Através do registro simbólico, o romance de 30 colocou a grave pergunta sobre a teimosa permanência da miséria nordestina. Os dramas regionais então representados pela Literatura lograram receber uma resposta a partir da utopia configurada pelo "nacional desenvolvimentismo" dos anos 50 e 60. Estaca Zero1, de Nilto Maciel, irá renovar a pergunta formulada por aqueles romancistas sociais, conectando Literatura e História por meio de uma intertextualidade deliberada, sardônica e emocional, capaz de sustentar o painel alegórico do cruel processo de nossa formação social.
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sexta-feira, 10 de novembro de 2006
Rotação (Nilto Maciel)
Eles liam pausadamente, compassadamente, demoradamente. Liam em voz alta, para que todos ouvissem suas palavras. Às vezes cantochão, deslizar suave de água mansa. Alguns chegavam a cochilar. Adiante, a voz se fazia áspera, gritante. Arregalavam os olhos, empertigavam-se. Nenhuma atenção fugia do leitor. Todos encantados. Para mim, no entanto, o salão se enchia de palavras ininteligíveis. Ou então nunca mais voltei a ouvi-las, apesar de ter sempre os ouvidos atentos. Eu todo me voltava, em todos os sentidos, para o que diziam e faziam. Os livros passavam de mão a mão, assim como meu corpo infante, num ritual monótono. As mãos, aquelas mãos tão diferentes entre si, às vezes brutais, voltadas unicamente para os livros e as palavras. Aquelas mãos que de mim faziam mero objeto, obrigado a estar e ouvir. E a girar.
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