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domingo, 1 de setembro de 2013

Pequeno diálogo: W. J. Solha e Nilto Maciel




 
Em 28/08/2013, 17:49, WJ Solha:
Nilto, acabo de ler seu “romance autobiográfico”, fascinado: Como me tornei imortal, na verdade crônicas girando em torno do seu umbigo literário cercado de personagens extravagantes, geniais, todos tão amados por você, extraordinário autor e leitor que, nele, volta e meia – como num filme de Resnais – está fundando a revista Saco ou o Siriará, indo a Brasília e voltando. É um livro revelador de um meio tão refinadamente culto e criativo quanto você mesmo.   

Em 29 de agosto de 2013, 10:57, Nilto Maciel:
Olá, Solha. Romance? Pode ser. Porque tudo é ficção mesmo. A gente está sempre indo ao mesmo lugar, não é? Escrevendo o mesmo poema. Até encontrar a forma definitiva. O que será a "forma definitiva", hem, Solha? Abraço indefinido.

Em 29/08/2013, 11:14, Solha:
O romance que senti em seu livro de crônicas , por conta de "Crônica de uma morte anunciada", do Gabo,  "Cronaca di un amore", do Antonioni, eu o senti, também, n'"Os Sertões". Como se em suas crônicas e em Euclides da Cunha faltasse, apenas, esse rótulo, pra uma reengenharia de ponto de vista, que levaria os textos ao gênero. Você, no "Como me tornei imortal", fala de toda uma geração de escritores cearenses, uma façanha maravilhosa, algo como Hemingway no "Paris é uma festa"  (Fortaleza is a Moveable Feast). A partir de certo momento, é o que depreendo, percebeu o processo cumulaltivo que suas crônicas estavam ganhando com a recorrência do mesmo tema e investiu pesado nele. Só um romance conseguiria levantar o retrato tão vivo de toda uma multidão de escritores locais. 
Mais um grande tento seu, Nilto.

Em 29 de agosto de 2013, 18:09, Nilto:
Solha, você é demais. Não existe no Brasil pensador do seu quilate.
Sim, você é também um pensador. Um intelectual (o termo aqui vai sem qualquer tom pejorativo). Pois temos poucos poetas (nome genérico dos ficcionistas em prosa e verso) cultos, conhecedores de cinema, teatro, pintura, música e, mesmo, literatura. Quase todos são analfabetos nisso ou naquilo. Alguns o são na própria arte de escrever. Essa indigência faz com que alguns partam para o hermetismo (devem pensar assim: se não me entenderem é porque sou diferente e, portanto, excelente). Outros vão para o realismo mais cru, a reportagem de jornaleco, de rádio de periferia, de televisão feita para atrair multidões (Ibope). A pobreza generalizada: na linguagem, nos temas, no tratamento dado aos temas, na (falta de) técnica narrativa ou poética, no escrever como se fala. Para eles, o escritor não precisa aprender nada, basta saber ouvir. Por isso, não leem. Mas escrevem romances, contos (apenas histórias), poemas (só rimas e métrica
quando aprendem). Meu amigo, é uma lástima mesmo. Uma repugnante miséria. Abraço.
Em 29/08/2013, 18:25, Solha:
Bem, a miséria é grande, mas só faz realçar sua obra, Nilto. Quando lhe disse que li o Como me tornei imortal como romance, foi porque a partir de certo momento, é o que depreendo, você percebeu o processo cumulativo que suas crônicas estavam ganhando com a recorrência do mesmo tema e investiu pesado nele. Só um romance conseguiria levantar o retrato tão vivo de toda uma multidão de escritores locais. 

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