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quinta-feira, 6 de março de 2014

Trofônio de Lebadeia (Flávio R. Kothe)












(Rodolfo Amoedo, "Retrato de mulher") 


“Tu não prestas, mas eu te amo” ouvi falar
uma voz pequena que eu não quis escutar.

Mesmo assim contra toda razão em ti entrei
e quanto mais eu entrava mais louco fiquei.

Alegre eu entrei na cova que descia estreita
cada vez mais funda e com olhos à espreita.

Passo a passo penetrei numa caverna escura
em que morava a tua história mais obscura.

Quem aí entrava nos teus segredos aprendia
sem querer que o riso para sempre perderia.

Na lama e no escuro eu tive de me arrastar,
tive de andar de quatro para ao altar chegar.

Meus joelhos lanhados, os dedos sangrando,
o corpo todo sujo, a mente se despedaçando.

Sobre o altar vi estendida na segunda guerra,
por fardas cercada a figura de nobre mulher.

No pátio do antigo castelo em chamas, oficiais
clamavam a condessa para serviços inoficiais.

Encarando os inimigos um a um, a mulher disse:
“Sei qual é o destino das mulheres do vencido.”

E aditou: “Peço, apenas, me deixem escolher
o oficial mais belo a quem terei de me render.”

Uma pequena menina viu sua mãe ser violentada,
não por um ou por dois, mas pela tropa formada.

Tu quiseste te tornar aquela que por si escolhia,
não sei se dessa caverna tu poderás sair um dia.

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