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terça-feira, 15 de abril de 2014

O fiador de palavras (Silvério da Costa)



 
Menos vivi do que fiei palavras é um livro de Nilto Maciel, uma espécie de relato (diário? Memórias?) que tem como característica principal refletir sobre o seu processo de criação, enquanto homem de Letras, mostrando o conflito entre seu ser e/ou não ser, no mundo da Literatura, embora, às vezes, se mostre tomado pela preguiça. Nilto Maciel revela labor diário de um escritor na consecução de sua obra, citando e analisando, inclusive, livros de alguns autores, passando-os pelo seu crivo. Trata-se, pois, de um volume de pequenos ensaios sobre os textos gestados no seu íntimo, e trabalhos alheios, escolhidos a dedo, numa linguagem que passa bem longe dos renitentes pruridos da esquizofrênica erudição que anda por aí, incorporando cenas do cotidiano, traços de personagens e enredos que refletem a existência daquilo que é ou não ‘arte da escrita’, ou seja, como Ariadne no labirinto de Minotauro, Nilto Maciel vai desfiando o seu novelo de sabedoria, sem fazer concessões a quem quer que seja.

O autor usa o despojamento que lhe é típico para falar, de forma ferina, e, às vezes, até demolidora, da criação literária, desafiando preconceitos e ferindo suscetibilidades, dentro daquele princípio do ‘doa a quem doer’, porque ele sabe, e bem, o que é construir e desconstruir padrões literários que acabam por valorizar ou prejudicar ‘a arte da escrita’, e a que se destina, podendo, inclusive, os autores em tela servir de inspiração para suas próprias composições, uma vez que, nos interregnos das leituras, ele se vale das ideias expressas no que lê, para melhorar as suas, porque vê a leitura como uma forma de recriação.

Não estou aqui referendando nada, mas levando ao conhecimento dos leitores um autor que tem personalidade e um discurso libertário que chega a beirar o catártico, deixando, também, patente o grande metalinguístico e crítico que é!

(Jornal Sul Brasil, Chapecó, SC, 23/janeiro/2014)

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Nilto Maciel: dois livros (Fernando Py)




É certo que o cearense Nilto Maciel vem produzindo muito. Atualmente conta quase trinta livros publicados e, o mais importante, todos com uma notável diversidade de temas, estilos e situações, em textos de linguagem bem trabalhada e gêneros diversos: romances, contos, crônicas, novelas, artigos, ensaios e até um volume de poemas (Navegador, 1996). Recentemente enviou a esta seção mais dois livros, ambos publicados este ano pela Editora Bestiário, de Porto Alegre: Gregotins de desaprendiz e Quintal dos dias. O primeiro é uma coletânea de artigos e resenhas de livros. Os escritores que aborda, todos brasileiros, variam muito, tanto em gênero literário quanto em posição geográfica. Muitos deles são praticamente desconhecidos fora de seu Estado natal. Outros, bastante conhecidos em quase todo o Brasil, são em geral romancistas e/ou contistas como Miguel Jorge (Veias e vinhos, romance, e Avarmas, contos), Caio Porfírio Carneiro (O sal da terra) ou W. J. Solha (A canga), mas também cronistas (Enéas Athanázio) e, sobretudo, poetas (Francisco Carvalho, José Alcides Pinto, Joanyr de Oliveira, Salomão Sousa, Dimas Macedo, Floriano Martins etc). As anotações judiciosas e percucientes de Nilto Maciel provam que se tata de um excelente crítico, embora menos praticado do que o contista, o cronista e o romancista. E mostram principalmente que foi e é um grande leitor, um sujeito que leu muito a vida inteira e está sempre familiarizado com os escritores contemporâneos e os antigos, sobretudo os clássicos.
             
Por sua vez, Quintal dos dias possui uma base propriamente biográfica. Mas os dados biográficos estão sempre ligados a seus contos, crônicas e romances. Nilto Maciel se empenha em detalhar aspectos de sua vida que influenciaram suas criações literárias. E o faz com bastante liberdade, exemplificando toponímias e caracterizando determinados personagens. E tudo isso com uma destreza de elaboração, uma linguagem exata e cativante que torna muito agradável e proveitosa a leitura. Em suma, só temos a ganhar com a leitura completa destes dois volumes.

(Tribuna de Petrópolis, 13/dezembro/2013)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Refúgio de Sonhos (Hilda Mendonça)

 

Recebi, com alegria, mais um lindo livro de poesias do amigo Vili S. Andersen, de Brasília, e confesso: nada melhor que receber de presente de Natal um livro de poesias, ainda mais sendo de um poeta que admiro e com poesias tão ricas.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Testemunho das Estrelas (Mariel Reis)






O homem é o que ele inventa de si mesmo. O fato é real apenas enquanto acontece e extingue-se no instante seguinte. Ou necessita ser reinventado inúmeras vezes, tanto que a sua essência torna-se a própria mudança. Não há maneira de colocá-lo diante dele mesmo, exigindo-se que se reconheça. Ele terá a impressão de se enxergar ali, naquele lugar, naquelas roupas. Na fotografia, reconhecerá a si mesmo, suspeitando de que alguém lhe forjou o passado. Tudo que antes era reconhecidamente dele, noutro instante, desgarra-se. E todo um mundo em que anteriormente se tocava, desmancha-se. O passado é um fantasma evocado pelo memorialista. Toda a sua carne é feita de gaze fina, e a sua voz é melancólica como o canto do urutau. O memorialista (re) força a confissão do fantasma para resgatar o passado e tudo o que ouve é a própria voz costurando os vãos do cômodo.

Quintal dos Dias, de Nilto Maciel, escrito como um móbile, pode ser lido como a exorcização de si mesmo através da rememoração de sua própria trajetória. A memória é uma matéria informe e os fatos, quanto mais distantes, mais irreais. Mesmo na esfera pessoal, os tempos confundem-se: passado e presente agem simultâneos. E a mãe morta pode estar na cozinha, preparando o assado para o almoço domingueiro, ou aquele tio pode estar buzinando no portão para o passeio vespertino no verão pela cidade, em seu carro velho. As memórias, os dilemas e toda educação sentimental e literária exposta em uma linguagem cerrada, perfurante e comovente. E, sobretudo, serena. A evocação não é de um espírito turbulento, ou com vontade de um acerto de contas. O balanço não tem como saldo final determinado resultado. Tudo está reunido e desmembrado. Estranhamente. Ternamente. O narrador cáustico fustiga de impropérios os falsos amantes da literatura; em seu furor inquisitorial, aponta o dedo para os vendilhões do templo, cai vencido pelo cinismo e pela mediocridade do mercado. Depois da queda, o consolo: o tempo. O único remédio para todas as inquietações e destemperos.

Escrevi uma pequena nota, apesar da peroração do autor de Quintal dos Dias, em que perguntava, com interesse de resposta, às grandes editoras do país, qual, dentre elas, iria ao Ceará, inquirir a Nilto Maciel sobre seus alfarrábios. E, após intenso interrogatório, arrancá-los dele e publicá-los. A resposta ainda não veio. Certamente um dia, virá. Cedo ou tarde para nós ou para eles. Teremos como testemunhas apenas as estrelas ou talvez nem elas.  Se nenhum de nós mais estiver por aqui, procurem-nos pelas mangueiras dos longínquos quintais, nas sacadas repletas de luz, onde nossos rostos translúcidos trarão o tom de cada manhã e onde nosso corpo estará espalhado pelo que ainda é o dia.

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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Crônicas (Fernando Py)




Registram-se hoje dois volumes de crônicas do cearense Nilto Maciel. Como me tornei imortal (Fortaleza: Armazém da cultura, 2013) e Menos vivi do que fiei palavras: diários de literatura (Aparecida, SP: Editora Penalux, 2012). No primeiro livro, o autor, com cerca de quarenta anos de vida literária, fez uma seleção das crônicas que publicou em jornais e revistas nas quais se refere a nomes valiosos da literatura cearense em geral. São textos escritos com boa dose de humor, a partir mesmo da crônica inicial – que dá título ao volume. Neles, Maciel mais um a vez exibe seu conhecimento da literatura do Estado natal. Tanto se refere a nomes cearenses já conhecidos, quanto se reporta a nomes ainda à espera de consagração (como Luciano Bonfim e Clauder Arcanjo). De todos eles, Maciel traça um perfil carregado de humor e ironia, mas sempre com generosidade e interesse, juntamente de um rápido apanhado da obra deles. Com isso, faz uma espécie de revisão quase crítica da cultura de uma região, com sua multiplicidade de estilos e vozes. Pois, mais uma vez, verificamos que a literatura cearense está entre as melhores do Brasil, haja vista que chama a nossa atenção desde o nome de José de Alencar no século XIX. Evidentemente, o autor não cuidou de fazer a história da literatura cearense, mas em suas crônicas os escritores do Ceará aparecem com destaque, num conjunto tão bem urdido e harmonioso que quase parece um romance sobre as letras atuais desse Estado nordestino.

sábado, 28 de setembro de 2013

O olhar panorâmico de Nilto Maciel (Marcos Lima)




Chegou à minha residência, há uns dois meses, o novo livro de crítica literária de Nilto Maciel e estava devendo uma justa resenha para a obra. Interessa-me sempre a forma de escrita de Nilto, que, além de arguta e precisa, mantém uma característica tão importante e esquecida nos dias atuais: a visão do todo. Nilto é o crítico que, por meio das minúcias, nos ensina a enxergar e perscrutar toda a cena literária e não apenas uma pequena parte dela.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Impressões de um amador sobre a ópera Olga (João Carlos Taveira)





 
        O 3.º Festival de Ópera de Brasília apresentou, nos dias 3, 5 e 7 de julho de 2013, a ópera Olga, com texto do poeta Gerson Valle e música do maestro Jorge Antunes. O evento, que teve lugar no Teatro Nacional Cláudio Santoro, foi uma oportunidade única para os amantes do gênero e para o público em geral conhecer um trabalho de tamanha envergadura.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

De imortalidade e delírio (Ricardo Alfaya)



Caro Nilto,
Aproveito sua mensagem para registrar o recebimento de seu excelente “Como me tornei imortal”, cuja leitura estou fazendo aos poucos. Aliás, a crônica “Delírios verbais em tarde de setembro” poderia ter sido tranquilamente incluída nele.  Foi uma grande ideia que você teve o desenvolvimento desse estilo tão peculiar de crônica-resenha e, dentro dele, reunir em livro aquelas que dizem respeito a autores cearenses. Um aspecto interessante é que vc não perde o foco da crônica, da narrativa. Contar uma boa história se sobrepõe à ideia de fazer uma resenha rigorosa, profundamente argumentativa. Conforme faz na debaixo, vc até permite o convívio do argumento contrário ao seu. Seja ele ficcional ou real, certamente obriga o leitor a uma tomada de posição. E, no caso de desconhecimento da obra do autor citado, à procura de conhecer-lhe melhor o estilo para poder opinar. E há casos em que você nem centra tanto na obra, mas na pessoa do escritor, como faz nas dedicadas a Soares Feitosa e a Márcio Catunda, transformados em personagens envolvidos em narrativas especiais. Em suma, um livro sobre livros e autores, as principais e mais significativas aventuras das vidas da maior parte dos escritores. Afinal, poucos de nós são com Oscar Wilde, Rimbaud ou Whitman, que conseguiram ter uma vida real tão dinâmica e repleta de ocorrências quanto a própria obra que deixaram.
Continuarei lendo.
Um grande abraço,
Ricardo Alfaya

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sábado, 7 de setembro de 2013

Como me tornei imortal (Eduardo Sabino)



Nilto, boa noite (madrugada, enfim), recebi hoje, e estou aqui lendo, suas ótimas "crônicas da vida literária". Fico muito feliz que você tenha me incluído entre os remetentes de seus livros, pois gosto muito de sua escrita. Aprendo muito com o seu texto.

A preocupação linguística dos contos e crônicas é a mesma. As frases muito bem polidas, fluindo feito rio, com efeitos certeiros.

Gostei muito da crônica que dá título ao livro. O convite para ser imortal que você declinou, derrubando, com muita coragem, a ilusão dos brasões, títulos e imortalidades afins. A reflexão que você faz, aparentemente simples, do escritor como um não crente ou ao menos um ser indeciso, desconfiado, que se vê obrigado a forjar sua própria imortalidade pela arte, é algo que, tenho certeza, alojou-se na cabeça como só as leituras mais provocadoras conseguem.

E tenho que dizer também: que edição espetacular essa do "Armazém da Cultura", hein? Livro bonito, de bela capa e ótima diagramação. 

Abraço do seu leitor, 
Eduardo Sabino  

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