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domingo, 10 de março de 2013

Visitando poetas (Marco Aqueiva)



O homem real é um animal sociável. O homem ideal é um animal solitário. Esta é uma tese que, românticos, altivos e desdenhosos, alguns poetas teriam sustentado. A mediocridade reinante põe os homens no mesmo horizonte raso. Diferentemente o poeta de gênio aspira por além e altura, ainda que não o confesse. Nunca!

Então, você deseja mesmo conhecer outros poetas? Esses que vivem no livro que provavelmente nunca será terminado? A solidão dentro das palavras perpetua esses poetas enquanto outros consomem não sei quantas dores em crases no dia a dia e repetem com a boca cheia de lasanha de domingo que as palavras só devem ser digeridas na solidão e com o estômago não muito vazio.

Voltemos às primeiras garfadas, digo, palavras. O homem é um animal solitário, diria um poeta. Solitário, mas solidário, contestaria outro. O impulso solitário de colaborar para a composição do grande livro universal esbarra no anseio de integrar uma comunidade? Como é que é?! Ora, pois, são poetas e, portanto, solitários. Nada disso! Vê-se logo que são poetas e solidários!

Por sentir-se par dos Deuses sendo homem e par dos homens sendo Deus é que alguns poetas existem exilados em dois mundos. Que cilada que os Deuses armaram aos poetas! Ou terão sido os próprios poetas a quem faltaria consciência de que integram uma imensa família? A convivência fecunda entre poetas tem marcado a obra dos grandes poetas. É o que dizem os grandes. Não é mesmo, Mário Manuel Pessoa de Andrade Sá-Carneiro & Bandeira?
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Publicado originalmente no Jornal Cultural O gritodez/2012.

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