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terça-feira, 18 de março de 2014

Notícia de Portinha Aberta (Nilto Maciel)




O sujeito cultiva bigodinho semelhante ao de Fernando Pessoa, usa a cabeleira de Castro Alves e se veste como Dorian Gray. Redige “artigos” ou “ensaios” de tão difícil entendimento que nem o mais sábio dos homens consegue entender. Apesar disso, nunca recusaram uma só de suas pérolas. Pleiteia vaga na Academia Brasileira de Letras. Sonha também com o Prêmio Nobel de Literatura. Imagina-se traduzido para duzentas línguas. Copia daqui uma frase, dali uma informação, dacolá um comentário. E arranja títulos pomposos: “A influência de Kafka na poesia de Ferreira Gullar”; “Ariano Suassuna e os moinhos de vento”; “Do grão de areia ao pequeno príncipe – um retrato de Guimarães Rosa”. De seu passado restaram duas ou três afirmações (por ele negadas): abandonou a escola, ao chegar às Montanhas Rochosas; da primeira à décima namorada, leu meia dúzia de sonetos parnasianos, três contos (numa revistinha em cuja capa se viam seios fartos de fêmea loira) e algumas páginas de romance (tradução brasileira), de autor desconhecido. Apresenta-se, a editores de jornais impressos e revistas eletrônicas, como ex-colunista do blog Senta a pua na letra; ex-editorialista da folha O lance de dados; tradutor da poesia de Dante Alighieri (de estrofe de uma tradução brasileira da Divina Comédia substituiu substantivos por adjetivos e verbos). Todo dia, jornais o exibem ao lado de acadêmicos federais e romancistas famosos no mundo inteiro. Seu “estilo debochado”expressão cunhada por um doutor em línguas neolatinas – seria resultado da intensa mesclagem de idiomas latinos com línguas aglutinantes, além de sânscrito (ou são cristo, segundo ele mesmo) e hebraico. Tem anunciado um romance: A vida de padrinho Cicerone nos confins da estrela guia.

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