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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Prólogo (Tagore Biram)



(Tagore Biram)


Transcrevo o bilhete (espécie de apresentação do poema de Tagore Biram) que me enviou meu amigo Valdivino Braz. Em seguida, o poema. "Bom dia, amigo Nilto. O poema anexo abre o premiado livro "O anjo desafinado", do goiano Tagore Biram, morto no Chile em 1998. Visitou Moscou em 1985, onde participou de um festival da juventude, e este poema foi publicado lá, em russo, por um jornal de escritores. Consta que Tagore declamou poemas seus no evento e na presença do poeta Eugene Ievtuchenko, que o teria aplaudido efusivamente e gritado: Bravo! Abraço. Braz"

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(O poema)
Chegou a hora de incendiar as palavras
e atiçar fogo na noite escura.
Ah, erga-se o facho das estrelas
nesta noite de puro abril:
quero a luz derramada
sobre a chaga do meu peito
e a sangria de minhas mãos à mostra.
E que não me venham dizer que não é tempo
de falar de flores e que
passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei ainda
de amar com meu amor desesperado.
(Mesmo não havendo intervalo
no calendário de minhas dores).
Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,
eu viro as costas e não me importo
e abro as portas dos meus tumores.
Tudo que habita na retina do meu olhar
são os passos largos do barco fundo
no mar imenso do procurar.
Esta noite, sob o manto das estrelas,
erguerei o incêndio das palavras!
Venham todos assistir ao grande espetáculo:
não vês, na vidraça dos meus olhos,
uma colmeia de abelhas? Uma centelha
desesperada, debulhando raios de luz?
Eis o prenúncio de um grande acontecimento.
(Não haverá gozo nem sofrimento,
mas a explosão da lucidez de um louco).
Venham todos! Vou incendiar o mundo
com um só dos meus olhares.
(Eu mesmo sou uma aldeia
e o meu coração pode matar a sede
de todos os mares).
Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:
abram as comportas do mundo.
Façam silêncio por um segundo:
aqui existe um homem incendiado de amor
e um coração que vai saltar pela janela do peito!


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