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quinta-feira, 15 de junho de 2006

As grandes editoras preferem subliteratura

(Nilto, Taveira e o editor Victor Alegria, em Brasília)


(Entrevista concedida por Nilto Maciel a João Carlos Taveira e publicada no jornal BSB Letras, Brasília, 10/11/1991)

JCT – Nilto, o que significa o ato de escrever, para você?
NM – No início eu escrevia por brincadeira. Era como jogar futebol ou brincar de esconde-esconde. Escrever era um jogo. Assim como ler. Eu lia com prazer, desde menino. Esse prazer ainda existe. Mas não é mais apenas prazer. Às vezes se torna dever, ofício. E também vício. Não, não é bem vício. Talvez apenas vontade de voltar a brincar, reviver a infância, o passado. Recriar o que esqueci, guardei na memória ou mesmo aquilo que existiu apenas em mim mesmo. Meus mitos.

JCT – Dono de uma bibliografia considerável e já com referência crítica em torno do seu nome, seus livros vedem bem?
NM – Acredito que a literatura seja a arte menos massificada. Se um livro é bem vendido, o mérito não é do autor, do livro, mas da mídia, dos profissionais de comunicação que conseguem fazer com que milhares e até milhões de pessoas se interessem por aquele livro. Não tenho a menor esperança de que um dia meus livros sejam bem vendidos. A menos que eu decidisse escrever sobre os amores de alguma dama da política. Mas não pretendo fazer isso.

JCT – A que você atribui tal pessimismo?
NM – Na verdade são poucos os escritores brasileiros que vendem bem. Uns são até consagrados no exterior, como Jorge Amado. Outros porque escrevem para alunos de 1º e 2º graus. Não escrevo para crianças ou adolescentes, apesar de três de meus livros terem sido editados com tal intenção.

JCT – Por que você não aceita o mercado infanto-juvenil, que tem sido a saída de muitos autores?
NM – Não me vejo um escritor profissional. Não que eu seja contra a profissionalização do escritor. Posso ainda escrever livros para crianças e adolescentes. Não descarto essa idéia. Porém sei que me sentirei meio deturpado, fazendo uma coisa por dinheiro. Claro que luto por meus direitos autorais. Não quero que interpretem mal estas minhas idéias. Além do mais, pertenço ao Sindicato dos Escritores.

JCT – Como você vê a questão editorial brasileira, em relação aos autores nacionais?
NM – Por estes dias deve sair o primeiro número da revista Literatura, de que sou editor. Nosso objetivo é divulgar livros editados por conta dos autores ou por pequenas editoras. Alguns escritores mais conhecidos, como Jorge Medauar, estarão presentes, opinando exatamente sobre este tema. A questão é quase que insolúvel. Não temos leitores, a não ser nas escolas. E geralmente de pequenas histórias. A poesia, o conto, o romance mais elaborado, estes não têm vez nem nas escolas nem junto ao leitor comum. As editoras só publicam romancistas norte-americanos, os piores. Não temos bibliotecas. A imprensa não fala de livros, salvo raras exceções. O quadro é, pois, péssimo.

JCT – Você concorda com alguns escritores que dizem já não haver mais leitores e os que resistem preferem o besteirol à literatura?
NM – Essa “preferência” foi imposta, está sendo imposta. Se as editoras só editam o besteirol, como os leitores podem preferir literatura? Os editores alegam que o público prefere a subliteratura, razão por que se dedicam a publicar apenas tais livros. Na verdade, o leitor inteligente, que leu e lê bons livros, este é mesmo minoria. Infelizmente.

JCT – Como você avalia a situação do livro hoje no Brasil?
NM – O bom livro é editado por conta do autor ou por pequenas editoras. Essa é a regra. A tiragem desses livros é de 500 a 1000 exemplares, que são vendidos a amigos. A subliteratura é editada pelas grandes editoras (que aqui e ali editam bons livros), em tiragens fabulosas, vendidas nas livrarias e nos supermercados. Livraria não aceita o bom livro dos autores desconhecidos, editados por pequenas editoras ou por eles mesmos. São duas categorias de livros perfeitamente distintas. Nem podem conviver juntas, no mesmo espaço. Quando isto ocorre, o leitor nem sabe distinguir um do outro. Para ele García Márquez é mais um desses escritores estrangeiros que escrevem romances do tipo sexo-espionagem-violência-drogas-etc. Eu vi muito analfabeto lendo O Nome da Rosa. Era moda.

JCT – Vale a pena ser escritor?
NM – Vale a pena viver, escrever, sonhar. E escrever também me dá prazer, como eu já disse. Ora, se me dá prazer, vale a pena. E vale muito. Acredito que se não escrevesse já teria morrido. Escrever é também remédio. Sobretudo para a angústia. A angústia é até mesmo matéria-prima para o escritor. Não só os poetas. Talvez o romance não seja o gênero apropriado para isso. Mas o conto também pode ser gerado a partir da angústia do escritor.
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Teoria do amor socrático (Nilto Maciel)




O professor Mendes não sabia com precisão quando tivera a ideia de escrever seu inconcluso livro. E não se arriscava sequer a falar do ano.

— Mais ou menos — instavam seus amigos.

— Pode ter sido em 64, muito antes, ou muito depois; não sei.

Bem, se não se lembrava do tempo da fecundação, dissesse então por que decidira criar a obra — exigiam os outros. Por querer celebrizar-se? Por admiração ao filósofo? Por puro diletantismo?