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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Linguagem literária (Francisco Miguel de Moura)



 
A finalidade primeira da linguagem  é comunicar. E só um animal social, eminentemente social, conseguiria aprimorar esse instrumento. Estudar a linguagem é estudar o pensamento, a comunicação, a cultura humana. A linguagem, seja falada ou escrita, tem origem pré-histórica, como o pensamento, como a própria humanidade. O homem ainda não conseguiu inventar  outro instrumento que substitua a linguagem na comunicação. No dia em que isto acontecesse haveria a desumanização completa do homem, sua extinção como tal.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ninguém conhece um país assim (Enéas Athanázio)

(Cendrars por Modigliani)

                                                                                  
Como é sabido, a França fascinou gerações de intelectuais brasileiros e para muitos foi a segunda pátria ou a pátria intelectual. Mas, em sentido oposto, o Brasil também tem exercido forte fascínio sobre intelectuais de língua e formação francesas, como foi o caso do franco-suíço Frédéric Sauser, que adotou o nome de Blaise Cendrars (1887/1961), apaixonado pelo nosso país, sobre o qual muito influiu e, em contrapartida, foi influenciado pelo resto de seus dias. Misto de escritor, poeta, aventureiro e andarilho, ele se ligou ao Brasil de forma definitiva e foi um de seus grandes divulgadores na Europa. Só não realizou mais porque as circunstâncias não o favoreceram.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cangaço, Canudos e Contestado (Enéas Athanázio)





                                                   PAINEL COMPLETO

O livro “Lampião e o Estado-Maior do Cangaço”, de autoria dos pesquisadores Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, publicado em segunda edição, revista e ampliada (Gráfica Encaixe – Ceará – 2004 – 380 págs.), é o mais completo painel que conheço sobre o assunto, descrevendo com precisão as atrocidades dos bandos de cangaceiros que fervilhavam no Nordeste desde as últimas décadas do Século XIX até os anos 40 do Século XX, mostrando o ambiente sócio-econômico e político que permitiu o exercício dessa forma de banditismo ao longo de tantos anos e descendo a minúcias biográficas de cada um dos mais importantes atores de uma atividade tão desumana quanto trágica. Baseado em longas e minuciosas pesquisas, incluindo investigações in loco e entrevistas com numerosos personagens, sem faltar o mergulho em incontáveis coleções de jornais e na melhor bibliografia disponível, é um trabalho sério e confiável, merecedor de algumas observações, escolhidas dentre as muitas que ensejaria. Embora se trate de ensaio de cunho histórico, contém passagens antológicas, a exemplo da retirada do bando de Lampião para Pernambuco, após o malogro do assalto a Mossoró, cruzando três Estados, viajando quase só à noite e nas altas madrugadas, varando as mais ásperas caatingas da região e realizando saques sempre que a oportunidade se apresentava. Façanha que poderia inspirar excelente novela literária, assim como o livro, no conjunto, forneceria matéria para um belo romance

terça-feira, 2 de julho de 2013

O sertão de Riobaldo – 4 (Enéas Athanázio)


(continuação)

Riobaldo Tatarana, narrador de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, é um dos personagens mais curiosos da literatura nacional. Homem do sertão, encarna como ninguém o conhecedor daqueles ínvios dos Gerais mineiros e goianos, falando sobre eles com a precisão e a familiaridade de quem os percorreu em todas as direções, atento e interessado, observando e aprendendo. Também impressiona a imensa galeria de figuras que conhece, desde os coronéis senhoreantes até os mais humildes dos viventes sem nome: fulão, sicrão, beltrão e romão. E surgem então os mais desusados e estranhos nomes e alcunhas, revelando a portentosa imaginação criativa de Guimarães Rosa. É um livro tão amplo, repleto de fatos e figuras, que me parece impossível ao leitor, por dedicado que seja, apreendê-lo em toda sua grandeza.

O sertão de Riobaldo – 3 (Enéas Athanázio)



(continuação)


Riobaldo, sobrechamado Tatarana ou Urutu Branco, personagem central e narrador de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, em certa fase da vida andava invocado com a figura do diabo. É que corriam notícias de que seus inimigos haviam feito um pacto com ele e que isso os protegia nos combates. Riobaldo, porém, duvidava da própria existência do diabo, e, por consequência, não acreditava no tal pacto, uma vez que é impossível pactuar com o que inexiste. Não obstante, o diabo estava sempre nas suas cogitações.
  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O sertão de Riobaldo – 2 (Enéas Athanázio)

(Continuação)


Riobaldo Tatarana, o narrador de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, define com precisão o que seja o sertão e as coisas que nele acontecem. Muito do que ele diz hoje caiu na boca do povo e vem sendo repetido sem que se saiba a fonte. Assim, por exemplo, acontece quando ele descreve o sertão, logo no início do romance: “Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristão-jesus, arredado do arrocho de autoridade” (p. 8). Não é por acaso que os cangaceiros votavam ódio mortal às cercas, uma vez que elas atrapalhavam as andanças e as fugas das volantes que os perseguiam. E Riobaldo era um jagunço, em tudo semelhante ao cangaceiro. Em outra passagem, aliás muito conhecida, diz o seguinte: “O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal...” (p. 19). Mais adiante, volta ao assunto: “Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar” (p. 35). E ainda: “O sertão é do tamanho do mundo” (p. 73). Afinal, a conclusão: “O sertão vai repondo a gente pequenino” (p. 312). Aqui ele reflete a insignificância do homem diante da imensa grandiosidade do sertão que o cerca.

domingo, 30 de junho de 2013

O sertão de Riobaldo – 1 (Enéas Athanázio)





Entre os mais célebres personagens da literatura nacional está, sem dúvida, Riobaldo Tatarana ou Urutu Branco, o narrador de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. No prolongado relato de suas vivências de jagunço-filósofo, ele faz desfilar impressionante e variada galeria de figuras e personagens, muitas delas de nomes estranhos, criadas pela inesgotável imaginação de Guimarães Rosa. Algumas são fugidias e desaparecem sem deixar vestígios; outras, ao contrário, vão impondo sua personalidade e permanecem atuantes até o fim do romance, muitas vezes em posição de destaque.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A intensa poesia de Regina Lyra (Tanussi Cardoso*)





Regina Lyra busca, em seu novo livro de poemas Vão da Palavra, o espaço oco, o vácuo dos significados entre as palavras: o intervalo entre o silêncio e o barulho; entre o mínimo e o máximo; entre o supérfluo e o essencial; entre o grandioso e o simples. Sua poesia transita nesse vazio, nessas reticências, nesse ar sufocante entre o que inexiste e o que existe; entre o ilusório e o real. Entremeios e Entre Nós (título de um de seus livros). A poeta nos ensina a ser no meio desses vãos entrelaçados, diante de seus nós. Mostra-nos que a palavra resiste e nos consola, emergindo em seu fantasioso e fantástico mundo de imagens, mistérios, signos e enigmas. Assim, entre reticências e entrelinhas, no osso debaixo da pele, na raiz que existe antes da semente e da planta, na fala que vem antes da voz, Regina Lyra nos ensina que somente a poesia (o poema) pode nos salvar desse enganador mundo em que vivemos:

sábado, 29 de dezembro de 2012

O feminismo negro de Paulina Chiziane (*) (Adelto Gonçalves)




(Paulina Chiziane)
               
Para João Craveirinha, pela amizade e pelos subsídios fornecidos para este ensaio.                                        
                                                           I         
Se a literatura escrita por mulheres já é um mundo diferente, abordado por ângulos que romancistas e contistas homens dificilmente veem, imaginemos, então, o que pode ser o mundo visto por uma mulher africana, moçambicana, ainda mais se é governado por costumes e tradições que nos soam estranhos. Esse estranho e mágico mundo é o que oferece em seus livros Paulina Chiziane (1955), a primeira romancista negra de Moçambique.
             

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O encantamento pela linguagem (Hermínia Lima)





A obra que nos inspira para o texto que ora escrevemos começou a provocar-nos pelo título: Os acangapebas. Ao lê-lo, pela primeira vez, na ocasião do lançamento, nos perguntamos o que significaria o termo "acangapebas"? Ou, quem são esses "acangapebas"?

Para nossa felicidade, ao folhear o livro, encontramos, logo no início, a resposta a tais indagações. O autor, Raymundo Netto, teve a ideia, ou melhor, o cuidado de transcrever um verbete do Silveira Bueno esclarecendo, "acangapebas: cabeça-chata. De acanga, cabeça; peba, peva, chata". Bom, lido isso, pensamos: "cabeça-chata"... algo a ver com os cearenses? Ao deparar-nos com os tipos que povoam a obra e, em especial, com os que protagonizam o conto cujo título nomeia o livro, "Os acangapebas", confirmamos a nossa suposição em relação ao significado da palavra. Constatamos que, a julgar pelos perfis físicos e psicológicos dos que habitam a referida obra, é possível afirmar que se tratam de tipos bem cearenses. E seguimos com a leitura, livro adentro, querendo saber mais sobre os acangapebas. As descobertas foram muitas e as surpresas várias.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A musa: em Batista de Lima (Hermínia Lima)






(Publicado no Diário do Nordeste, Fortaleza, 22.09.2012)

Dizer algo sobre O sol de cada coisa, o décimo livro de Batista de Lima, é tarefa que deleita e que aflige

Tentar verbalizar ideias sobre os poemas deste livro é viver o paradoxo de querer calar e só sorver, com a subjetividade e o sentimento, o néctar que se derrama dos versos e, ao mesmo tempo, é viver a provocação de debruçar-se sobre a obra, munida com as armas da leitura técnica, para iniciar árdua e minuciosa análise sobre as infindas possibilidades que os versos nos ofertam. Sobre as infindas possibilidades ofertadas pelos versos de Batista, leiamos, a título de introdução deste diálogo, o poema Dúvida, que abre a primeira seção do livro, sob o título: Essa coisa de viver: (Texto I)


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A paratopia de “Os Outros” (Aurivan Aragão)




            Antes da reflexão sobre o conto “Os Outros”, de Nilto Maciel, é importante discutirmos algumas questões que norteiam a análise desse texto literário. Questões estas que nos possibilitam pensar o fazer literário a partir da gestão de seu próprio contexto, relacionando o processo de criação ao conceito de paratopia, tomado a um só tempo como condição e produto da criação literário.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Identidade: afirmação e negação em “A cachoeira das eras” (Aurivan Lima Aragão)[1]

RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar a noção de identidade presente no romance “A Cachoeira das Eras”, do escritor cearense Carlos Emílio Corrêa Lima, a partir da oposição entre Jari e Juripari (entre o “demônio das trevas” e o “deus da luz”, respectivamente). Para isso, defendemos que tal oposição representa uma tentativa da Coluna de Clara Sarabanda afirmar uma identidade universal entre as espécies e, mais especificamente, uma identidade nacional primitiva centrada no modo de vida indígena, e, ao mesmo tempo, negar outra identidade, aquela resultante do processo de colonização que se deu no Brasil com a chegada do homem branco.
PALAVRAS-CHAVE
Identidade. Afirmação. Negação.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Os escritores e a crítica - 1 (Franklin Jorge)

(Marcel Proust)

Ainda muito moço, em visita a um tio avô humanista que vivia enfurnado em sua vasta e bem escolhida biblioteca, descobri em Marcel Proust uma nova concepção de crítica, mais concisa, mais apaixonada, mais parcial, entendida sob um ponto de vista mais amplo e, de tal forma realizada, que representaria ela mesma uma criação literária autônoma e digna da obra que a inspirara.


sábado, 14 de janeiro de 2012

O grande tema do Eclesiastes, Eliot, Jorge de Lima e Kubrick na poesia de Ruy Espinheira Filho (W. J. Solha)



INTRODUÇÃO

uma formiga escala o himalaia de um vaso
a espinheira espalha a perplexidade de suas folhas bífidas
Ivo Barroso – “Vida”

O primeiro poema – Longe de Sírius – da coletânea de Ruy Espinheira Filho, lançada recentemente pela Global Editora (seleção e prefácio de Sérgio Martagão Gesteira), termina sua bela natureza-morta com estes versos, indicadores da importância da morte para o poeta:

Na gaveta, dormindo
sob cartas e poemas,
o revólver aguarda.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Animal olhar quando se abre António Ramos Rosa (Marco Aqueiva)


(António Ramos Rosa)


ESTAMOS AQUI TALVEZ PARA DIZER: CASA
PONTE, ÁRVORE, PORTA, CÂNTARO, FONTE, JANELA –
E AINDA: COLUNA, TORRE... MAS PARA DIZER, COMPREENDA,
PARA DIZER AS COISAS COMO ELAS MESMAS JAMAIS
PENSARAM SER INTIMAMENTE.
RAINER MARIA RILKE

O mundo em pedaços. O homem que não vê sentido no mundo. O silêncio em torno das coisas. Engajado na busca do rosto do mundo sempre pronto a fragmentar-se e perder o sentido, o poeta encarna a aventura de reaprender a vê-lo por meio da poesia, interrogá-lo e poetizá-lo como tarefa de uma reaprendizagem essencial. “Experiência extrema, experiência-limite, negação de toda a experiência que não seja a da acção poética. Conceito de transgressão. O poeta moderno não escreve para dizer algo que conhece mas para dizer o que ignora, para encontrar o verdadeiramente desconhecido, o novo, o inicial.” Estas palavras do poeta-crítico português António Ramos Rosa que, referidas a esta experiência radical da poesia moderna, bem sintetizam a aspiração e a determinação com que ao longo de mais de cinquenta anos vem dedicando-se incansável e tenazmente às tarefas e coisas da Poesia. (Esta dedicação absoluta, refira-se de passagem, valeu-lhe de Bernard Nöel o epíteto de Francisco da Assis da poesia.) De sua longa folha de serviços consta indubitavelmente um mobiliário dos mais preciosos da literatura de língua portuguesa no século XX em poesia, crítica e tradução: em poesia, obras vigorosas desde O Grito Claro (1958) quando estreia em livro; na crítica, ensaios penetrantes como os publicados em Poesia, Liberdade Livre (1962); em tradução, notadamente o rigor e a sensibilidade aplicados a autores franceses como Paul Éluard (1963). Acrescente-se, ademais, sua participação no meio literário português como crítico colaborador de revistas como Seara Nova e Colóquio, tendo ainda exercido a co-direção da Árvore (1952-1954), Cassiopeia (1956) e Cadernos do Meio-Dia (1958-1960). O amor ativo de Ramos Rosa à Poesia lhe valeu, como referimos, uma aproximação com o autor de Il cantico del sole e tem lhe rendido com efeito o justo reconhecimento, como atestam os incontáveis prêmios recebidos, dentre eles, o Prêmio Pessoa (1988) e o Grande Prémio de Poesia APE/CTT (edição 2005) por Gênese.

domingo, 18 de setembro de 2011

A Fantástica Literatura do Ceará (Aíla Sampaio)

O Cravo Roxo do Diabo (contos)
Pedro Salgueiro (org.)

Pedro Salgueiro organizou a coletânea O Cravo Roxo do Diabo - o conto fantástico no Ceará. Agora, a professora e poeta Aíla Sampaio, autora de Os Fantásticos Mistérios de Lygia, fez uma belíssima apreciação do trabalho. Você confere isso acessando o Portal Cronópios.

Boa leitura! E divulgue.

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domingo, 21 de agosto de 2011

A viagem fantástica (Aíla Sampaio)

(Extraído do blog Literatura Cearense – Profa. Aíla Sampaio, http://litecearense.blogspot.com)


Escrever é uma arte e, como toda arte, requer perícia. No caso da literatura, pode-se dizer que o texto é ‘tecido’ pela arte de engolir e ‘desengolir’ palavras, numa atitude consciente da criação. Lourdinha Leite Barbosa, em seu livro de contos “A arte de engolir palavras” já anuncia esse processo a partir do título da obra, que Vicência Jaguaribe bem marcou como uma reflexão metalingüística. O conto homônimo é uma metáfora desse exercício, sem dúvida.

domingo, 12 de junho de 2011

As dimensões eólicas da poesia de Dimas Macedo (Inocêncio de Melo Filho)

(Dimas Macedo)

 
“Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa”. Estes versos de Cecília Meireles traduzem o sentido da vida do poeta Dimas Macedo e de sua obra. Sua poesia se irmana às águas do Rio Salgado e ao vento que percorre os caminhos da sua literatura.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A poesia em Concerto (Aíla Sampaio)



O poeta Alves Aquino, encarnado no personagem Meia-Tigela, lançou, em 2010, o livro Concerto nº1nico em mim maior para palavra e orquestra. Poema, cujo subtítulo, “Combinação de realidades puramente imaginadas” traduz o movimento dialético que compõe sua criação, conjugando tradição e modernidade, realidade e imaginação. É, como a Bíblia, dividido em livros, mais precisamente, em 4, cada um com 4 subdivisões. Os números assumem importâncias e simbologias que, certamente, se explicarão ao final do seu projeto.