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domingo, 18 de junho de 2006

O homem que vioru saco

(Entrevista concedida a Rodrigo de Almeida, da Editoria do caderno “Sábado”, do jornal O Povo, e publicada em 26 de abril de 1997, Fortaleza, Ceará.)


O romancista, contista e poeta Nilto Maciel, um dos mentores do extinto O Saco, fala da dura tarefa de publicar revistas no Brasil.
É isto.
"Andavam ao léu, perdidos dos caminhos, farejavam restos de virgem violada e rastros de violador desalmado. Catavam frutas podres, corriam atrás das próprias sombras, atiravam em visagens. Já não sabiam para onde seguiam nem onde se achavam. Pareciam um magote de bichos misteriosos".
Esse foi um dos momentos de alvoroço vivido numa cidadezinha do interior cearense por causa da notícia de uma donzela raptada. Uma vila isolada dos grandes centros urbanos, com tipos simplórios, desde o vigário até o prefeito, todos nivelados pelas mesmas preocupações.
Verdade? Em algum lugar, talvez sim. Principalmente na ficção de Nilto Maciel, construída na novela A Guerra da Donzela. Num jogo verbal que ora tenta obedecer às lições dos clássicos da língua portuguesa, suas principais influências, ora reproduz o estilo brasileiro e lhe enfatiza as “cambiantes dialetais”, Nilto Maciel vem tentando já há um certo tempo a sorte – e a sina – de ser romancista, contista e poeta.

Passeio (Nilto Maciel)




Se a escada parasse de súbito, eu rolava e levava de roldão todo o mundo. Talvez fosse mais engraçado do que lamentável. Não, não posso cair nem machucar essa gatinha. É mesmo um amor de garota. E por que chamar as mocinhas de gatinhas? E nós de gatos, gatinhos, gatões? Eu, um gato? Qual nada! Sou antes um macaco, um bicho qualquer. Vou me olhar direito. Mas aqui não tem espelho. A não ser os vidros das vitrines. É isso mesmo. Faço de conta que estou olhando os calçados, os preços, como um possível comprador. Que tal uns sapatos pretos? Ou marrons? Uma ruguinha aqui, uns pés de galinha. Que sapato mais gaiato! E caro.