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terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Esses abraçadores da morte (Nilto Maciel)


Ao cimentar o último pedacinho de chão do quintal, o pai do inocente Joãozinho teve a primeira grande raiva de seu prodigioso filho.

– Por que você fez isso?

– Para acabar com os formigueiros, ora essa. Assim, elas (elas, quem?), as formigas nunca mais vão encher meu saco.

– Pois eu gostava muito delas.

Carlos Augusto Viana: Voo ao fundo do verbo (Nilto Maciel)

(Carlos Augusto Viana)



Quando Carlos Augusto Viana estreou em livro, com Primavera Empalhada, a crítica o saudou como uma revelação na poesia cearense. Dimas Macedo, no artigo “Uma Nova Dicção na Poesia Cearense”, fala de “um livro cheio de metáforas e de símbolos, e que traz, na sua textualidade, algo de novo para comunicar ao mundo”. Mais adiante, o crítico afirma: “Seus poemas estão repassados de evocações e de sutilezas semânticas, ao mesmo tempo em que ricos de sugestões e significados”. Passados 20 anos, Carlos Augusto apresentou seu segundo livro: Inscrições dos Lábios. Ao leigo pode parecer que o poeta andou este tempo todo longe da Poesia ou do fazer poético. Na verdade, Carlos esteve sempre dormindo e sonhando, caminhando e descansando, comendo e bebendo com a Poesia, lendo e ouvindo Poesia. Exigente ao extremo, não se deixou conduzir pela mão da facilidade, da pressa e da vaidade. Anos a fio, teceu e desteceu túnicas e mais dalmáticas, pintou-lhas, recortou-as, lavou-as – até sentir prontas as obras da sua tecelagem.