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quinta-feira, 24 de maio de 2012

O cerrado vive em mim, de Emerson Vaz Borges (João Carlos Taveira*)



A poesia de Emerson Vaz Borges, pelo cenário que descortina e pelos temas que apresenta, pode lembrar em uma primeira leitura o universo do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Depois, entretanto, o leitor é conduzido para outras paragens menos minimalistas. Emerson procura contato com paisagens e personagens de um mundo em expansão, enquanto Manoel de Barros se detém num terreno típico de ciscos e gravetos — microuniverso que o olhar humano, muita vez, não alcança. São ambos poetas do Centro-Oeste brasileiro, mas com suas temáticas distintas e equidistantes no reino das palavras.
Emerson Vaz Borges canta a fauna e a flora do cerrado, com seus verbos nervosos e inquietos, regidos por preocupação ambiental e movidos unicamente por instinto de defesa. E assim, seu livro O cerrado vive em mim percorre, adverso à contenção da forma, os caminhos de uma eloquência verbal muito próxima da crônica de costumes. São árvores, flores, frutos, rios, lagos, pássaros, insetos a testemunhar a evolução do homem — da infância até a idade adulta — pelos caminhos da natureza, em perfeita sintonia com o ambiente em que foi criado.

Neste livro, meio arqueológico, meio documental, perpassa também a visão saudosista de quem sabe dos alvoroços surgidos na sociedade contemporânea com relação às políticas de preservação das florestas em nosso país. Suas mensagens procuram, todavia, o registro do que é belo e necessário à perpetuação das espécies no planeta. Por esse ângulo, é um canto de louvor ao homem simples da região e ao habitat natural de outros seres, que também veem ameaçadas sua casa, sua vida, sua sobrevivência.

Escritos em versos livres, com rimas consoantes e toantes, os poemas que compõem esta coletânea trazem, junto ao título, em latim, o nome científico de cada espécie referida (vegetal ou animal) e, ao pé da página, um verbete dos significados etimológicos de cada termo. O poeta compete, assim, com o notável botânico Pio Corrêa, em seu magistral Dicionário de Plantas Úteis do Brasil. Trata-se de um trabalho minucioso, de importância literária e ambiental, que há de enriquecer a leitura em diversos níveis de abordagem.
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• João Carlos Taveira é poeta e crítico literário, autor de vários livros publicados, entre os quais Na concha das palavras azuis e Aceitação do branco (Poesia: Thesaurus Editora) e A arquitetura verbal de Nilto Maciel (Fortuna crítica: Editora Imprece).
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