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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Enterro sem defunto, de Daniel Barros (João Carlos Taveira)



                                                                       

Daniel Barros não é só uma promessa, mas uma revelação da nova literatura brasileira. E o romance foi o gênero escolhido para expressão de suas inquietações, de seu estar no mundo. Depois do sucesso do livro de estreia (O sorriso da cachorra), chega a este Enterro sem defunto com grande vigor criativo e amadurecido domínio das técnicas exigidas pela modernidade. Sua oficina romanesca, de certa forma, amplia o discurso tradicional na busca de uma dicção própria, em que elementos ficcionais entrelaçam fatos históricos com fatos cotidianos vivenciados pelo autor. A originalidade, todavia, é meta precípua deste alagoano determinado e audacioso.        

O enredo do livro, com utilização de flashback, se desenvolve em múltiplos planos da ação narrativa, para desaguar, como em um filme noir, no suspense, mas sem final feliz. O narrador, embora onisciente, detém-se mais em sugestões do que em afirmações... E deixa tudo em aberto. Cabe ao leitor interpretar o conteúdo e escolher o desfecho que melhor lhe aprouver.

A linguagem utilizada nunca é rebuscada, embora cuidadosa no apuro vocabular e sintático. Daniel Barros, a partir de suas vivências, como já foi dito, veicula ideias muito próprias acerca do mundo recriado. E, à maneira de um Graciliano Ramos, de um Ernest Hemingway, por exemplo, não esconde o desconforto e o pessimismo diante de certos acontecimentos da vida e se rebela, às vezes, contra soluções inconsequentes do Poder Público. 

Enterro sem defunto, pela ousadia do conteúdo, merece, desde já, lugar certo em nossa estante e deve receber o devido reconhecimento de leitores e de crítica. É o mínimo que se espera.

Brasília, 1.º de abril de 2013.

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