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domingo, 17 de março de 2013

A nova literatura brasileira – 2 (Francisco Miguel de Moura*)





No artigo anterior, aproveitei sugestões do poeta Luiz Fernandes da Silva, que me apontou nomes de peso surgidos recentemente para a Literatura Brasileira, especialmente aqueles que moram na província. Hoje, eu mesmo aponto outros valores reconhecidos pelos atuais leitores e algumas pequenas editoras. Têm, esses novos, características distintas e impressionantes: estilos e formas de escrever e criar surpreendentes.

Aqui, um adendo: devo declarar que as “Histórias da Literatura Brasileira”, escritas no passado, não servem mais pra nada, a não ser para alguma pesquisa sobre figuras que ficaram na sombra. Sílvio Romero e José Veríssimo, os dois mais conhecidos, estão fora de qualquer cogitação séria sobre autores “nacionais” ou “provincianos” em que, por eles foram divididos os autores. Já não existem províncias, ainda existem Estados Federados (mas, apenas na letra da Constituição). Na verdade, somos um Brasil único com muitas “ilhas literárias” como especificou Viana Moog. A proposição de Moog valeu por algum tempo, mas, graças a Deus e a nós escritores novos, está sendo revista para hospitalização e sepultamento. O que acontece é que o formalista José Veríssimo e o sociólogo Sílvio Romero abriram feridas no corpo da Literatura Brasileira, pespegando-nos a antítese: A obra ou é sociológica (daí o romance e os demais gêneros regionalistas); ou clássico-formalista (daí a literatura urbana, para José Veríssimo, a “legítima literatura brasileira”) feita por escritores que moram no Rio ou São Paulo, e os demais eram a escória. Na malfadada classificação, hoje derrubada, até o clássico Machado de Assis seria (e, no fundo, é também) um regionalista; e Graciliano Ramos, o regionalista, seria (e é de fato) um escritor nacional. Não sei que coisa mais sem lógica, mais ridícula do que essa invenção “boba”.

Quem nasceu e viveu no Brasil, sabe escrever bem, cria e produz obras de ficção de valor (poesia também é ficção), faz-se editado por si ou por alguém que se considere editor – desde que o livro seja divulgado, não importa se em Portugal, na França, na China, no Piauí ou no Rio – todos esses são escritores brasileiros. E pronto.

Poderíamos quase dizer que morreram os críticos e historiadores literários, com o falecimento de Afrânio Coutinho e Wilson Martins. Mas, Afrânio Coutinho reuniu, antes, uma equipe invejável de intelectuais, entre eles, nosso piauiense Assis Brasil, e preencheu bem a falta da História Literária, do fim do século passado até hoje.  Foi feita sob a orientação de Afrânio Coutinho, com a colaboração de Wilson Martins, Antônio Cândido, Luís Costa Lima, Eugênio Gomes, Aderaldo Castelo, entre dezenas de outros grandes nomes da crítica e do magistério. Mas essa “A Literatura no Brasil” (assim o nome) já está precisando de atualização. Diga-se, a bem da verdade, que foi Afrânio Coutinho quem veio acabar com a discriminação de “regionalismo”, trazendo, de seus estudos no exterior, “a nova crítica”. Se os professores de universidades a desconhecem, pior pra eles. Porque uma nova geração está surgindo em todos os cantos do Brasil, de fazer inveja aos do passado. Quantos poderíamos citar? Muitos. Começo pelo Ceará, com Nilto Maciel e seu grupo da “Literatura – Revista do Escritor Brasileiro”, fundada em Brasília e depois transportada, com a mesma gana, para Fortaleza. Somente no nº 26, o que tenho em mão, quantos nomes, quantos bons autores? Começa com o próprio Nilto Maciel, romancista premiadíssimo, que faz uma entrevista a Francisco Miguel de Moura, onde eu falo dos novos daqui: O. G. Rego, Fontes Ibiapina, H. Dobal, Rubervan du Nascimento, entre outros. Demais colaboradores selecionados na revista “Literatura...”, nº 26, mencionada: Nicodemos Sena, Moema de Castro Silva Olival, Batista de Lima, Adelaide Petters Lessa, Caio Porfírio Carneiro, Wilson Pereira, Manoel Lobato, Maria Socorro Cardoso Xavier, Manoel Hygino dos Santos, José Luiz Dutra de Toledo, Berredo de Menezes, Nelson Hoffmann, Eduardo Campos, Enéas Athanázio, Aricy Curvelo, Jorge Tufic, Aníbal Beça, José Helder de Sousa, Ângelo d’Ávila, Glauco Matoso, Artêmio Zanon, Sânzio de Azevedo, Anderson Braga Horta, Luciano Bonfim, Almir Gomes de Castro e mais alguns, porque o espaço que uso é pequeno.

Este rol de escritores cobre o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, sem distinção. Entre eles há mais de uma dezena dos maiores escritores modernos da nossa época, aos quais faltam somente editores de vergonha, professores e universidades que direcionem bem seus alunos, críticos e jornalista. É assim que os leitores vão aparecendo. E nada disto existe no Brasil atual, o que é uma lástima. Cada vez mais nos tornamos o quintal (pra não dizer chiqueiro) dos americanos.

* Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras franciscomigueldemoura@gmail.com

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