Estreou Nelson de Oliveira no gênero conto em 1997, com Os saltitantes seres da lua. Seguiram-se Naquela época tínhamos um gato (1998), Treze (1999) e Às moscas, armas! (2001). Em 2004 a Editora Lamparina, Rio de Janeiro, editou Pequeno dicionário de percevejos – Os melhores contos de Nelson de Oliveira. E é sobre este que se escreverá a seguir.
Em “Éramos todos bandoleiros” um menino conta as mil peripécias da infância com os amigos Alex, Franco, Felipe, Denis e Giba. O leitor, contudo, só perceberá no decorrer da narrativa que tudo não passa de jogo da imaginação infantil. Desde a primeira frase, ou desde o título, imagina um bando em ação: “Denis, sobrenome Pênis, estava encurralado”.Somente quando um dos personagens se refere à mãe de outro, concluirá o leitor que os bandoleiros são de mentirinha: “Aquela não é a sua mãe, ela está nos observando, Alex disse”.Veja-se: o contista não usa o vocábulo “bandido”, tão banal hoje, mas “bandoleiro”, como a querer situar a história no terreno do imaginário infantil, do tempo dos gibis, em que bandoleiros enfrentavam o xerife. “Meia hora depois, cem anos haviam se passado. Não éramos mais bandoleiros, não estávamos no Texas”.Mais adiante se transformam em índios. Os meninos brincavam no “jardim da casa abandonada”, no mato, nos trilhos do trem. Conto de ternura, da ternura das crianças, do mundo do faz-de-conta.