Translate

domingo, 22 de outubro de 2006

O Saco dos mil e um contos de Nilto Maciel... (José Luiz Dutra de Toledo)

O SACO DOS MIL E UM CONTOS DE NILTO MACIEL: SUAS ALEGORIAS, FANTASMAGORIAS E CÍCLICAS PERPLEXIDADES LITERÁRIAS


Com as edições envelopadas de contos e poemas (O Saco – anos 70 do século XX – Fortaleza – Ceará) Nilto Maciel começou a se tornar notável e valorizado na cena literária nacional. Além de divulgar outras escritas expressivas e representativas da sua geração (marcada pelo intento de resistir à cultura sacralizada pelos governos autoritários que nos cercearam de 1964 até 1985), este escritor cearense refez seus percursos e resgatou suas fontes literárias (A. Kuprin, Émile Zola, Graham Greene, Júlio Verne, Menotti Del Picchia, Taunay, Camilo Castelo Branco, José de Alencar, Lima Barreto, Castro Alves, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Marquês de Sade, Blaise Pascal, G. Hegel, K. Marx, Paul Verlaine, Musset, Machado de Assis, Alexandre Dumas e muitos mais) e recitou-as em seus casos para desfechos inquietantes ou desconcertantes (desconstrutivistas e minimalistas) às nossas fisionomias e olhares boquiabertos. Picasso explica. Com seu estilo compassado, criativo e conciso, Nilto Maciel construiu pontes/ alusões inusitadas entre o seu imaginário literário e as mais ricas obras da arte de narrar e especular ao longo dos séculos XX e XXI. Por exemplo:
Franz Kafka e Nilto Maciel.

Uns seios (Nilto Maciel)





“E através dos anos, por meio de outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à daquele domingo, na rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos.” Machado de Assis



Pedrinho olhava distraído para os seios de Izaura, que se debruçara sobre a mesa para melhor distribuir o almoço.

– Provou do cozido, Severino?

Em vez de responder à mulher, o advogado deu um berro e pôs-se a descompor o hóspede.

– Esse menino não tem jeito. Vive dormindo em pé. Acorda, palerma, presta atenção às coisas!