Translate

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A propósito de uma crônica (João Carlos Taveira)


(Couverture du programme pour la première de « L'Après-midi d'un faune » des Ballets Russes (chorégraphie de Nijinski) au théâtre du Châtelet à Paris, le 29 mai 1912. Dessin de Léon Bakst. © AKG-images)

 
Dileto amigo Nilto Maciel,

L'après-midi d'un faune (A tarde de um fauno) é um dos poemas mais famosos de Stéphane Mallarmé, escrito em 1865 e publicado onze anos depois, com ilustrações do pintor impressionista Edouard Manet (muito apreciado pelo saudoso José Hélder de Souza). O poema conta a história, em clima sensual, de um fauno que toca sua flauta nos bosques e fica excitado com a passagem de ninfas e náiades, mas tenta alcançá-las em vão. Então, cansado e triste, cai em um sono profundo e passa a sonhar com visões que o levam, afinal, a atingir os objetivos que não tinha alcançado dentro da realidade.

Amante nas entrelinhas (Tânia Du Bois)


Entrelinhas: a porta por onde o vento passa.
Quando olho para um livro sinto que ele também está me olhando. Passo a mão carinhosamente na capa e, ao abri-lo, leio o significado que o autor deu às palavras. Vejo cada cena desenhada com os movimentos das palavras.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A escrita da precisão (Dellano Rios)

(Diário do Nordeste, Caderno 3, Fortaleza, 30 de agosto de 2011)



Um dos principais nomes da arte do conto (numa terra fértil em contistas), Nilto Maciel lança seu novo livro, reunião de histórias inéditas, entre guardados e novas produções


Nascido em Baturité, o escritor Nilto Maciel é autor de uma obra que ganha intensidade com o tempo. Não que os feitos do passado sejam poucos. Ainda em 1977, ele organizou, com Glauco Mattoso, uma antologia do conto marginal "Queda de Braço". Contudo, ao invés de muitos veteranos que perdem o fôlego e se entregam ao ocaso de obras repetitivas, Maciel está disposto a arriscar-se, não só em contos e romances novos, mas no trabalho como blogueiro (em que divulga o trabalho de novos e velhos autores, não devidamente apreciados) e como antologista (vide a indispensável "Contistas do Ceará: D´A Quinzena ao Caos Portátil", de 2008).

Novos contos de Nilto Maciel

(Jornal O Povo / Vida & Arte, Fortaleza, Ceará, 30 de agosto de 2011)


LUZ VERMELHA QUE SE AZULA
O quê: Lançamento do novo livro do escritor Nilto Maciel
Quando: hoje, às 19h
Onde: Galeria do Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701)
Preço do livro: R$ 20
Outras info.: (85) 3452 9032

Considerado um dos escritores mais atuantes do cenário literário da Cidade, Nilto Maciel lança novo livro hoje no Sesc Emiliano Queiroz. Luz vermelha que se azula reúne contos inéditos do autor escritos nos últimos cinco anos, além de guardados que agora vêm a público. “O que eu tinha que escrever, eu já escrevi”, afirma Nilto Maciel, 66. O escritor cearense publicou duas dezenas de livros desde a estreia em 1974 com os contos de Itinerário. Mas, apesar da sua avaliação, Nilto não parece ter dado o serviço por acabado. Hoje, ele lança Luz vermelha que se azula, às 19 horas, no Sesc Emiliano Queiroz, em mais uma edição do projeto Bazar das Letras. Na ocasião, o autor será entrevistado pelo também escritor Roberto Vazconcelos e deve falar sobre sua experiência na década de 1970 com o jornal literário O Saco, dos 25 anos em que morou em Brasília e de sua produção mais recente.

Há quase 10 anos de volta a Fortaleza – retorno proporcionado pela aposentadoria do funcionalismo público –, Nilto é um dos escritores mais atuantes do cenário literário da Cidade. Escreve prefácios e orelhas, opina sobre originais e diz se corresponder diariamente com ao menos 20 pessoas diferentes. Seus dias são dedicados à sua escrita e à leitura de poemas, contos e romances enviados de todo o Brasil, ansiosos por críticas, geralmente publicadas no blog que edita (niltomaciel.blog.uol.com.br).

Nos momentos em que não está agarrado aos livros ou escrevendo no computador, pode ser encontrado em algum bar do Benfica, acompanhado dos amigos escritores Pedro Salgueiro e Raymundo Netto, e, mais raramente, no Clube do Bode (Flórida Bar) ou no Ideal Clube. Mas sempre mantendo certa independência. “Não gosto de participar de grupos, porque é uma ciumeira danada”, considera. Nas duas vezes nas quais foi convidado para integrar academias literárias, uma em Brasília (Academia de Letras do Brasil), outra por aqui (Academia de Letras e Artes do Nordeste), foi incluído à revelia no quadro dos acadêmicos

O livro Luz vermelha que se azula é o seu nono volume de contos. Vencedor do Prêmio Moreira Campos, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), reúne textos dos últimos cinco anos, escritos após o lançamento de A Leste da Morte (2006), afora alguns outros que estavam engavetados há pelo menos duas décadas e que agora vêm a público. Dividido em três partes, a obra tem seus textos distribuídos entre contos “acolhidos”, “lembrados” e “engendrados”.

Os primeiros, como explica o próprio autor no prefácio, contos “ditados pelo inconsciente”, inspirados em imagens que emergem na mente do escritor; em seguida, textos enredados nas memória da infância e adolescência de Nilto, escritos a partir de rememorações suas; por último, uma série de pequenos contos sobre personalidades históricas, tais como Charles Darwin, Nero, Papa Leão X, Hitler – estes deveriam integrar um único volume, mas são publicados agora depois de a primeira parte dos “perfis” ter sido publicada no livro Pescoço de girafa na poeira, em 1999.

“Escrevo e leio, é só o que eu faço hoje”, conta. Além da conclusão de Luz vermelha que se azula, ele revela estar trabalhando atualmente em outro livro de contos e em mais um romance. Não bastasse, está prevista a reedição de seu Os Guerreiros de Monte-Mor, romance histórico publicado em 1988 que traz no título o antigo nome de sua cidade natal, Baturité.

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA

Nilto Maciel é cearense de Baturité. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, criou, na década de 1970, ao lado de outros jovens escritores, a revista O Saco. É autor de vários títulos, recebendo diferentes prêmios.

BIBLIOGRAFIA
Itinerário (contos, 1974)
Tempos de Mula Preta (contos, 1981)
A Guerra da Donzela (novela, 1982)
Punhalzinho Cravado de Ódio (contos, 1986)
Estaca Zero (romance, 1987)
Os Guerreiros de Monte-Mor (romance, 1988)
O Cabra que Virou Bode (romance, 1991)
As Insolentes Patas do Cão (contos, 1991)
Os Varões de Palma (romance, 1994)
Navegador (poemas, 1996)
Babel (contos, 1997)
A Rosa Gótica (romance, 1997)
Vasto Abismo (novelas, 1998)
Pescoço de Girafa na Poeira (contos, 1999)
A Última Noite de Helena (romance, 2003)
Os Luzeiros do Mundo (romance, 2005)
Panorama do Conto Cearense (ensaio, 2005)
A Leste da Morte (contos, 2006)
Carnavalha (romance, 2007)
Contistas do Ceará: d’A Quizena ao Caos Portátil (ensaio, 2008)
Contos reunidos – volume I (2009)
Contos reunidos – volume II (2010)
/////

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Por causa da arrumação (Carlos Gildemar Pontes)

gilpoeta@yahoo.it

Hoje resolvi ler contos. Sobre a mesa ainda estava o livro recém chegado do Nilto Maciel. Tirei-o do envelope e li rapidamente a dedicatória. Abri metade de um sorriso e prometi a mim mesmo ler até o final do ano. Acontece que a moça da limpeza, por causa da arrumação, embaralhou os livros que recebo e colocou o Luz vermelha que se azula sobre os outros. Talvez eu tenha deixado para o final do ano, porque sou muito exigente com títulos dos livros e o Luz vermelha que se azula não me motivaram ou não me chamou atenção.

sábado, 27 de agosto de 2011

L'après-midi d'un faune (Nilto Maciel)



Hoje quero dedicar o dia a Ronaldo Werneck. Ou aos três livros que me enviou recentemente. Antes, porém, preciso contar uma história: Comprei um relógio, que, de hora em hora, me convoca para a vida. Um chato! Mas necessito dele como gato não pode prescindir da língua para se lamber e limpar. Não fosse ele, o relógio, coitado de mim!, estaria entrevado, torto, cego, só pele e osso. Pois quando me ponho a ler, escrever, ouvir música, ver filmes, documentários, entrevistas, perco a noção do tempo e deixo de me alimentar, tomar banho, beber água, suco, caminhar, cumprir obrigações mercantis, telefonar para minha irmã mais velha, cortar as unhas, podar a cara (resta um bigodinho ralo e branco). Não fosse ele, o relógio chinês que fala, eu estaria morto. Certamente apenas morto de corpo, pois minha alma está mais viva e atenta do que nunca. Porém, nem só da palavra vive o homem, mas também de pão.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Condomínio (Assis Coelho)



Abriu a janela e sentiu o clarão do sol ofuscar-lhe os olhos. A visão externa era o único privilégio daquele pequeno edifício velho com listas de rachaduras verticais e sinuosas que de repente se perdiam num emaranhado de formas indecifráveis. Era um quadro abstrato e sujo que contrastava com os edifícios de cores vivas e de formas arquitetônicas arrojadas e simétricas da vizinhança.

Dostoievski e os pobres de São Petersburgo (Adelto Gonçalves*)



I
SÃO PETERSBURGO – Ao contrário do que ocorre com quem tenta reconstruir, ao menos na imaginação, o Rio de Janeiro oitocentista de Machado de Assis (1839-1908), do qual quase nada resta, quem vai em busca da São Petersburgo de Fiodor Dostoievski (1821-1881) acaba por encontrar muitos prédios e logradouros que lá estão desde os tempos em que o escritor russo perambulava por lá com seu chapéu negro de feltro nos dias de inverno. Quem chegou a São Petersburgo neste verão de 2011, com um pouco de sorte, pôde participar do Dia de Dostoievski, a dia 2 de julho, que foi comemorado pela segunda vez.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cinco livros novos (Nilto Maciel)




Minhas mesas estão repletas de livros novos. Não consigo ler todos, por falta de tempo. Não, não é bem assim. Retifico a informação: não consigo ler tudo. De muitos, leio algumas páginas. De poucos, leio todas. Hoje darei notícia de cinco dessas publicações. Os autores são Alan Mendonça, Carlos Herculano Lopes, Edna Rezende, Ludmila Maurer e Waldy Sombra. Que me desculpem a mistura. Poemas com narrativas, estudos com biografias, homens com mulheres, jovens com idosos, dois cearenses com dois mineiros e uma paulista. Assim é o Brasil.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Dominus Mortis (Mariano Shifman*)

(Tradução: Ronaldo Cagiano)

(Alexandre Cabanel, Anjo Caído - 1868)

 
Será Deus por uns centavos
ou por um cego erro que o precede.
Seu raio fulminará trigais
que ninguém transformará em pão.
Não o roerão os dentes da culpa,
hiena que dormirá em segurança.
Não o destruirão fomes repentinas
senão um eterno remorso
que agora acalma a fruída palidez do fim.

Porque pode
será o anjo caído que preceda a Deus.
_______
*Nasceu em Lamas de Zamora (1969), onde vive. Formado em Direito, tem publicações em diversas antologias e revistas literárias. É autor de “Punto Rojo” (De Los Cuatro Vientos Editorial, 2005), que obteve o 1º lugar no XI Certame Nacional de Poesia e Narrativa; e “Material de interiores” (2010).
/////

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Nilto Maciel: Epistolário hoje: emails, blogs


Sob a coordenação do Acadêmico Alberto da Costa e Silva, a Academia Brasileira de Letras promoverá o 9º Ciclo de Conferências : “Cartas de Escritores”. O ciclo compõe-se de quatro conferências, às terças-feiras, dias 18 e 25 de outubro, 1ºe 8 de novembro no Teatro R. Magalhães Jr. Haverá transmissão ao vivo pelo portal da Academia: www.academia.org.br.

18/10 - Acadêmico Sergio Paulo Rouanet: "Correspondência de Machado de Assis"
25/10 - Marco Antonio de Moraes: "Mario de Andrade: cartas"
01/11 - Nadia Battela Gotlieb: "Correspondência de Clarice Lispector"
08/11 - Nilto Maciel: "Epistolário hoje: emails, blogs"

O Teatro Raimundo Magalhães Junior, patrocinado pela Petrobrás e estabelecido no prédio da Academia Brasileira de Letras, é um espaço de médio porte, aconchegante e confortável. É uma justa homenagem ao imortal cearense, jornalista, biógrafo e teatrólogo, eleito em 1956 para a cadeira nº 34 na sucessão de D. Aquino Corrêa. O Espaço apresenta além de peças teatrais, espetáculos de MPB muito concorridos.

Teatro Raimundo Magalhães Junior
Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo
Rio de Janeiro, RJ 20030-021
/////

domingo, 21 de agosto de 2011

A viagem fantástica (Aíla Sampaio)

(Extraído do blog Literatura Cearense – Profa. Aíla Sampaio, http://litecearense.blogspot.com)


Escrever é uma arte e, como toda arte, requer perícia. No caso da literatura, pode-se dizer que o texto é ‘tecido’ pela arte de engolir e ‘desengolir’ palavras, numa atitude consciente da criação. Lourdinha Leite Barbosa, em seu livro de contos “A arte de engolir palavras” já anuncia esse processo a partir do título da obra, que Vicência Jaguaribe bem marcou como uma reflexão metalingüística. O conto homônimo é uma metáfora desse exercício, sem dúvida.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Malindrânia de Adriano Espínola (Nilto Maciel)


Falaram-me de um livro de contos de Adriano Espínola. E ainda disseram, maldosamente: “Todo mundo agora quer ser contista”. Ora, inúmeros grandes poetas também são bons contistas ou romancistas. Até duvido da grandeza de escritor que não seja poeta. Escritor de prosa (ficção ou não) alheio à poesia não passa de contador de histórias ou cronista de fatos e festas. Depois li umas resenhas de Malindrânia (Rio de Janeiro: Topbooks, 2009). A de Aíla Sampaio me deixou perplexo. O que é natural. Intitula-se “Malindrânia: relatos urbanos entre o surrealismo e o fantástico”. Não se trata de resenha, mas de estudo, porque a autora de Os fantásticos mistérios de Lygia (um dos mais fascinantes mergulhos na obra de Lygia Fagundes Teles) não se contenta com passeios à beira do mar: afunda-se nos sete mares e, mais saltos n’água daria, fossem mais fundos os oceanos. Li também o artigo “A perseguição do inatingível”, de Ildásio Tavares – outro poeta (baiano) saboroso –, publicado no caderno Ideias do Jornal do Brasil, de 20/2/2010, pouco antes de seu falecimento (31/10/2010).

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Anônimos e famosos (Adelto Gonçalves*)


I
Não há quem não aspire à celebridade, ainda que instantânea, os famosos quinze minutos de fama a que todos, um dia, teriam direito, na igualmente célebre previsão de Andy Warhol (1928-1987) da década de 1960. Até mesmo aqueles homens célebres que anunciam aos quatro cantos do mundo que não mais recebem a imprensa, pois o que mais prezam na vida é viver em reclusão, longe dos olhos da multidão, no fundo, o que querem é chamar a atenção de todos. Ou será que não era exatamente isso o que pretendia o famoso J. D. Salinger (1919-2010)? Ou a bela Ava Gardner (1922-1990), que passou o seu último ano de vida reclusa num apartamento em Londres?

Pedra Itabirana (Inocêncio de Melo Filho)


Há uma pedra no meio do caminho
O poeta guarda-a sisudo
No bolso do jeans
Contempla o caminho inteiro
E se vai sem medo dos tropeços.
/////

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Uma Luz Vermelha no Bazar (Pedro Salgueiro)


Há mais de três anos um programa de entrevistas e lançamentos de livros (idealizado pelo grupo de leitura “Abraço Literário” e executado pelo escritor Carlos Vazconcelos) vem mapeando os escritores cearenses com uma competência extraordinária. Todas as últimas terças-feiras de cada mês na Galeria do Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701) um jovem poeta, uma escritora já consagrada, um teatrólogo de valor, um estudioso da literatura, estará sendo minuciosamente entrevistado pelo competente mediador.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Floriano Martins entre botocudos e astecas (Nilto Maciel)


(Floriano Martins)

Não me lembro da primeira vez que vi Floriano Martins. Deve ter sido em 1975 ou 76, naqueles dias de inquietação que precederam o surgimento da revista O Saco. Ele contava apenas 19 anos, andava com uns cadernos de poemas, roupas e chinelas de hippie. Interessava-se por poesia, mas também por música e teatro. É desse tempo seu primeiro livro, em parceria com Alano de Freitas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Conceição Piló* (Teresinka Pereira)

2 de julho, 2011

(Conceição Piló)

 
A linguagem das coisas,
a visão do universo real,
os pequenos milagres
perdem-se no paralelo da lírica
por audacioso e encantado.


Não posso dizer que partiste ao mais além
porque dentro de meu pensamento estás,
Conceição, companheira de sempre.
Quem sabe se é que minha voz
fala com a tua para estabelecer
um sem-limite entre nós e o paraíso da paz
onde se colocou tua valiosa presença?
Agora compreendo por que
há mais estrelas no céu
e por quem elas brilham tanto!


Até sempre, Conceição Piló:
sempre me entendeste!

_________
*A Dra. Conceição Piló, IWA, nascida a 7 de setembro, 1927, foi poeta, artista, curadora do Palácio da Liberdade em Belo Horizonte.
/////

Ofício (Emanuel Medeiros Vieira)



Mal rompe a aurora:
papel, lápis afiado, borracha.
Nada muda nada?
Continuas: sempre.
A palavra.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Domingo (Silmar Bohrer)


Abro os olhos pro infinito
nesta manhã domingueira
e um azul imenso, bonito,
vai me enchendo a algibeira.


Seguem nuvens desgarradas
pelos caminhos do céu,
clarinhas, ventanejadas,
silentes, solúveis, ao léu.


Tarde imensa agostinha,
céu azul do pensamento
com alguma rima minha.


A fímbria celeste azul
e os versos soltos ao vento
cá pras bandas do meu sul.
/////

domingo, 14 de agosto de 2011

Renato Tardivo e o avesso da moda (Nilto Maciel)




Acordei cedo hoje e nem me lembrei de que se comemora o dia dos pais. Após o café da manhã, vistoriei o escritório: o que fazer neste domingo? Numa estante, a placa que em Limoeiro do Norte me entregaram Eugênio Leandro, Raymundo Netto, Gylmar Chaves e outros escritores. Aconteceu naquela bonita cidade do Ceará a I Feira do Livro, iniciada dia 11. Deixei a homenagem de lado e amaciei a lombada de doze livros que me esperam para leitura ou comentário. Fechei os olhos e apontei o dedo indicador para um deles: Será este o escolhido para ser devorado hoje. Abri-os e vi o dedão duro apontado para o pequeno Do avesso (São Paulo: Com-Arte, 2010), de Renato Tardivo. Há dias o namoro (o livro), com lambidas nas orelhas e afagos em suas partes íntimas. Pleno de erotismo, levei-o nos braços até o sofá da sala e me pus a admirá-lo.

Um convite aos frascos e comprimidos (Renato Tardivo*)

















Márcio Almeida, escritor, jornalista e professor universitário, publicou recentemente A minificção do Brasil: em defesa dos fracos & dos comprimidos (Edição do autor, 2010).

O livro é uma coletânea de ensaios que, como já diz o subtítulo, sai em “defesa dos frascos e dos comprimidos”. Temos, nesta obra, o retrato de um acurado trabalho de pesquisa e leitura crítica, que visa apontar os mecanismos pelos quais autores relevantes são deixados de lado.

sábado, 13 de agosto de 2011

Engenheiro (Pedro Salgueiro)

O engenheiro sonha coisas claras.
João Cabral de Melo Neto



Construiu em três dias o dormitório em que Agripino, pai de Amadeus, passaria os últimos seis meses de sua vida — ventilação perfeita, claridade regular, paredes finas apoiadas em chão áspero.

Penso... (Clauder Arcanjo)


Na dor dos solitários
Na paixão dos privados
Na ânsia dos aflitos
Na saudade dos mutilados...
Serei eu um fingidor?


Mossoró-RN, 13/08/2011
/////

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Coisas Engraçadas de Não se Rir IX: Amadamante (Raymundo Netto*)


(Proibido dominar)

Nem sei como ainda existem homens que conseguem manter relacionamento amoroso, ao mesmo tempo, com duas mulheres. Eu, que tenho apenas 2 pen-drives, já desorganizei de todo a minha vida!

No jardim de Beatriz (Nilto Maciel)


Acompanho a trajetória literária de Beatriz Alcântara desde os seus primeiros passos (ou os segundos, posto que em 1973 eu não a conhecia ainda e é daquele ano o ensaio La revolte positive de Simone de Beauvoir). Agora, que estamos maduros e preparados para a colheita, somos surpreendidos pelo Anjo, em pleno delito de escrever. E Ele não nos expulsa do Jardim, e nos acolhe, nos afaga, nos chama de crianças. Assim estava eu a matutar, tão absorto quanto um inseto a mirar flores, quando um livrinho colorido pousou diante de meus olhos: O jardim foi-se (Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010), de Beatriz Alcântara. Pus-me a lê-lo, desde a capa: Minicontos, microcontos, intervenções urbanas. O papel couché me entusiasmou mais. Tossi, feito gato engasgado. Passei à apresentação, escrita por Linhares Filho. Para o poeta e ensaísta, o novo livro de Beatriz “prende o leitor” (talvez entre galhos verdes, rosas multicoloridas e armas (foices) escondidas,) “pela estrutura inovadora, pela síntese, pela atitude sugestiva, pela integração no tempo atual, por uma espécie de denúncia dos males da existência”. E mastiga, para nós leitores, todos os signos verbais da contista, desde o título: “Entendo que o título O Jardim Foi-se refere-se ao jardim paradisíaco, perdido de modo irremediável pelo homem, implicando isso toda sorte de sofrimento, contratempo e malefício, a ser enfrentada existencialmente pela humanidade, que assiste ao evadir-se daquele lugar de delícias e, com isso, ao ir-se do estado de inocência junto ao gozo da felicidade humana”.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Navalha na carne de Carnavalha (W. J. Solha)


Enquanto lia o romance Carnavalha, de Nilto Maciel (Ed. Bestiário, 2007), lembrava-me de muitos livros e filmes. A impressão frequente de que a obra do cearense é uma série de contos amarrados pela unidade de tempo e lugar, encaminhou-me ao Decameron de Bocáccio, com sua centúria de histórias. E veja isto:
Os gatos, cada vez mais numerosos, pareciam milhares. E miavam sem parar, garras e dentes à mostra. A mulher abria a porta da rua: “Vamos fugir, Juarez. A casa fica para eles”. (páginas 94/95)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Doação de livros



A biblioteca pública da cidade mineira de Cataguases, agora em nova e ampla sede, no esforço para ampliar seu acervo, está aceitando doação de livros de autores e simpatizantes da causa da leitura, contribuindo assim para incrementar a oferta de títulos para os frequentadores.
Os interessados poderão encaminhar um ou mais exemplares para:
Biblioteca Ascânio Lopes – Praça Governador Valadares, 176 – Chácara Dona Catarina
CEP 36770.071
CATAGUASES - MG
///// 

Eco no Labirinto (Carlos Roberto Vazconcelos)



Inicia-se o ano de 2006. Surpreendo-me lendo o romance O Nome da Rosa, do italiano Umberto Eco, num momento em que só aumenta, nas livrarias e bibliotecas, a procissão em busca do Código da Vinci, de Dan Brown.

Às vezes ando mesmo na contramão. E tenho manias muito pessoais: visitar cemitério em dias comuns, que não o de finados; preferir os templos vazios às missas ou cultos; cascavilhar nas locadoras de vídeo não os novos lançamentos, mas os eternos clássicos... Ler o Eco, em vez do Brown?

domingo, 7 de agosto de 2011

Sobre histórias e abismos (Eduardo Sabino*)




O realismo como padrão de nivelamento na narrativa

A seção de literatura nacional de uma livraria – aquela a que chegamos após atravessarmos labirintos quase borginianos de autoajuda, não ficção, best sellers, vampirinhos e criaturas afins – apresenta, em geral, o triunfo do realismo urbano. São narrativas que se alimentam de uma estrutura inaugurada por Flaubert e Balzac ainda no século XIX. A prosa realista se caracteriza, principalmente, pelo culto aos detalhes, dinâmicos e estáticos, da realidade nos arredores do olhar autoral.

Falando português na Rússia (Adelto Gonçalves*)


Trabalho do Centro Lusófono Camões, de São Petersburgo, é muito importante na difusão da Língua Portuguesa



SÃO PETERSBURGO – O que leva um jovem russo a procurar aprender o idioma português? Para Diana Shpilevskaya, 22 anos, tudo começou em 2005, quando foi a Inglaterra aperfeiçoar o seu inglês. “Estudei numa cidade pequena chamada Exeter e meu curso durou duas semanas num grupo de 12 pessoas, das quais oito eram do Brasil”, diz. “Lá, pela primeira vez, ouvi a língua portuguesa na vida real e a achei tão bonita que, ao voltar para a Rússia, comecei a estudá-la sozinha”, conta. “Assim, aqueles oito estudantes brasileiros mudaram a minha vida sem que soubessem disso", acrescenta Diana, que é graduada pela Faculdade de Letras Estrangeiras da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, e sonha fazer mestrado na Universidade de São Paulo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Poemas (Kelson Oliveira*)

Para comover borboletas






PONTUALIDADE

Um dia aquele homem ia ser ele mesmo
mas se atrasou para a cerimônia.



TESOURO


De vez em quando me soltam
numa floresta de cataventos.
Volto montado sobre uma metáfora.
Os cataventos bem sabem
onde as vozes esconderam
seus tesouros poéticos.



NOITE COM BORBOLETAS


Sentei à mesa com borboletas azuis e amarelas.
Garrafas de pólen e paisagens
se estenderam em nossas bocas.
Nos embriagamos
como flores se embriagam à luz solar.
Durante a madrugada escrevi
cem poemas para comovê-las.
Deu perfeito!
De manhãzinha o universo acordou sem roupa:
borboletas são as cores a se amar.


________________________________
*Kelson Oliveira é cearense de Limoeiro do Norte, onde cresceu à beira do Rio Jaguaribe. Historiador e antrópólogo, é autor de Quando as letras têm a cor dos sonhos e do estudo antropológico sobre magia Os trabalhos de amor e outras mandingas. Os três poemas acima constam de Para comover borboletas, Editora 7 Letras, 2010.

Geraldo Lima, catador de pedrinhas de brilhante (Nilto Maciel)




Tesselário (Editora Multifoco: Rio de Janeiro, 2011) é um livro pequeno, de cerca de 70 páginas. Contos curtinhos, a maioria de menos de uma página. E tem uma divisão muito interessante: duas partes ( a primeira, intitulada “Tesselas”, composta de 34 – XXXIV – peças, numeradas (algarismos romanos); a segunda, denominada “Breu”, com 33 microtextos, em letras brancas sobre fundo preto.)

Duas faces da maldade (Ronaldo Monte)





Foi num mesmo dia da semana passada. Em dois canais diferentes de televisão. Primeiro, passou um documentário sobre a ablação do clitóris, ainda praticada em 28 países africanos. Depois, foi uma reportagem sobre os maus-tratos sofridos pelas pacientes da Maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ter (Pedro Du Bois)


(Desenho de Picasso)

Tê-la ao meu lado
ter-me prisioneiro
tê-la como consolo
ter-me desconsolado
tê-la entre tantas
ter-me sozinho
tê-la no anoitecer
ter-me na escuridão
tê-la no que inicia
ter-me sem origem
tê-la como estrela
ter-me sob as nuvens
tê-la no esplendor do vento
ter-me como calmaria
tê-la na amplidão do horizonte
ter-me em linha traçada.
/////

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Conversa de Nilto Maciel com João Carlos Taveira

(Nilto, Taveira e o editor Victor Alegria, em Brasília)


Muitas vezes estive com Taveira, em Brasília. Desde os primeiros tempos de minha chegada ao Planalto Central. No entanto, nunca o entrevistei. Ele, sim, me entrevistou. É que não me passava pela cabeça me fazer entrevistador. Depois, ao tempo da revista Literatura (na sua fase derradeira), resolvi fazer perguntas a escritores. Chegado o tempo do blog, esse defeito moral (o de meter-se na vida alheia) se apossou definitivamente de mim e tenho feito perguntas cada vez mais indiscretas a meus amigos. E assim chegou a vez de João Carlos Taveira (cuja biografia aparece ao final desta conversa), que não deixou de dar resposta a nenhuma das perguntas que lhe enviei por correio eletrônico, em junho de 2011.



A entrevista

Nilto Maciel – Você acredita em amizade?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Estudantes podem e devem ser poetas (Marco Aqueiva)


As palavras não fazem o homem compreender,
É preciso fazer-se homem para entender as palavras.
Herberto HELDER


Não somos aquilo que fizeram de nós,
mas o que fazemos com o que fizeram de nós.
Jean-Paul SARTRE

Poetas são pessoas que podem, ainda,
ver o mundo através dos olhos da criança.
Alphonse DAUDET

i

Todo ser humano que acende as luzes para ouvir o som correndo nas ruas avenidas praças atravessando montanhas e desertos. Todo ser humano que traz nos olhos ângulos lâminas tons afiados capazes de interrogar as tantas vozes do mundo. Todo ser humano que chega dando voz a todas as coisas dentro de camadas de névoa e escuridão.

Encaixes (Carmen Silvia Presotto)


Vitraux
amacio as feridas


Convexo
mato todas as pegadas
visto-me de carinho
para meu sangue
tampo o vento com bandeides.
/////

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Relato secreto de Claudia Prócula* (Ciléa Dourado)



A finales de los 60 Waldemar Jose Solha escribe “La Verdadera Historia de Jesús”, un relato que contenía una teoría sorprendentemente plausible, y se lo envía a diversos representantes de los estamentos sociales, políticos, escritores, intelectuales. De ninguno recibió respuesta. Envió el relato al entonces Arzobispo de Paraíba, Don José Maria Pires, y de él si recibió una contestación concisa y sintética: “Usted me ha probado que lo que hasta entonces consideraba un tesoro, no pasa de un arcón lleno de latón pintado de amarillo”.

Se for costume... (Clauder Arcanjo)



(Thé de l'Après-Midi, Louise Abbéma)
 
Se for costume o acalanto da solidão,
Acostumado me encontro.
Se for costume o assanhado da pulsão,
Acostumado me encontrei.
E, se for costume (costume de não ter jeito),
O malsinado gosto pela vã ilusão...
Acostumado sempre; eu me (re)encontrarei.

Macaé-RJ, 30/07/2011
/////

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fernando Siqueira Pinheiro, tatuador de palavras (Nilto Maciel)

(Fernando Siqueira Pinheiro)

No finalzinho de junho deste ano, recebi visita de Pedro Salgueiro e Fernando Siqueira Pinheiro. Encontraram-me a ler Astrid Cabral. Deixei-a sobre a mesa e me voltei para eles. Passamos a conversar sobre nós mesmos, livros e algumas banalidades. O segundo queria ganhar dois livros meus (disse o primeiro, sem cerimônia): os contos reunidos. Dei-lhos, além de cerveja e queijo. Satisfeito, ofereceu-me também dois volumes: O tatuador de palavras e Ao lado do morto, ambos dele. Aquele saiu vencedor do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura 2005. Tem boa aparência, de capa a capa, que são de Geraldo Jesuíno, também autor do projeto gráfico. Ilustrações de Nearco Araújo. O outro, também de contos, crônicas e crontos (termo que usei – e outros o usaram, certamente – e agora usa Pedro Henrique Saraiva Leão), se coroou com o Prêmio Literatura Unifor, 2007. É também produto da arte gráfica de Jesuíno. Um recebeu a chancela das Edições Poetaria e Expressão Gráfica e Editora, 2006. Outro, das Edições UNIFOR, 2008. As duas, de Fortaleza, Ceará, Brasil.

Tu (Carlos Nóbrega)



Pensas serem idênticas as estrelas
e as ondas do mar iguais, tu pensas
Uma só tu vês as chamas mil da vela:
É que a distância iguala as diferenças


Pensas uniformes esses grãos de areia
e de montanhas gêmeas a cordilheira imensa
Pensas nada teres com as questões alheias -
É que tu não sentes, tu só vês e pensas.
/////