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terça-feira, 17 de outubro de 2006

Os contistas estão ativos (Enéas Athanázio)



Em seu recente livro — “Pescoço de Girafa na Poeira”, (Bolsa Brasília de Produção Literária/Bárbara Bela Editora Gráfica — Brasília —1999), Nilto Maciel reuniu cerca de 60 contos, todos curtos, alguns curtíssimos, não superando nunca o limite de quatro páginas, e formando um conjunto de elevado nível. Embora econômicos no tamanho, no entanto, esses contos são completos, nada lhes faltando como criações literárias e ficcionais. O estilo enxuto e despojado do contista não precisa de maior número de palavras para dizer o que deseja, mesmo porque essas palavras são buscadas com cuidado para que sejam precisas no exprimir aquilo que a situação exige. Em outras palavras, o autor não precisa realizar círculos para atingir o ponto procurado. Tanto isso é verdade que seus contos criam sempre a atmosfera desejada, seja uma atmosfera de mistério, de medo, de expectativa, de tranquilidade etc.

Também criam com perfeição o clima para o desfecho tantas vezes inesperado, definido em poucas e precisas palavras, de forma fulminante, apanhando o leitor de surpresa. Acentue-se, ainda, a criatividade do contista, nunca se esgotando ou repetindo. A leitura desse livro, enfim, é um excelente reencontro com a boa arte do conto, exercida por um contista que vem merecendo muitos prêmios, inclusive os mais importantes — aplausos dos leitores e dos críticos. Este livro recebeu o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, em categoria conto, em 1998, colocando-se no primeiro lugar.
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(Jornal Balneário Camboriú, Santa Catarina, 9/12/2000)
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domingo, 15 de outubro de 2006

A ponte sobre o rio dos amantes (Nilto Maciel)


Só podiam estar em lua-de-mel. Tantos beijos, afagos, enlevados um do outro. Ela, vista de onde eu me achava, parecia ter seus vinte anos e ser muito bonita. Ou talvez se tratasse de beleza artística, cosmética, aparente. Ele também se vestia da mais fina elegância e dava ares de galã de cinema.

Não, não devia ser verdade. Eu sonhava ou talvez filmavam por ali. De onde haviam surgido? Por que tão bem aparentados naquele ermo? Ora, só havia o rio, a ponte onde eles namoravam e a estrada de que a ponte fazia parte. E mais nada. Só eles e eu. Eles esquecidos do mundo, eu todo ouvidos e olhos. E, apesar disso, eles não notaram minha presença, enquanto eu não perdia um só gesto deles, um só movimento das mãos, dos olhos, dos lábios.