da Inglaterra e do Vaticano. Tampouco me interessa a composição da comissão de ética do Senado nem os rumores sobre a volta da inflação. Nada disso tem valor se comparado aos atos de generosidade com que somos contemplados no cotidiano.

poesia à margem (Nuno Gonçalves*)




deriva,


da cabeça de um nauta torpe


a fineza de um fogo torto.


como se já não bastasse o lema:


insensato coração de náufrago,


agora esse mundo devassado.


todas as distâncias se resumem


na mirada que percorre o espaço


onde copulam as galáxias.


sem ruído a verve refaz insônias


enquanto a história dorme.


o pavor é uma equação antiga


enterrada do outro lado da divisória linha


o amor é uma canção antiga


soterrada na estrada em brasas.


ser herói à margem


punk por um dia


ou qualquer coisa que resista à real-política.


o cosmos é uma abstração ilógica


para a qual o bom senso nunca atina.


qualquer cisma vem sempre antes da pessoa que anuncia


deslocando o foco tão incerto da retina.


todo dia é sempre outro


o espelho que novamente nos identifica.


suspensa entre o sal e o azeite


a memória vai parindo seus eclipses...

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[*Nuno Gonçalves é poeta e professor de História. Publicou o livro Cartas de Navegação em 2009 e é homônimo de um pintor português do Século XV].

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Poemas (Dércio Braúna*)

Sem Título - Frans Krajcberg




METAFÍSICA ENQUANTO A MORTE SE ATRASA



Os poetas estão dóceis.
Os mortos,
                   jazem, em placas, pelas esquinas,
                  dando nome aos chãos
                                       do passar de cada dia;
os vivos,
amontoados entre a poeira e as traças,
mal respiram ― ainda.

Que destino:
travar-se com a língua,
                (o que é dizer com um corpo,
                                          latente coisa)
munir-se até os dentes com farpas;
lacerar a couraça em seus gumes,
espatifar a lira,
forjar outra matéria (ainda língua) depois de tudo,
                  e findar
                  dependurado ao alto
                  no triste afazer de nomear o onde
                  os homens
                  não se vêem, não se olham,
                  não se tocam
                  senão por trinta dinheiros!


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*Dércio Braúna é historiador, poeta e contista, autor de O pensador do jardim dos ossos (Expressão Gráfica e Editora, 2005), A Selvagem Língua do Coração das Coisas (Realce, 2005), Metal sem Húmus (7 Letras, 2008), Uma Nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto (Scripta Editorial, 2008), Como um cão que sonha a noite só (7 Letras, 2010). Contato: derciobrauna@bol.com.br.

domingo, 8 de maio de 2011

Provável (Pedro Du Bois)



Probabilidade: amanhã acordaremos
na mesma hora. Diremos palavras.
Sorriremos faces. Espalharemos
as cobertas sob os corpos. Transitaremos
caminhos conhecidos. Reiteraremos
verbos conjugados. Diremos os bons
dias necessários ao convívio.

Diremos adeuses tantas vezes
forem as separações. Os reencontros
de abraços e beijos: a probabilidade
de irmos juntos para a cama ainda
desfeita da manhã.


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sábado, 7 de maio de 2011

Pequena sabatina ao artista (Nilto Maciel e Fabrício Brandão)

Entrevista publicada, em 30/4/2011, na revista cultural eletrônica Diversos Afins (www.diversos-afins.blogspot.com), dirigida por Fabrício Brandão e Leila Andrade


Para definir um bom prosador, são necessárias palavras que se proponham a extrapolar os limites meramente expositivos de qualquer cenário narrativo. Contentemo-nos, pois, numa análise que sabe ir além de um simples artifício de contar histórias. Numa acepção densamente significativa, um contista, mais do que apresentar situações e tramas, deve ser capaz de dissecar o âmago dos seres apresentados. A partir daí, ganha corpo vigoroso uma noção de interioridade que sabe ser ingrediente fundamental de uma proposta textual rica e consistente. E tal perspectiva encontra abrigo no modo de pensar e agir do escritor cearense Nilto Maciel. Detentor de uma trajetória que contempla incursões predominantes na seara da prosa, o autor, natural de Baturité, revela-se um alguém peculiarmente envolvido de modo especial no fazer literário, qual seja o de se apropriar de modo pungente dos elementos presentes em seu espaço íntimo de abstração para depois transformá-los em matéria viva vertida em palavras e outros tantos signos. Nesse processo, Nilto mergulha no universo de sua catarse pessoal, convivendo de frente com a necessidade primeira de isolar-se do mundo até que o produto de sua viagem ao centro de si mesmo seja expelido sob a forma de texto. Alguns de seus livros renderam-lhe premiações de destaque em concursos nacionais e regionais. Sua obra contempla, dentre outros, Itinerário (contos, 1974, Scortecci Editora), Tempos de Mula Preta (contos, 1981, Papel Virtual Editora), Punhalzinho Cravado de Ódio (contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará), A Última Noite de Helena (romance, 2003, Editora Komedi) e Carnavalha (romance, 2007, Bestiário). Durante o diálogo do escritor com a Diversos Afins, foi possível compreender certas razões capazes de justificar as imagens que cercam o engenhoso ofício da escrita. Em Nilto Maciel, temos o exemplo vivo e atinente de que escrever, acima de tudo, envolve um criterioso ritual de entrega humana, tudo compreendido num lapso que sabe a desvãos da alma.

Uma carta poética a Gullar e às mãos que escrevem (Carmen Silvia Presotto)


Querido Poeta (s)!

Era domingo quando a crônica chegou e tuas palavras me deram um tapa no tempo… Sim! Quanto tempo nos permite receber e viver da indenização máxima? Quanto tempo teremos para viver de favores? Quanto tempo teremos para arrumar uma solução para quando chegar a hora? Quanto tempo as musas nos protegerão?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Emanuel Medeiros Vieira ao sul do efêmero! (Silvério da Costa*)



Há muitos anos, mantenho contacto com o poeta e prosador Emanuel Medeiros Vieira, um dos mais lúcidos autores vivos deste país. Tenho por ele, uma profunda admiração, não só pela sua Arte Literária, mas também, e principalmente pelo ser humano que ele é! Não o conheço pessoalmente, mas a correspondência me basta para o que estou afirmando.

Felipe Barroso e a memória (Nilto Maciel)


(Felipe, Nilto e Carlos Nóbrega)


Muitas vezes somos compelidos, os cronistas, a nos copiar. Que o diga Airton Monte, há anos devotado a escrever todo dia uma página para jornal. Pois esta crônica lembrará outra, que começa quase assim: Numa noite de 2007, Pedro Salgueiro e eu bebíamos cerveja no bar do Assis, na Gentilândia, e contávamos antigas histórias de gênios incompreendidos. Tudo invenção nossa, que gostamos de ridicularizar nossos amigos. Nessas ocasiões, o riso me dá muita sede. Vamos pedir mais uma? E Pedro gritou: Assis, traz a segunda. Sem se deixar enganar pela astúcia brincalhona do frequentador diuturno de seu bar, o comerciante se aproximou de nossa mesa: Esta é a quinta. Tomei mais um gole e senti saudade do banheiro. Imaginei a sequência de minha ação: Por-me-ia de pé, como os bípedes comuns, caminharia até o sanitário, sem pressa, e... Não consegui dar o primeiro passo: Cercavam-me dois indivíduos corpulentos, risonhos e tagarelas. Cumprimentaram meu gordo comparsa e me olharam com curiosidade de aventureiros. Pedro tratou de apresentá-los a mim: Nilto, este é o contista Felipe Barroso; e este é o filósofo Manuel Bulcão. Apertadas as mãos, corri ao toalete. De volta, ouvi falarem de Carlos Emílio. Não sei bem o que diziam. Para mudar de assunto, os dois pediram uísque.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Espera (Carlos Nóbrega)



Camisas no cabide


do guarda-roupas


à espera do que vem...


Uma atrás da outra


atrás da outra,


Umas de listras


umas de luto -


Fila indiana de ninguém.

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quarta-feira, 4 de maio de 2011

A encruzilhada (Abel Sidney)



O caso que eu ora hei de relatar, tal como aconteceu, teve início nos primeiros anos da Segunda Grande Guerra.

Eu que não desejara tornar-me um Voluntário da Pátria, decidi passar uns meses na casa de um tio-avô no Ceará. E não é que me descobriram por lá? Não me sabiam o nome, mas pelo meu aspecto adivinharam que eu estava em plena forma física, apto, portanto, para exercer os meus deveres de cidadão e guerreiro. Não tive escolha, senão seguir os homens.

Anjo na rua (Astrid Cabral)




De que nuvem do céu
baixou o anjo ali
na esquina da rua?
Miragem? Milagre?
Em carne e osso
arregaça as asas

à véspera do voo.
Queda-se imóvel embora
o homem/sanduíche se agite

entre cartazes/fatias.
Que faz ali o anjo?
Amável surpresa
a sina da paciência
ensina perseverança.

Sob calor e mãos de tinta
sob suor e pele metal
espera e espera moedas.

E sorri ante o espanto
do menino deslumbrado:
Mamãe, olha o anjo!

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terça-feira, 3 de maio de 2011

Amor de Deus (Eduardo Sabino*)


E ele disse, “Deus é o amor”. Falava desenhando figuras geométricas. O olhar de criança em embalagem madura. “Como o amor se manifesta?” Ele com boca aberta para engolir as perguntas para todo o sempre. Ele admirando coisas no teto invisíveis aos outros. “Podemos falar sobre Raíssa?”. Agora sim, a primeira vez das circunferências azuis e das verdes. Sem tesão, ele me devora, o fogo no olhar celeste. “Aconteceu alguma coisa com a Raíssa?”.

Fronteira (Pedro Salgueiro)

(O intruso presseurop 181010 Joep Bertrams)


O vasto horizonte mirado com angústia: primeiro as sobrancelhas cerradas, a mão em pala; depois os óculos claros, vislumbrando ínfimos detalhes; mais além o binóculo rápido; e por fim a luneta de tripé apoiada no peitoril da janela. (A porta da frente travada, os galhos ressequidos sobre o muro.)