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sábado, 31 de março de 2012

Tempo (Emanuel Medeiros Vieira)


 
“O mal não está em que a vida promete largo e dá estreito: o mal é que ela sempre dá e depois tira.” (Juan Carlos Onetti)

“Me colocaram no tempo, me puseram
uma alma viva e um corpo desconjuntado.
Estou
limitado ao norte pelos sentidos, ao sul
pelo medo,
a leste pelo Apostolo São Paulo, a oeste pela linha educação.” (...)
(Murilo Mendes)

O Tempo não roerá o verso da minha boca, reivindica a poeta. Crônica? Não sei. Mas é sobre essa “brevidade infinita”, que chamamos de tempo, que eu gostaria de meditar. Os mais radicais dizem que o tempo não existe. Mas ele está aqui, nos meus calcanhares, no domingo à tarde –, outro que se esvai, assim, sempre. Ou o tempo é uma ilusão? Não, não é a busca da notoriedade efêmera, o que queremos com a literatura. (Refiro-me àqueles que sabem que seu ofício é mais que marketing.) Nem aspiramos prebendas. A pergunta de sempre: por que escrevemos? Ou melhor: por que continuamos? Poucos parecem se interessar pela palavra. A imagem prevaleceu. E a internet acelera a comunicação. Não a aprofunda. Mas é preciso persistir e continuar acreditando na permanência da literatura. Sabemos – com Freud – que podemos reconhecer apenas um pequeno fragmento dos nossos ímpetos, e um fragmento ainda menor dos ímpetos de outras pessoas. Desistiremos por essa razão? Da subjetividade que nos exila e da objetividade que nos esmaga? Ainda mais num mundo em que todo parece se “derreter”, em que tudo é descartável, em que nada parece perdurar. Como observou Milan Kundera, a ideia do eterno retorno designa uma perspectiva na qual as coisas não parecem ser como nós as conhecemos: elas nos aparecem sem a circunstância atenuante de sua fugacidade. E tudo é fugaz. Alguém disse que a morte sempre vence, porque tem mais tempo. E escrever é também uma busca de transfiguração. Transfigurar para eternizar. É isso o que importa. Não a doentia busca de notoriedade ou fama que, no mundo em que vivemos, todos parecem querer conquistar a qualquer custo. Mesmo que se venda a própria alma. O fundamental é manter-se fiel a si mesmo. Não é fácil. Mas só assim preservamos a nossa essência e os nossos valores. “Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz”, observa Kundera. Por isso, Nietzsche afirmava que a ideia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos. Como criadores, em nossas narrativas, buscamos criar uma teia de sentido, num mundo que parece ter se desencontrado do núcleo do humano. Perdemos o eixo na chamada pós-modernidade? Na hegemonia do fragmento, é preciso buscar um caminho que reconcilie SER E DESTINO.

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