Após perambular por ruas escuras e desertas, eu só queria dormir ou descobrir um modo de afugentar os urubus que me bicavam a solidão. Devia ser mais de meia-noite. Não se via uma só pessoa na rua e eu caminhava sem pressa. De repente pressenti que alguém me seguia. Ouvi-lhe a zoada das pisadas. Tranquilizei-me: certamente outro solitário vagabundo com quem poderia conversar por alguns minutos de caminhada. Pouco me importava fosse uma puta desleixada e doente, um bêbado sem rumo e delirante, um mendigo à cata de pouso e mudo. Olhei de esguelha e achei tratar-se de homem de passo firme e boa aparência. Andava na mesma vagareza com que eu passava pelas casas dormidas. Estranhei não se aproximasse um metro sequer de mim E se se tratasse de um assaltante? Deveria enfrentá-lo ou correr? Meti as mãos nos bolsos. Nada me faltava ainda: chaves, cigarros, lenço, documentos, dinheiro. Apressei o passo, por cautela. Logo, porém, mudei de idéia. Seria mesmo um mendigo e não me custava nada dar-lhe uma esmola e um boa-noite. Também logo desisti da piedade. Devia ser um estrangulador, um maníaco qualquer.
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segunda-feira, 6 de novembro de 2006
sábado, 4 de novembro de 2006
A guerra da donzela (Valdivino Braz)
Nos "Primórdios" da narrativa um fato já desponta de modo a fixar-se na mente do leitor e aí permanecer sedimentado durante toda a trama engendrada pelo escritor (ou, por outro lado, pela personagem Thaumaturgo), vindo à tona sempre e à medida que o nome de Antônio Jucá vai surgindo em meio à trama. Um fato comum, o querer o filho vingar a mãe com a morte do pai, mas tratado com técnica e arte, de modo a descortinar um outro painel, paralelo e rico de conteúdo. O desfecho do romance, quando tudo culmina como um clarão, ligando a parte final aos primórdios, constitui uma prova disso. Uma trama bem urdida, capaz de prender o leitor e conduzi-lo até o fim. Ao final, tem-se todo um quadro de situações para se refletir e dele depreender realidades, posto que armado a partir do verossímil.
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