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sábado, 26 de novembro de 2005

Nos becos da fantasia (Nilto Maciel)


(Lautrec, Baile no Moulin)

A rede rangia nos caibros. Ia e vinha, cadenciada. Ele olhava para o telhado, olhos perdidos.

De tempo em tempo, dava novo impulso à rede, um dos pés no chão. O rangido se fazia mais acelerado e áspero.

Grande tolice embalar-se numa rede, quando havia um mundo inteiro em correrias. Àquela hora, seria enorme o burburinho nas ruas. Podia estar em qualquer delas, indo e vindo, à toa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

O soneto-conto de Glauco Mattoso (Nilto Maciel)


O imortal Gregório de Matos (1636-1696) ainda tem admiradores e discípulos. Um deles é Glauco Mattoso (1951). Mesmo imortal, o poeta baiano é tido por José Veríssimo como “servil imitador” de Quevedo (1580-1645). Além de pretenso imitador do poeta espanhol, Gregório é parodista de Camões e outros gigantes e poeta maldito, “sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas de uma língua européia recém-transplantada para os trópicos”, segundo Antônio Dimas (Gregório de Matos – Literatura Comentada, Editora Nova Cultural, São Paulo, 1988). Como o filho da Bahia, Glauco Mattoso também cultiva o soneto, de rimas ricas e versos decassílabos. E é maldito, marginal.