Translate

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

O livro de Pedro Amaro (Nilto Maciel)



Sentia-se tonto, o mundo todo de pernas para o ar, feito barata emborcada, a remexer-se em agonia de moribundo sem vela. As palavras perdiam a conotação lógica dos textos regulares de uma lei, tratado sobre a natureza humana, curso dos rios. Via-se lendo a macabra língua dos mitos. O chão virava teto, a cadeira pregava-se como aranha às vigas de uma teia de circo, as linhas proféticas das mãos metamorfoseavam-se em desenhos misteriosos de capas clássicas.

domingo, 1 de outubro de 2006

De conto e contistas (Nelson Hoffmann)



(...) Nilto Maciel dispensa comentários. Autor por demais conhecido, sua obra é extensa e a crítica é unânime em reconhecê-lo como um dos principais nomes das modernas letras brasileiras. Natural de Baturité, Ceará, Maciel está radicado, há anos, em Brasília. Seu primeiro livro que aportou por aqui, pelo Sul, foi “A Guerra da Donzela” e chamou a atenção. Todos os anos é re-indicado para leitura em sala de aula.

“Babel” é o quinto livro de contos do autor e, conforme o próprio, um filho enjeitado. Não é. Em muitas de suas páginas ressuma o que de melhor Nilto Maciel escreveu. Perpassando as três dezenas de histórias que compõem o livro, fica-se com uma estranha impressão de maravilha, “déjà vu” e presença real. Há meandros que insinuam mundos kafkianos; há luminosidades que doem como a solama nordestina. Há poesia, há cordel, há povo. Folclore, padrão, elite. Virtude, mornidão, pecado. Crenças, crendices, fé. Homens, mulheres. Mundos.
Ler “Babel” faz a gente lembrar de Jorge Luís Borges. E uma leitura que lembra Borges, só pode ser de livro excepcional. Como este de Nilto Maciel.

(Jornal Igaçaba, Roque Gonzales, RS, novembro de 1999)
/////