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quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Os três botões (Nilto Maciel)


Questão de coragem, participar da brincadeira, porque tanto vocês poderão encontrar o jardim dos prazeres como a cela das dores. Ou ambos, na mesma jornada. E não há como prever nada. O resultado não depende apenas das três teclas.

Ainda ontem uma senhora saiu daí contentíssima, como se tivesse conhecido o prazer pela primeira vez. E sabem quais os botões que ela acionou? Struthio camelus, I Ching e Lesbos. Tudo por acaso, porque mal sabia ler. Viu-se acariciada das mais variadas maneiras por encantadora criatura. Não sei se jovem ou idosa, se macho ou fêmea. Falou-me da maciez do corpo do desconhecido. Tudo fica registrado aqui em videocassete. O resto o cliente me conta, se quiser. Depois reduzo a experiência a escrito nessas fichas: nome, idade, naturalidade, dia e hora da experiência, teclas acionadas, perguntas e respostas da entrevista com o recepcionista, etc. 

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Nilto Maciel: O discurso de um louco (Sérgio Campos)




Há escritores para quem a técnica se converte numa espécie de obsessão, um refazer constante em busca de seu arquétipo, às vezes consistente na linguagem enquanto processo(forma), outras na solidez de uma tese (fundo) que se converte em finalidade do próprio ato de escrever. Esse uso exaustivo e abusivo da técnica, mormente enquanto processo da escrita, acaba se convertendo em estilo, o que, como bem adverte Octavio Paz, pode transformar a obra literária em mero artefato.