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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Meditações sobre a vida atual (Emanuel Medeiros Vieira)




É sempre bom defender as garantias alheias. Nunca se sabe se um dia precisaremos de alguém que defenda as nossas.

1) MULHERES

Não pretendo fazer uma reflexão sociológica. Queria refletir – mesmo superficialmente – sobre o reinado da aparência, que é soberano no mundo de hoje. Trago o exemplo de muitas mulheres. Vivemos o mito da juventude eterna, com botoxs, plásticas e tudo o que possa deter o tempo.

Como já foi observado, muitas mulheres, inclusive as mais jovens, não usam biquínis ou shorts porque sentem vergonha das celulites e estrias. “Deixam de ir à praia, festas e até de trabalhar quando se sentem gordas e feias. Só fazem sexo de luz apagada. Colocam uma lente de aumento nas imperfeições e são cegas para todo o resto.” Perdoem a platitude: e o reino do Ser e a Essência– aquilo que vale mesmo? A Morada do Ser? Isso não mais importa. Não? Algumas estão viciadas em cirurgias plásticas, botoxs, preenchimentos. Outras passam a vida inteira reféns de regimes malucos. Por quê? Isso gera um enorme sofrimento. Obcecadas com a aparência, elas têm pânico de envelhecer. Creio que a mídia e o velho capitalismo têm culpa nessa história de negação de valores e hegemonia das aparências. Nas adolescentes, já predomina a precoce erotização. Estamos à beira do precipício, brincando no epicentro de um vulcão.

2) CELULARES

Você está num cinema e toca o celular de alguém e o sujeito fica conversando como se estivesse em casa. Há algo mais irritante? (Sim, o desprezo pela vida humana, a corrupção, a traição de valores, mas são outros assuntos.) Não dá para negar que o celular é útil, mas – como alguém detectou – a própria utilidade é angustiante. O celular reduziu as pessoas a apenas extremos opostos de uma conexão, “pontos soltos no ar, sem contacto com o chão”. Onde você se encontra tornou-se irrelevante, o que significa que em breve ninguém mais vai se encontrar. Exagero? E a palavra “incomunicável” perdeu o sentido. Estar longe de qualquer telefone não é mais um sonho realizável de sossego e privacidade – o telefone foi atrás. Essa idolatria não é uma negação do verdadeiro diálogo?

(Salvador, setembro de 2012)

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