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quarta-feira, 23 de novembro de 2005

As contas de Setidon (Nilto Maciel)



Ao aparecer à porta, Setidon sorria cinicamente, como o fazia sempre. Um olhar de relance apenas, o suficiente para perceber sua presença. Sua inútil e insignificante presença. Logo perceberia nossa indiferença por sua pessoa e se retiraria. Com seu eterno sorriso imotivado. Tal não ocorreu, no entanto. E pior: lançou na direção de nossos pés uma porção de continhas. Jogou e riu ainda mais. O terço, ou rosário, (imaginamos que o estranho objeto fosse um desses instrumentos) deslizou mansamente pelo assoalho e quase parou ao pé da mesa. Tivemos a clara impressão de que iria enganchar-se ali. E a brincadeira de Setidon teria um fim sem graça.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Duas antologias (Nilto Maciel)


Cidade e Caminho reúne contos de cinco escritores de Ituiutaba: Alciene Ribeiro Leite, Jair Humberto Rosa, Luiz Vilela, Rauer Ribeiro e Roberto Maciel.

A melhor qualidade de Alciene está na linguagem, trabalhada, concisa, produto de uma insistente busca da palavra e da frase apropriadas ao corpo do texto, como se se dedicasse a criar um corpo idealizado a partir de infinitas micropeças postas à sua frente. Realiza o verdadeiro trabalho de criação, ou seja, de escolha. Porque a realidade é um todo, cabendo ao artista a tarefa de captar ou capturar este ou aquele detalhe, esta ou aquela parte do todo, e a partir daí montar a sua reprodução microscópica do mundo. Estes detalhes (ou partes) são para o escritor as palavras. Nada mais do que elas.