Translate

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Três momentos de poesia (Nilto Maciel)


(As três musas)

Infelizmente, não tenho tempo e disposição para resenhar os livros que me mandam. Peço desculpas a meus amigos e àqueles que mal me conhecem. Pois livro é para ser lido, comentado, estudado, divulgado. Semana passada, escrevi pequeno artigo a respeito de quatro coleções de prosa de ficção. Hoje é a vez do verso. São apenas três: Borboletário (Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011), de Maria de Fátima Maia; Estesia (Brasília: André Quicé, 2010), de Napoleão Valadares; e Poemas / Versek (Goiânia: Kelps, 2011), de Alice Spindola e Lívia Paulini.

Maria de Fátima é de família de poetas: os Maias, cujos representantes mais conhecidos são Virgílio e Luciano. Nasceu, por acaso, em Pouso Alegre, Minas Gerais. Muito cedo, mudou-se para o Ceará, terra de seus familiares. Conheci-a recentemente, numa festa literária, no Dragão do Mar (Fortaleza). Napoleão é mineiro e mora em Brasília há muito tempo. Foi lá onde nos conhecemos. Falávamos de literatura (a minha, a dele e a dos outros), quando nos víamos, o que acontecia com muita frequência. Alice é também mineira, mas vive em Goiânia há anos. Vimo-nos pela primeira vez em alguma festividade literária, na capital goiana ou na federal.

Borboletário é livrinho pequeno (56 páginas, menos 18 de prefácio, índice, etc). A capa traz madeixas marrons que semelham raspas de madeira. As abas estão preenchidas com um estudo de Majela Colares, outro bom poeta nascido na microrregião do Jaguaribe, Ceará. Após considerações basilares sobre Poesia, afirma: o conjunto de versos de Maria de Fátima “traz em seu conteúdo incontáveis momentos dessa transformação mágica – a transfiguração poética –, quando a poesia deixa de habitar apenas o universo cósmico-divino e passa a integrar também o universo dos homens”. O grande poeta Jorge Tufic também está presente na coletânea, em breve apresentação (“Palavras de leitor”), assim: “Se é que existe uma poesia espontânea, leve, despojada, sem, contudo, abdicar da metáfora e do insight, aqui ela se encontra neste livro de Maria de Fátima Maia, em cujas rimas ocasionais, teatralização comedida e um lirismo permeado de sabedoria e bom humor, a simplicidade é o toque mágico de belíssimos poemas, alguns em tom de oração, outros contidos mas cheios de encantamento e ternura”.

Estesia é mais encorpado (128 páginas) do que a coleção de Maria. Na introdução, o próprio Napoleão explica a obra, composta de triolés. Transcreve as definições do vocábulo e do poema por Geir Campos e Massaud Moisés, refere-se às suas origens (triolet) e cita nomes de poetas que praticaram esta forma poemática. O volume se inicia com o explicativo “O triolé”: “Oito versos. O primeiro / como quarto se repete. / O segundo é o derradeiro. / Oito versos. O primeiro / é o sétimo. E o terceiro, / quinto e sexto, livres. Sete... / oito versos. O primeiro / como quarto se repete”. Lá pelo meio do impresso, apresenta uma brincadeira intitulada “Mundo”: “Mundo mundo vasto e bom, / sei que seria um nababo, / se eu me chamasse Drummond. / Mundo mundo vasto e bom, / com pernas, desejos, com / conhaques, luas, o diabo! / Mundo mundo vasto e bom, / sei que seria um nababo...”

Poemas / Versek é mais volumoso do que as duas publicações aqui citadas. É que se trata de edição bilíngue português/húngaro. As composições são da brasileira Alice Spíndola, traduzidas pela húngara Lívia Paulini, que vive em Belo Horizonte. As largas abas do volume estão preenchidas por análise de Lívia. Inicia-se com uma apresentação de Stella Leonardos. Para se ter uma ideia da poesia de Alice, eis alguns versos: “No meio da noite, configura / a fragrância das palavras mágicas. / Na chave da noite, a ternura, / pluma que verte enigmas” (“A chave”). E estes: “segura dentro da mão / este pingo de luar // segura no teu olhar / esta pitada de sonho / que está a passar / no encanto noturno / com claras faíscas / de Vulcano / no piscar dos olhos / de Vênus ou Afrodite / no fogo e intensidade de Eros / de Zeus finos fios / de ternura e de luz” (“Mitos”). A ausência de vírgulas dá aos versos um ritmo de agilidade, como se andássemos ou voássemos pelos espaços dos deuses.

Mais não ouso anotar, porém me sinto íntimo da poesia de Alice Spíndola, Napoleão Valadares e Maria de Fátima Maia, e consciente de cumprir meu dever de leitor e divulgador de literatura.