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quinta-feira, 21 de setembro de 2006

O menino e o bacamarte (Nilto Maciel)




(Para Airton Monte)

De batismo chamava-se João Alves Mendes, nome depois reduzido a Jão. Apelidou-se Carcará, dizendo-se danado.

Virou índio aos cinco anos. Despia-se e corria pelo quintal, espantando galinhas e porcos. Subia às laranjeiras e de cima atirava laranjas podres nos bichos. Deu para fabricar arcos e flechas com que irritava os galos. Queria matar todos os brancos da cidade com as armas nativas amontoadas no canto do muro. Crescia analfabeto e grosseiro, metido nos cafundós do quintal, sem reza e sem hora para nada.

A unidade de Babel (Caio Porfírio Carneiro)


Nilto Maciel é, e não de hoje, nome de expressão da literatura brasileira. Seus livros, todos eles, não se qualificam apenas pelos aplausos da crítica. Qualquer leitor que o leu viu, de pronto, desde o seu primeiro livro, que Nilto Maciel é um desses escritores que nascem feitos e irão até à morte em ascensão constante. E, para além da arte literária que produz, ele ajuda, como poucos, a empurrar para a frente esse “carro da miséria” que é a nossa literatura, uma cruzada sem fim contra tudo e contra todos, até contra moinhos de ventos. É, por tais méritos, um escritor íntegro e integral.