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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Simenon, Hammett de bombacha e mate (W. J. Solha)



(Nelson Hoffmann)

O nome do homem – vê-se que descende de alemães – é Nelson Hoffmann, de Roque Gonzales, Rio Grande do Sul, o advogado, contabilista, que criou um personagem excepcional, o advogado, contabilista, Dr. João Roque Landblut – vê-se que descende de alemães –, espécie de Holmes e Maigret amador, de Três Martírios, Rio Grande do Sul. Esse Landblut, já bastante conhecido por casos anteriores – tendo sido o principal O Homem e o Bar (romance de 1994) , fatalmente se tornará famoso, agora, com A Mulher do Neves – coedição Ledix e Editora da URI, 2013.

Melhor do que Landblut, no entanto, se isso é possível, é a figura do título – mulher do Neves – a escultural, riquíssima, generosa e enigmática vítima de um crime que acaba de acontecer quando o relato começa... e que vai sendo construída aos poucos pela investigação solicitada pelo viúvo, que é o maior cliente do escritório do investigador bissexto e ... o maior suspeito do crime.

Quando se fala em romance policial no Brasil, a referência é, de imediato, Ruben Fonseca, também advogado, admito, mas basta uma comparação entre A Mulher do Neves e A Grande Arte, por exemplo, pra se constatar  que – além disso – um não tem nada a ver com o outro. Veja a ficha do personagem principal do carioca: Mandrake: Advogado com tendências a detetive, solteirão irresistível às mulheres, extremamente sedutor. Aprecia vinhos finos e charutos. Ok, admito, há uma conta de chegar. Mas Landblut é casadão, paisão, viciado em cerveja e cigarros. Mas não é só isso: Ruben Fonseca é o tipo do autor que gosta de exibir minúcias técnicas... eruditas: vira páginas falando de punhais, v.g., como Umberto Eco faz com os detalhes de um portal gótico em O Nome da Rosa.  Hoffmann, não: tudo é muito mais simples nas coxilhas missioneiras, embora não menos instigantes, porque misteriosas. Porque o tema é o ser humano, sempre. Hoffmann, porém, é mestre nos detalhes. Em seu primeiro romance – A Bofetada, de 1978 – ele já impressiona pelo que consegue – de fabuloso – ao fazer um tímido excitadíssimo observar, deitado sob uma figueira, a chegada de uma jovem que também – intensamente – o deseja.  Daí que Landblut esmiúça as fotos da bela morta e todas as outras, dela em vida – mantidas pelo único fotógrafo da cidade –, num macete proveniente, talvez, do Blow-up de Antonioni (ou do anterior Las Babas del Diablo, do Cortázar), matando-nos de impaciência.

E a genialidade de Hoffmann está justamente nesse seu pesquisador com as limitações que nos fazem sentir – literalmente – taquicardia – quando sentimos que poderíamos auxiliá-lo, alertá-lo, nas pesquisas, o que acaba criando um suspense suplementar extraordinário.
Ô, leia o livro.

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