Translate

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Rosa dos ventos (Nilto Maciel)



Nenhum livro dormia à cabeceira da cama, nem havia copo ou comprimido à espera da mão sonâmbula de Rosa, que apalpava a cabeça, assanhava o cabelo, os olhos feito tochas a incendiar o quarto. Com a mão direita amassava o lençol e as dobras do pano fugiam-lhe entre os dedos. Com a outra buscava o corpo ausente de José, seu peito cabeludo, seus largos ombros, suas coxas grossas, seu duro queixo.

domingo, 14 de maio de 2006

Achados de um menino perdido (Nilto Maciel )


(Cidade de Baturité)

De certa forma, fui discípulo de Ailton. Adolescentes ainda, fazíamos versos, de preferência sonetos. Os meus não valiam nada, e pouco depois mandei toda a papelada ao lixo. Os dele são alguns destes agora reunidos em livro, pela primeira vez, passados tantos anos de sua morte. O que restou de tudo o que escreveu, apenas 30 poemas, alguns contos e fragmentos diversos. Há um poema datado de 1957, quando chegava aos 15 anos de idade. É verdade que são inúmeros os casos de escritores que escreveram obras-primas quando bem jovens. Porém, a maioria dos adolescentes deixa de lado as veleidades literárias também muito cedo. Não foi o caso de Ailton, logicamente. Porque tinha talento. Sua poesia é de bom nível. Não por saber metrificar e rimar, como todo bom poeta o sabe. Ailton sabia métrica e rima porque lia e estudava. Lia os bons poetas, como Castro Alves, um de seus ídolos. Sabia de cor páginas inteiras do poeta baiano. Escreveu poemas de excelente extração, a lembrar os românticos. Aliás, o vocabulário de Ailton é quase sempre romântico. E rico. E os versos românticos são o melhor dele. Quando pretende fazer poesia político-social, como em "Desperta, Brasil", só nos resta lamentar.