Não foi por acaso que Nilto Maciel intitulou Babel sua última coletânea de contos, aliás, nada é por acaso no livro. A referência ao mito bíblico deve-se tanto à variedade de linguagens narrativas adotadas pelo autor, quanto à idéia de destruição implícita no cerne delas – seja a destruição física, relativa à doença e à morte, seja a moral decorrente, da perda de inocência ou de paz interior.
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sexta-feira, 22 de setembro de 2006
quinta-feira, 21 de setembro de 2006
O menino e o bacamarte (Nilto Maciel)
(Para Airton Monte)
De batismo chamava-se João Alves Mendes, nome depois reduzido a Jão. Apelidou-se Carcará, dizendo-se danado.
Virou índio aos cinco anos. Despia-se e corria pelo quintal, espantando galinhas e porcos. Subia às laranjeiras e de cima atirava laranjas podres nos bichos. Deu para fabricar arcos e flechas com que irritava os galos. Queria matar todos os brancos da cidade com as armas nativas amontoadas no canto do muro. Crescia analfabeto e grosseiro, metido nos cafundós do quintal, sem reza e sem hora para nada.
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