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domingo, 1 de outubro de 2006

Calvário (Nilto Maciel)



Faca no cós, blusa aberta, calça arregaçada, João chegou à estrada, olhou para cima e para baixo e tomou o rumo da direita. Muito adiante, antigamente, havia uma cruz fincada no chão, junto à cerca, a indicar o lugar onde seu pai sofreu morte sangrenta. Não sabia quem, mas um espírito de porco, um cabra sem-vergonha, um filho de uma égua teve a petulância de arrancá-la e quebrá-la em dez pedaços.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

A Babel de Nilto Maciel (Maria José de Souza)



O livro de contos de Nilto Maciel recebeu acertadamente o nome Babel: uma miscelânea de linguagens, personagens e focos narrativos, numa seqüência de 31 contos, a maioria de um realismo fantástico notório.

Editado pela Editora Códice em 1997, Babel oferece 120 páginas de leitura vertiginosa. A cadência dos contos, assim como a diversidade de temas, levam o leitor num redemoinho de idéias e imagens.

Há contos como, por exemplo, "Avisserger Megatnoc", subdividido em intertítulos numerados em ordem decrescente que dão um ritmo próprio à leitura. O leitor vai lendo como se estivesse sem fôlego, caminhando para o inexorável fim. Lido ao contrário, o titulo "Contagem regressiva” dá a idéia exata de como o autor é experimentado, podendo fazer brincadeiras com as palavras sem cair nas associações óbvias. A ausência de muitas vírgulas, como no item 6 do conto: "Já pulavam dançavam gritavam cantavam e a banda estridava...", e o uso de palavras com repetição de fonemas e sons, como no item 5: "Corra só corra José socorra José direto sem curvas para o baile de máscaras corra corra...", faz pensar em pulsação, urgência.