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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Retorno (Silmar Bohrer)

E cantaram mui contentes
quando viram minha chegada
os joões-de-barro presentes
ao coro da passarada.


domingo, 29 de abril de 2012

Visão (Inocêncio de Melo Filho)

Para Irene Neres


Tu passas por mim
E não me vês
Fico a olhar seu cabelos soltos
Que se alongam nas suas costas
Fazendo-me visualizar
A menina que foste
Na mulher que és.

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sábado, 28 de abril de 2012

Café (Carlos Nóbrega)



Ajeitei a minha alma dentro da blusa, e fui.
A rua era comprida como a chuva fininha que caía
e que cai na eternidade.
Na birosca pedi um café
e me engasguei elaborando uma frase.
Quem, daqui a cem anos,
viverá
como eu
esta tarde?
 
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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Breves comentários sobre “Marco do Mundo”



Sergio Lucena:
Meu caro W. J. Solha. Acredite-me, pois não tenho dúvida: o Marco do Mundo é um marco literário. Acabo de fechar o livro, que li de um único golpe, não posso imaginar outra forma de ler este texto, estou tonto. Quando me recuperar vou ler novamente e te escrevo mais a vagar.

“Brevidades” (Tânia Du Bois)



Brevidades é o novo livro de poemas de Pedro Du Bois, lançado através do Projeto Passo Fundo, que tem por criador e administrador Ernesto Zanette. A obra traz a apresentação do poeta Jorge Tufic; “orelha” do historiador e poeta Paulo Monteiro; capa da artista plástica Silvana Oliveira.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Quero Bromil (Ronaldo Monte)




É o xarope dos poetas. Foi Olavo Bilac quem o chamou de “amigo do peito”. Depois, Bastos Tigre escreveu As Bromilíadas, uma paródia de “Os Lusíadas”, em métrica e sistema de rimas semelhantes aos de Camões. O próprio dono do laboratório era poeta. Como poeta, mesmo dos menores, tenho o direito de tomar Bromil.

Quando o Amor é de Graça XIII: À Semelhança de Barcos (Raymundo Netto)


(Pintura a óleo sobre madeira, por Otacílio de Azevedo)


Em 15 de abril de 2012, completa-se 100 anos do naufrágio do “Titanic”, o famoso navio que diziam, na época, “nem Deus conseguiria afundar”.

Fato: Deus deve ter coisa mais importante a fazer do que assistir a passeio de barquinhos nessa coxia (leia-se “oceano”) de subdesenvolvido planetóide. Nem não precisaria conferir qualquer esforço para de rápido pôr ao fundo o chaminenoso grandalhão, cemitério d’água de quase 2.000 pessoas, a maioria da terceira classe, claro, assim como o é a do terceiro mundo. Entretanto, não há tamanho para a queda, e esta, mesmo um dia, é certa para todos!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Cores (Pedro Du Bois)




Das cores fujo em descolorido caminho:
a imagem acredita no espelho. Espalho
espantos. Espero a lua infantil da lembrança
e lanço cumprimentos: digo bom dia ao transeunte
e junto meu corpo à fila do aguardado ônibus.
Não pergunto o destino: lamento o ocorrido.
Não me aproximo; conservo a distância
na criação inconstante: o lucro exorbita
a promessa de me manter vazio
em indiferenças. Sem cores ressurjo
amadurecido. Retiro a cortina e na vitrina
não sou a imagem atrás da porta.

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Epígono de Câmara Cascudo (Márcio de Lima Dantas*)




Penso que poucos são herdeiros do padrão de interesses e pesquisas chantado por Câmara Cascudo. Lastro extremamente fértil e pleno de pistas, porém aguardando ainda estudos de maior envergadura, não apenas sobre a obra, mas sobre o que deixou esboçado ou apenas colhido, superficialmente, na frondosa árvore dos fenômenos culturais.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Carta a Nilto Maciel (W. J. Solha)

(Quadro "A Sétima Praga", de John Martin)


Nilto, acabo de ler um de seus Contos Reunidos - Volume II (Editora Bestiário, 2010) que - entre tantos outros - muito me fascinou: A Pálida Visitante, originalmente publicado em 1999, no livro Pescoço de Girafa na Poeira (Fundação Cultural Distrito Federal). Lembrou-me que, no final de meu romance Relato de Prócula (A Girafa, 2009) faço toda uma série de citações falsas, de autores falsos, para criar, no leitor, uma vinculação sólida com a vida real, para o falso relato que crio da mulher de Pôncio Pilatos, em que ela teria dado sua versão - chocante - de testemunha ocular dos fatos que teriam gerado a paixão e morte de Cristo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dicke: a reparação de uma injustiça literária (Adelto Gonçalves*)




I

Em algum lugar, este articulista já escreveu – e repete-o agora – que, daqui a cem anos, o historiador literário que pretender traçar um inventário da melhor literatura produzida no Brasil na segunda metade do século XX e nas primeiras décadas do século XXI não poderá se limitar a consultar as listas dos livros mais vendidos das revistas semanais nem os catálogos das grandes editoras.

Tarefa (Emanuel Medeiros Vieira)



(Quadro de Irene Pinc)

“Só há uma coisa importante: fazer: o repique das palavras soar na mente de algumas poucas pessoas exigentes.” (Logan Pearsall Smith)
Insulto atirado na cara da morte: poema.
Velho peregrino
Eterno inquilino
(uma rima – não solução, não é Drummond?)
Leão cansado – ainda arfante.
Ainda?

domingo, 22 de abril de 2012

Epigramas de Hilton Valeriano



Se podes amar, faça-se amado.
Opulência e indigência
ensejam análogos prados.

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sábado, 21 de abril de 2012

Reality show (Silvério da Costa)

Contos reunidos – volume II, de Nilto Maciel, reúne contos de três livros publicados anteriormente, ou seja, As insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de girafa na poeira (1999). É, portanto, uma antologia eclética, verdadeira simbiose literária, que mistura e revela as veleidades de um dos maiores contistas brasileiros, ao nos proporcionar, graças ao fluxo lingüístico, que reflete o fluxo de consciência, verdadeiro “reality show” da arte de narrar. Os três livros aqui reunidos, pela mesma lógica e pela mesma virtualidade da linguagem, não deixam de ser um só livro.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

El nieto (Maria Lindgren)




– ¡Qué bien estás, mujer! ¿Qué haces para tener una figura de dar envidia? Los años no pasan para ti.

Todos le hacían elogios, salvo algunos vendedores populares, que la llamaban tía, con aires de querer decir vieja tía. Aún no le apodaban abuelita, pero algunos años más… Seguro que Dolores no aparentaba los sesenta y siete años. No era delgada ni gorda, tenía una esbeltez cultivada por la gimnasia desde los quince años, por lo menos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nilto Maciel (Martha Tavares Pezzini)


Há uns três dias recebi o livro Contos Reunidos – Volume II, do Nilto Maciel.

Nilto foi um dos primeiros escritores que fizeram contato com o meu blog e foi um grande prazer conhecer a pessoa e o escritor.

O livro Contos Reunidos - Volume II tem narrativas encantadas que me reportaram para minha infância em São Pedro dos Ferros e para o fundo do meu quintal. Ah! Lembrar mangas maduras amassadas e podres no chão, geralmente barroso, na época das mangas e de muita chuva! Fez-me sentir o cheiro e reviver aqueles momentos. E a aventura de vencer o primeiro obstáculo, primeiro galho, na subida ao pé de manga, chegando onde somente os meninos maiores conseguiam? E daí, desencadeando as lembranças, foram surgindo mil outros detalhes da cena!

Lendo "A menina dos Olhos", me parecia estar naquele grupinho. Ternura na medida certa!

Estou apenas no começo da leitura, mas, conhecendo o talento e a criatividade do Nilto, sei que me aguardam histórias que vão do leve e até mesmo lírico, aos temas realísticos que nos rodeiam, sempre guiadas pela profunda sensibilidade e riqueza verbal do autor.

Grande abraço ao amigo e grande mestre, Martha.

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Publicado em ""Sobre Livros e Autores", marthatavaresspf.blogspot.com, em 14/4/2012.

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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dos Contos reais à gloriosa Cantata bruta (W. J. Solha)


Já Drummond dizia, ante as notícias de Stalingrado, na Segunda Grande Guerra, que a poesia não conseguia, mais, superar nem igualar a realidade trazida pelos jornais. Quem foi ao concerto, no último fim de semana, no Cine Banguê, passou por minha tela Picasso está muerto, na mostra instalada no saguão do cinema, fruto direto dessa verdade: transformei, ali, as cenas cubistas de violência do Guernica em representações fotorrealistas enquadradas pela CNN, Globo News, etc, como transmissões ao vivo (de crimes públicos), procurando mostrar como se tornaram lentos os protestos pictóricos como o do gênio espanhol, agora– como divulgação do horror – obsoletos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Do Arroio Chuí a Trapiá (Nilto Maciel)



(Arroio Chuí)

Passado o dia do meu aniversário natalício, recebi alguns presentes singulares. Nada de gravatas, camisas, meias, bermudas, barbeadores, coisas da juventude e da meia-idade. Foram seis joias, de valor incalculável. Os presenteadores são, na maioria, homens, o que evidencia a avareza das mulheres ou das fêmeas do meu convívio. Somente uma delas se lembrou de mim (deixo fora disso minhas quatro filhas e duas netas): Maria de Lourdes Alba. E olhem que nem a conheço. Os machos são velhos amigos: o gaúcho Nelson Hoffmann, o cearense - paulista Caio Porfírio Carneiro, o cearense Dias da Silva, o paulista Edmar Monteiro Filho e o paulista - paraibano W. J. Solha. E que mimos foram estes? Ei-los, em sucinta descrição: Veredas da caminhada (São Paulo: RG Editores, 2011), de Caio Porfírio Carneiro; Disseram de mim... (e de coisas) (Fortaleza: RDS, 2012), de Dias da Silva; Fita azul (São Paulo: Babel, 2011), de Edmar Monteiro Filho; Expressão de vida (São Paulo: RG Editores, 2011), de Maria de Lourdes Alba; Quando a bola faz a História (3ª. ed. Santo Ângelo: FURI; Florianópolis: LEDIX, 2011), de Nelson Hoffmann; e Marco do mundo (João Pessoa, Ideia, 2012), de W. J. Solha.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O derramar de tristezas (Belvedere Bruno)




Norma não nutria expectativas em relação à vida após inesperada separação. De nada adiantava lhe falar sobre possibilidades. O que desejava era a volta de Felipe, único amor de sua vida. O casamento durara exatos 25 anos, comemorados com festa em prestigiado clube da cidade. Uma noite, ele, abruptamente, disse-lhe que não havia nada mais que justificasse a relação.

Adirson Vasconcelos e a vocação histórica de Brasília (João Carlos Taveira*)




Brasília, a pouco mais de cinquenta anos de fundação, já revelou dois aspectos importantes e inquestionáveis: confirmação de seu destino socioeconômico e geopolítico e vocação inata para uma espiritualidade cada vez mais transcendente. Hoje não se duvida mais do desenvolvimento do Centro-Oeste como polo gerador de riquezas para o resto do país. Basta um olhar em direção aos estados de Goiás e Mato Grosso que, após a divisão de seus territórios, confirmam à larga os avanços apontados por cientistas e estudiosos favoráveis à interiorização. E gente do mundo inteiro se sente cada vez mais atraída e magnetizada pelos misteriosos encantos da cidade-síntese edificada no Planalto Central, e até mesmo por algumas regiões do entorno, como Vale do Amanhecer, Cristalina e Alto Paraíso. Brasília é um verdadeiro milagre da modernidade!

domingo, 15 de abril de 2012

Primavera, passover, páscoa (Teresinka Pereira)


A primavera
nos traz a capacidade
de renovar o desejo
e a determinação
para renascer
com as flores.
A glória e o pesar de ontem
viram sábia erudição de fumaça
e vão-se embora para sempre
deixando pouco incentivo
para manter a vida.
Só ao futuro pertence
toda a esperança
enquanto celebramos
mais uma primavera,
um passover e a páscoa.

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WOLE SOYINKA: FINALMENTE PUBLICADO NO BRASIL (Webston Moura)

O Leão e a Joia
Wole Soyinka
Geração Editorial


O jovem poeta, contista, historiador e pesquisador Dércio Braúna tem interesse especial pela África, seus literatos, sua história e as relações que temos (ou deveríamos ter) com aquele continente, visto parte de nossas raízes terem tal origem. Foi ele quem me falou de escritores como o nigeriano Wole Soyinka (Nobel de Literatura de 1986), que, por ser da África não-lusófona, só agora tem seu primeiro livro publicado no Brasil.

sábado, 14 de abril de 2012

Grito calado (Tânia Du Bois)



(Grito en silencio, Susana Weingast, 1998)


“Em gritos expressamos / nossas emoções //em gritos desdobramos / nossas paixões // em gritos espantamos / nossas sensações // em gritos evitamos / que o silêncio nos consuma” (Pedro Du Bois)

Ao olhar para cima, vejo o céu; olho para frente, vejo o mar. Olho para os lados e vejo a imensidão da natureza. Inesperadamente, meu grito é calado. Ao viver neste lugar maravilhoso e ter que conviver em ambiente fechado, fico atrelada apenas aos gritos, aos meus gritos que promovem uma transformação química, fazendo com que a voz seja absorvida apenas por mim.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Passatempo (Luiz Martins da Silva)



Teoria de passatempo,
Para quando se passa o ano,
É buscar no isolamento
Passar a limpo uma agenda.

Poemas (Webston Moura)



CONCERTO EM FERRO VIVO AO FIM DA TARDE

No Chifre da África, a fome é tão abundante,
que chega a suster em avidez de pássaro a força
de uma graça; canta no deserto de sol e areia rubra.

É tão forte a fome, a morte engatilhada que carrega,
os milhões de olhos secos, corpos quase vivos,
plácidos por insuficiência, flagelados, sílica saturada.

Nem sabemos a música brava ou doce desses nomes:
Sabemos-lhes, quando sim, ouvir-lhes as mortes
ensombradas em suas franjas de sangue e dor,
uma dor que se apaga devagar, devagar, devagar,
devagar como uma valsa espinhosa.

O que voa lá? Uma andorinha?
Não! É um osso sublimado de um menino cujo nome
esquecemos (se é que um dia o soubemos).






CARNEIROS DESOSSADOS NUMA TERRA DISTANTE

Os franco-atiradores, o fedor dos mortos, os escombros,
uma estátua antiga ao chão, uma placa que outrora
sinalizava uma ordem cotidiana, um frasco de
comprimidos, a asa de um xícara do século xv,
o véu de uma moça que atravessa a rua (seu rosto rápido),
a vida é breve e breve é o cessar-fogo
e o amor entre os supostos homens de bem.
Amém?

A Liga Árabe, a ONU, todos os partidos, os generais,
os mercenários, notícias falsas, notícias verdadeiras,
outra praça tomada, outro beco invadido,
outro bombardeio, outro boletim, Bashar al Assad
aparece barbeado e limpo como se fosse bodas de
qualquer data significativa de um tempo de paz
e carneiros desossados.


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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vultos (Silmar Bohrer)



horizonte
o mar
verde


vultos
vestígios


navios
fundeados
querendo espaço
no porto de chegada


naves atlânticas
buscam refúgio
para o cansaço
da jornada


cágados imensos
arfantes
ofegantes
farejam
terra
ares
sombras


silentes
imensos
ao sabor
das águas


pacientes
esperam


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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Após oito anos, Solha lança ‘Marco do Mundo’, seu 2º livro de poemas (Astier Basílio)

(W. J. Solha)

O mais comum é que os escritores comecem fazendo poesia, depois migrem para a prosa. Exemplos são muitos. De Machado de Assis a Julio Cortázar. Edgar Allan Poe, só após publicar dois livros de poemas, aventurou-se, meio que por necessidade, na ficção, escrevendo A Narrativa de Arthur Gordon Pym. O mesmo motivo para migrar para a prosa teve o festejado chileno Roberto Bolaño, inicialmente, um poeta errático.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Santas bugigangas (Ronaldo Monte)

Se, por falta de tempo ou dinheiro, você não pode ir ver a mais nova exposição do Museu da Ciência de Londres, dê uma passadinha aqui em casa. Vai dar no mesmo. Aliás, em sua própria casa você pode apreciar réplicas idênticas às exibidas no célebre museu. O nome da exposição é bastante sugestivo: Hidden Heroes, quer dizer, Heróis Escondidos. E lá você vai encontrar em exposição coisas simples como o clipe, o pegador de roupa ou o filtro de papel.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quando o Amor é de Graça XI: Confissão à Forca (Raymundo Netto)



Por saber que a saudade traga a gente, o tempo nos ensina que a gente traga sempre uma saudade.

Desde pequeno tenho como regra a saudade de tudo, mesmo daquilo recomendável lançar do parapeito da janela mais distante. Chega-me de Neruda: “saudade é sentir que existe o que não existe mais”. E existo, tão saudoso de um jeito, a sentir saudades até dos meus erros. Sim, por que não? Errei muito na vida. Erros tão conscientes e queridos a não me deixar sequer sombra de arrependimento. Aliás, meus erros me são tão sinceros que sou de não poupar oportunidade de sempre contá-los, no afã de mostrar-me às pessoas para que não se iludam a meu respeito, me entendam e não esperem mais de mim. Afora do que veem, asseguro, sou apenas fama e fantasia.

domingo, 8 de abril de 2012

Dançar (Pedro Du Bois)


(Anita Malfatti, "Casal Dançando")

 
Vejo: pés rápidos deslizam
passos convencionados.
O rosto preso no exemplo.
Mãos inertes ao contato.
Reflito a posição exigida
e lamento o acontecimento:
dançar é esquecer o que vejo.
Ativar as mãos
deslizar o rosto
reinventar o som
em movimento.

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sábado, 7 de abril de 2012

Em defesa do jumento (Inocêncio de Melo Filho)



Querem transformar o jumento brasileiro
Em cosmético no estrangeiro
Não é possível que a justiça brasileira
Acate essa besteira.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Páscoa na rede Jesus (Clodomir Monteiro)



Páscoa que nada no corpo
Alma danada de porto
Presa na água conforto
espuma olho de morto


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Afonso Coelho, o "homem do cavalo branco" (Ely Paiva)



O Homem do Cavalo Branco - uma história do jornalismo policial da Belle Époque carioca" é o livro que estou lançando em breve, pela Editora Documenta Histórica. O livro conta a história de vida de Afonso Coelho de Andrade (1875-1922), o maior estelionatário da Velha República, que assustou o sistema judiciário republicano com seus golpes e fugas sensacionais. A narrativa, que tem como pano de fundo as relações entre imprensa sensacionalista, polícia e sociedade na Belle Époque carioca, descreve as aventuras do "herói das mil notícias" do Jornal do Comércio, o "Rocambole brasileiro", êmulo dos heróis dos folhetins franceses do século XIX.

A obra inédita, escrita no estilo romance-reportagem, é o resultado de uma pesquisa de três anos em microfilmes de jornais antigos e processos judiciais do Arquivo Nacional, reunindo crônicas e poesias de Olavo Bilac, João do Rio, Orestes Barbosa, Lima Barreto, Monteiro Lobato e outros escritores da época.
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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quando os dedos viram macarrão (Renata Holanda)




Todos os dias entrando em um ambiente inóspito. Inóspito? Já nem sei mais. Uns dizem que sim, outros que não. Só se sabe que ali dentro há muito sofrimento, e as pessoas evitam entrar. Outras desmaiam. O corpo tem cada artimanha... Do meu ponto de vista, passos, pra lá e pra cá. Esperando que alguém acorde, esperando que alguém ressuscite pra falar comigo. Do ponto de vista de outros, mais passos, e também paradas. Explicações, orientações, agulhadas, cortadas, alfinetadas. Mexa a mão esquerda. Agora mexa o dedo indicador da mão direita. Como é seu nome? Onde você mora? É casado? Quantos filhos tem? Clichês.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

José Alcides Pinto: a face do enigma (Nilto Maciel)


(José Alcides Pinto)

Concluí a leitura de A Face do Enigma, de Dimas Macedo, pouco antes da hora do almoço. A caminho do restaurante, planejei escrever uma resenha dele ou mesmo uma crônica. Faria isto à tarde, logo após a sonequinha de praxe. Certamente não conseguiria consumar a tarefa no mesmo dia. Não fazia mal. Levaria dois ou mais dias a arrumar as frases. Nada de pressa. Afinal, Dimas Macedo e Alcides Pinto merecem o melhor. No meio do repasto, lembrei-me de umas contas a pagar. Ora, não poderia tirar a costumeira soneca e, muito menos, iniciar a modelagem do texto naquela tarde. Almocei devagar, pensei nas dívidas e programei a ida ao banco. De volta ao lar, liguei a televisão e me pus a ver bandidos de todo tipo: fulano superfaturou a construção do metrô; beltrano gastou milhões na campanha eleitoral, com dinheiro doado por fulano; sicrano abençoou a placa de bronze do metrô e seus realizadores; outro fulano de paletó e gravata pedia aos fiéis uma moedinha (o troco do bilhete do metrô) para a ereção do templo do salvador do universo em expansão. Irritei-me, desliguei o aparelho e cochilei no sofá. Minutos depois (certamente mais de trinta), a sirene do telefone me despertou. Calcei os chinelos e mudei o tom da voz: Sapataria do charco, boa tarde! Todo dia invento frases desse tipo, para me livrar de cobradores, vendedores de apólices, prometedores de paraísos e outros adoradores de bezerros de ouro. Muitas vezes me dou mal e peço mil desculpas.

domingo, 1 de abril de 2012

Os escritores e a crítica – 2 (Franklin Jorge)

(continuação)

(Grahan Greene)

Do crítico que não discorda nem põe em dúvida, disse Grahan Greene que está apenas pensando em comer e beber de graça. A assertiva há de aplicar-se também aos editores e jornalistas que se comprazem em reportar os fatos sem questionamento, em contradição com o exercício intelectual sério que se nutre, antes de tudo, mais da dúvida do que da certeza.