Eles liam pausadamente, compassadamente, demoradamente. Liam em voz alta, para que todos ouvissem suas palavras. Às vezes cantochão, deslizar suave de água mansa. Alguns chegavam a cochilar. Adiante, a voz se fazia áspera, gritante. Arregalavam os olhos, empertigavam-se. Nenhuma atenção fugia do leitor. Todos encantados. Para mim, no entanto, o salão se enchia de palavras ininteligíveis. Ou então nunca mais voltei a ouvi-las, apesar de ter sempre os ouvidos atentos. Eu todo me voltava, em todos os sentidos, para o que diziam e faziam. Os livros passavam de mão a mão, assim como meu corpo infante, num ritual monótono. As mãos, aquelas mãos tão diferentes entre si, às vezes brutais, voltadas unicamente para os livros e as palavras. Aquelas mãos que de mim faziam mero objeto, obrigado a estar e ouvir. E a girar.
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sexta-feira, 10 de novembro de 2006
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
A guerra da donzela (Silvério da Costa)
Li-o na praia, durante as férias, e me encantei! Nilto, que é um contista nato, dos melhores que este país tem, provou, com este livro, que também domina a novelística de forma irretocável. Embora publicado em 1982, ele foi, para mim, um excelente presente de fim de ano, pela forma como a leitura mexeu comigo.
A obra relata a história do suposto seqüestro de uma donzela, que ninguém sabe quem é. Tudo se desenrola a partir de uma falsa notícia que se espalha e transforma, rapidamente, num alvoroço generalizado, com a adesão, incontrolável, dos perseguidores do raptor. O grupo agiganta-se, assustadoramente, perseguindo pessoas, invadindo casas e acabando no mato, à entrada de uma gruta, onde, supostamente, estaria escondido o raptor. Só que a gruta era habitada por monstros que só existem, é claro, no inconsciente coletivo daquela comunidade e cuja origem está ligada a determinados valores, como a moral e a ética.
A guerra que se trava, portanto, é basicamente cultural e comportamental, deixando ao léu cenas e atitudes tão patéticas que beiram as fronteiras do ridículo e da paranóia.
Claro que outras leituras podem e devem ser inferidas, não fora tão rico e abundante o poder imaginativo de Nilto Maciel, que se valeu da linguagem poética, em grande parte da obra, para emocionar ainda mais a ação.
(Diário do Iguaçu, Chapecó, SC, 24/3/1999)
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