Menos vivi do que fiei palavras é um
livro de Nilto Maciel, uma espécie de relato (diário? Memórias?) que tem como
característica principal refletir sobre o seu processo de criação, enquanto
homem de Letras, mostrando o conflito entre seu ser e/ou não ser, no mundo da
Literatura, embora, às vezes, se mostre tomado pela preguiça. Nilto Maciel
revela labor diário de um escritor na consecução de sua obra, citando e
analisando, inclusive, livros de alguns autores, passando-os pelo seu crivo.
Trata-se, pois, de um volume de pequenos ensaios sobre os textos gestados no
seu íntimo, e trabalhos alheios, escolhidos a dedo, numa linguagem que passa bem
longe dos renitentes pruridos da esquizofrênica erudição que anda por aí,
incorporando cenas do cotidiano, traços de personagens e enredos que refletem a
existência daquilo que é ou não ‘arte da escrita’, ou seja, como Ariadne no
labirinto de Minotauro, Nilto Maciel vai desfiando o seu novelo de sabedoria,
sem fazer concessões a quem quer que seja.
O autor
usa o despojamento que lhe é típico para falar, de forma ferina, e, às vezes,
até demolidora, da criação literária, desafiando preconceitos e ferindo suscetibilidades,
dentro daquele princípio do ‘doa a quem doer’, porque ele sabe, e bem, o que é
construir e desconstruir padrões literários que acabam por valorizar ou
prejudicar ‘a arte da escrita’, e a que se destina, podendo, inclusive, os
autores em tela servir de inspiração para suas próprias composições, uma vez
que, nos interregnos das leituras, ele se vale das ideias expressas no que lê,
para melhorar as suas, porque vê a leitura como uma forma de recriação.
Não
estou aqui referendando nada, mas levando ao conhecimento dos leitores um autor
que tem personalidade e um discurso libertário que chega a beirar o catártico,
deixando, também, patente o grande metalinguístico e crítico que é!
(Jornal Sul Brasil, Chapecó, SC,
23/janeiro/2014)
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