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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Tempo (Emanuel Medeiros Vieira)

(E os 15 minutos de fama)


“Um homem sensato acreditará que é mais importante o que o destino lhe concedeu do que o que ele lhe negou”. (Baltasar Gracian)

Vivemos num tempo de enorme velocidade e de escassa concentração. Tudo parece descartável, como as engenhocas eletrônicas que tantos amam. Pois se você não tem uma vida interior profunda, vai buscar no “exterior” o que não consegue dentro de si. Tem medo de sua própria interioridade. Buscará o que não tem de si, “saindo de si mesmo”, em festas e baladas contínuas, em drogas de todas as espécies. Não digo nada de novo? Eu sei. Parece platitude sentimental? Paciência. É o chamado mecanismo de alienação (no conceito usado por Marx). “Transfiro” para a vida dos outros (celebridades, cantores famosos) a minha própria vida. Renuncio a ela. Cristo se recolheu no deserto para pensar.  Buda também. E, apesar de todo o maquinário, poucas vezes as pessoas pareceram tão solitárias e tão pouco solidárias. É preciso começar lá de baixo. É necessário educar nossos filhos desde cedo. Não há milagre. É trabalho lento, paciente, difícil. Que não cessa. Mas as pessoas preferem os tais 15 minutos de fama. E depois? O que resta? As meninas querem ser modelos, garotas do “Fantástico”; e os garotos, jogadores de futebol.

É importante que nos fixemos em outro tipo de “tempo” (que fica internalizado através da memória). Um tempo que deixe para os jovens o que Italo Calvino deixou escrito sobre essa “rapidez” deste milênio: O tempo que importa é esse: “O tempo que flui sem outro intento que o de deixar as ideias e sentimentos se sedimentarem, amadurecerem, libertarem-se de toda a impaciência e de toda contingência efêmera.”

(Salvador, outubro de 2011)
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