Eu senti as dores das
mães da Plaza Del Mayo, em Buenos Aires, que reclamavam seus filhos perdidos durante
a ditadura na Argentina. Aqui no Brasil, a ditadura militar vitimou milhares de
jovens e feriu o coração de milhares de mães, impondo um toque de recolher na
esperança e fazendo da ausência uma lacuna indevassável no seio familiar.
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sexta-feira, 4 de abril de 2014
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O caminho do vento (João Carlos Taveira)
Comecei a ler aos quatro, cinco
anos. Aos sete, aprendi a voar. O primeiro voo, nas asas de um condor,
desvendou as alturas da Cordilheira dos Andes, mais detidamente o chão do Chile
de Gabriela Mistral, de Pablo Neruda. (Meu pai, com sua pequena biblioteca
hispano-americana, possibilitou esse e outros voos.) Depois, naturalmente,
planei em céu nativo: Castro Alves, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, José
Lins do Rego, José Mauro de Vasconcelos. Ainda bem que a escola ensinava planos
de voo, e outras línguas. Machado, Drummond, Bandeira e alguns outros, só aos
treze, quatorze anos. O destino ainda era incerto. Mas já estava traçado o
caminho do vento.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Sem saída (W. J. Solha)
(W. J. Solha)
Há
poucos dias vi entrevista de Affonso Romano de Sant´Anna, em que ele falava
sobre a situação da literatura brasileira contemporânea, com várias de nossas
grandes editoras compradas por outras, europeias, todas tendo como meta colocar
aqui seus autores, que já vinham com grande divulgação de seus países de
origem. Claro que isso tem a ver com o fato de que há anos não consigo emplacar
um livro numa delas, sendo que para ver publicados quinhentos exemplares, por A Girafa, de São Paulo, meu romance Relato de Prócula, que recebera uma das
dez bolsas de incentivo da Funarte no ano anterior, tive de desembolsar dez mil
reais. Confirmando que a situação da editora estava péssima, conforme me
dissera o José Nêumanne Pinto, ela quebrou em seguida e seu estoque passou para
a Escrituras. O Tarcísio Pereira, com seu excelente romance O Autor da Novela, obteve a mesma bolsa,
dois ou três depois, e até hoje está inédito.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Falando francamente (Francisco Miguel de Moura)*
Numa ocasião como esta, a tentação é falar de si próprio. Mas seria impertinente falar sobre mim, quando minha apresentadora, Profª Teresinha Queiroz, já disse tudo e de forma muito clara e generosa. Resta-me, portanto, agradecer, e falar sobre a criatura – minha obra – e não sobre o criador. Lembro sempre do que disse Confúcio: – “Não se deve a todo momento ficar falando de si, por dois motivos: é que, se falamos de bem, ninguém vai acreditar, e se falamos de mal, todos acreditarão”.
sábado, 18 de junho de 2011
Duzentos livros indispensáveis (W. J. Solha)
(Homero)
Will Durant – filósofo, historiador, escritor americano – fez, há muitos anos, uma lista dos cem livros que ninguém, culto, poderia deixar de ter lido. Mas o rol me pareceu, de imediato, muito sujeito ao lugar e à época em que nasceu e viveu seu autor, donde deduzi que uma relação minha teria de ser em grande parte diferente da dele. E aqui está ela, a pedido do poeta de Ilhéus, Fabrício Brandão, claro que sujeita às minhas limitações. Uma delas foi a de que não consegui levantar cem, mas duzentas obras sem as quais não poderíamos nos dar por satisfeitos.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Quando morre um poeta (Pedro Salgueiro*)
“Eu sou eu, íntegro e inviolável dentro de mim mesmo. (…) O que está no limiar e afogado no abismo.” (José Alcides Pinto, 10/09/1923 — 03/06/08)
(José Alcides Pinto)
Quando morre um poeta o mundo fica lastimavelmente mais pobre. Terrivelmente mais triste. Inevitavelmente mais feio. Às 11h15min de um sábado, dia 31 de maio de 2008, um imenso dragão, disfarçado de motocicleta, atacou impiedosamente o velho poeta, de 85 anos, José Alcides Pinto, em plena Rua General Sampaio, bem em frente ao palacete conhecido como Vila do Barão, de ladinho da Praça da Bandeira, nos arredores da Faculdade de Direito do Ceará.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Breve história de uma antologia do conto marginal (Nilto Maciel)
Queda de Braço: uma antologia do conto marginal foi editado no Rio de Janeiro, em 1977, pelo Club dos Amigos do Marsaninho (pessoa jurídica fictícia criada por Glauco Mattoso), em colaboração com o Movimento de Intercâmbio Cultural (criação de Nilto Maciel). A capa é de Flávio Tâmbalo, com utilização de desenho de Ricardo Augusto Rocha Pinto (originalmente publicado como pôster na revista O Saco, número 3, de julho de 1976). Há duas epígrafes: uma (brincadeira) de Glauco, assinado como Glauco Mattoso “de Santana”: “Um país que tivesse 845 contistas insuportáveis seria genial”, e outra de Antônio Torres: “A gente não pode esquecer também que é da quantidade que se faz a qualidade”. Escrevi uma das dobras do volume. A outra é assinada por Antônio Carlos Villaça. A apresentação é de Glauco, embora o seu nome não apareça. Em tom de brincadeira, faz algumas perguntas: “Uma antologia do conto marginal? Mas o que é antologia? O que é conto? O que é marginal? O que é uma antologia do conto? O que é o conto marginal? Marginal existe? Antologia existe? Existe o conto?” Mais adiante responde uma destas perguntas: “Marginal aqui não designa propriamente o conto, mas o autor, assim considerado face a uma conjuntura bestsellercrática. Isso não implica necessariamente em anonimato ou ineditismo, mas vale alertar que mesmo os trabalhos já publicados em livro o foram à custa e por iniciativa dos próprios autores.”
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Clemente Rosas (W. J. Solha)
Inventário de esperanças e sucessão vertiginosa de experiências de um líder estudantil
(Clemente Rosas)
Bancário com carreira no sertão e na capital paraibanos, tive enorme inveja quando comecei a trocar e-mails - há dois ou três anos - com vários colegas do BB, também escritores, mas que tiveram carreira internacional no Banco do Brasil: Esdras do Nascimento, Ivo Barroso e Carlos Trigueiro – todos agora no Rio. Do mesmo modo, lembro-me – com imenso complexo de inferioridade - da figura lendária em que se tornou um tal de Manoelzinho, que aprendera a ler sozinho aos quinze anos, nas abas de uma serra da região de Pombal, onde vivi; fora pro seminário de Cajazeiras, perto dali; trocara a batina por um emprego no Bradesco, em Recife; se mandara pro Rio – aprovado em concursos da Petrobrás, Banco do Brasil e Banco do Estado de São Paulo, optando pelo primeiro – até que, ante a repressão da ditadura, matriculara-se na Sorbonne, na França, desviando-se de lá pra Universidade Patrice Lumumba, de Moscou, onde morrera algum tempo depois, devido a um tumor no cérebro. Transformei sua trajetória – tão fascinante me parecera - na de meu personagem Zé Medeiros, em meu até hoje inédito romance “Dricas”.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
A cabala da ficção (W. J. Solha)
Making of do romance Relato de Prócula
ÁLEF
ÁLEF
Impressionou-me a narrativa que o jornalista Nathanael Alves me fez quando fui visitá-lo no hospital, depois de uma tentativa, sua, de suicídio. Falou-me da decisão de dar um tiro no peito dentro de casa, seguida da preocupação com o impacto que isso teria dentro da família, pelo que imaginou ser melhor matar-se na BR, escolha deletada pelo escrúpulo de que isso envolveria estranhos em suspeita de assassinato, donde a solução final de dar cabo da vida no Fórum, seu local de trabalho. Ele me contou como foi: “Fechei-me no banheiro da repartição e fiz o disparo. Caí diante do lavabo e constatei que começava a acontecer comigo o que muitos relatam ter sido sua experiência de Quase Morte: vi minha vida inteira passar como num filme”.
terça-feira, 29 de março de 2011
Réquiem para um anjo (João Carlos Taveira)
(Clovis Sena)
Clovis Sena não está morto. Depois de uma vida inteira dedicada à família, ao trabalho e aos amigos, foi convocado para seguir rumo à outra dimensão. Insisto. Clovis Sena não está morto. Depois de uma vida inteira dedicada ao jornalismo, ao cinema, à literatura, à música, às artes plásticas, partiu em 15 de fevereiro de 2011, conduzido pela “indesejada das gentes”. Mas sua missão estava cumprida. Não deixou nada por fazer entre os homens nem débito entre os anjos. Seu crédito agora transcende céus e estrelas.
domingo, 3 de outubro de 2010
A revista O Saco e o Grupo Siriará (Nilto Maciel)
A história da Literatura Cearense é rica em movimentos e grupos literários, desde os primeiros tempos. E assim permanece. Depois do Grupo Clã, foi a vez dos concretistas e, em sequência, a criação do Grupo Sin de Literatura, composto de poetas e ensaístas, como Barros Pinho, Linhares Filho, Roberto Pontes, Horácio Dídimo, Pedro Lyra, Rogério Bessa e outros. No final dos anos 1970, com o fim dos suplementos literários nos jornais de Fortaleza, os novos escritores também se reuniram, não em grupo fechado, mas com o objetivo de publicar seus poemas e contos, principalmente. Surgia a revista O Saco.
terça-feira, 23 de março de 2010
A velha guarda da literatura cearense (Nilto Maciel)
Herman Lima
domingo, 28 de maio de 2006
Como surgiram Palma e seus habitantes (Nilto Maciel)
(Pharmacia Mattos, Baturité antiga)
Quase todas as minhas narrativas longas têm como cenário a fictícia cidade de Palma. E também alguns contos. Palma seria Baturité. Não sei se a omissão do nome real da cidade se deveu à vontade de me esconder, me sentir mais livre para criar ou de não parecer tão real, não ser um cronista. Para substituir Baturité, inventei primeiro Jeriquitiba. Depois Tamboaçu.
O topônimo Palma apareceu primeiro nos contos “A Beata de Palma”, “As Pontas da Estrela” e “Tony River”, do livro Babel, publicado em 1997, mas escrito logo após Itinerário, entre 1975 e 1976. Originalmente, no entanto, nas três peças eu ainda não denominava Palma a cidade de minha ficção. Assim, a segunda dessas narrativas intitulava-se “O Menino com uma Estrela na Testa” e se passava em Tamboaçu, tal como a primeira. Este nome perdurou talvez até 1982, quando passei a reescrever meus contos publicados em jornais e revistas.
domingo, 14 de maio de 2006
Achados de um menino perdido (Nilto Maciel )
(Cidade de Baturité)
De certa forma, fui discípulo de Ailton. Adolescentes ainda, fazíamos versos, de preferência sonetos. Os meus não valiam nada, e pouco depois mandei toda a papelada ao lixo. Os dele são alguns destes agora reunidos em livro, pela primeira vez, passados tantos anos de sua morte. O que restou de tudo o que escreveu, apenas 30 poemas, alguns contos e fragmentos diversos. Há um poema datado de 1957, quando chegava aos 15 anos de idade. É verdade que são inúmeros os casos de escritores que escreveram obras-primas quando bem jovens. Porém, a maioria dos adolescentes deixa de lado as veleidades literárias também muito cedo. Não foi o caso de Ailton, logicamente. Porque tinha talento. Sua poesia é de bom nível. Não por saber metrificar e rimar, como todo bom poeta o sabe. Ailton sabia métrica e rima porque lia e estudava. Lia os bons poetas, como Castro Alves, um de seus ídolos. Sabia de cor páginas inteiras do poeta baiano. Escreveu poemas de excelente extração, a lembrar os românticos. Aliás, o vocabulário de Ailton é quase sempre romântico. E rico. E os versos românticos são o melhor dele. Quando pretende fazer poesia político-social, como em "Desperta, Brasil", só nos resta lamentar.
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