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quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Masmorrer (Nilto Maciel)


O GRANDALHÃO
percebeu o Rapazinho a olhar para suas pernonas cabeludas e virou a cabeça, afobado, para o outro lado. Certamente pensa no mundo lá fora, na longa viagem ou em qualquer acontecimento de seu passado. Ou pensava. Abaixou a cabeça, coçou as suíças esquerdas, rum rum rum. O Ruivo ergueu as sobrancelhas a se apagarem ao sol e passeou os olhos esbugalhados pelas faces dos companheiros de pernas estiradas ao logo do chão. E fixou-os, assustados, no negro dos olhos do Baixote sentado ao ângulo oposto ao seu. O Baixote abriu um sorriso preguiçoso nos cantos da boca, que murchou abrupto num olhar para o céu. Nuns olhares para os céus. Nada de especial lá em cima: só o sol a pino e brancas nuvens a deslizarem, desgovernadas, feito barcos sem remo. Aproveitou-se da distração geral para sacudir a dormência das pernas e fazer um careta assombrosa. Mexeram-se odiosos os lábios grossos e o queixo barbudo do Grandão e os quatro muros de pedra entoaram um grito de guerra: vamos ficar aqui parados esperando pela morte? O Rapazinho levou a mão da testa ao queixo e deixou-a por mais segundos no nariz. O Cabeça Chata tremelicou de assombro.

ESMURRARAM OS MUROS
como se um deus medonho os impelisse a rir com o rigor dos furiosos, aviando as raivas grudadas nas profundas de seus desejos sufocados. Fizeram-se bumbuns estrondeantes. Qual das quatro paredes seria a mais frágil, a mais demolível, a mais rachável ao som daquele bater insistente? Pedras! Partiram da coragem recém-parida a decisão de agir do Ruivo, que girou sobre os pés, dançarino saltitante. Mas nada de pedras havia, nada que pudesse de picareta demolidora servir, nada além de mãos, corpos exauridos de esforços e fadiga.

ESCAVACARAM AS RÍGIDAS E PÉTREAS PAREDES ESCURAS
com as mãos cansadas, embora calosas, másculas, musculosas, insetos sem eira nem beira nem ramo de figueira, naquele mundão de pedra, ferro e concreto, grandes insetos amordaçados pela prisão e pela morte no oco do mundo. E feriram-se as pontas dos dedos, caídas as unhas de tanta labuta, rac rac rac, e encheu-se o pátio de imprecações desesperadoras: Que crueldade! E os muros insensíveis se lambuzaram de crueldades sangrentas.

NAQUELE ABANDONO
mais intolerável que as barbáries dantanho, naquela imensa solidão, naquele estar livre de donos ou chefes, o continuar a ser seria uma quimera inalcançável, cansável. E famintos da fome fugida dos vales de lágrimas, governados, reinados, imperados, e asilada naquele minúsculo campo de morte, entoaram gritos, gemidos roucos e loucos e mirraram os mirtos, as murtas semimortas que não mais puderam escavacar, cavacar as rijas paredes pétreas, concretas erectas e caíram, desfalecidos, sangrados, as mãos calosas, embora rubras tinturas tingidas e os muros tão duros de misteriosas imprecações de crueldades pintados, tão iníquas e ferozes para humanos corpos mui frágeis diante de quão estúpidos e cúpidos minerais. A inércia do cansaço e da fome e do desespero nascida e da inépcia humana diante das pedras inúteis, vorazes, ferozes.

O EXCITADO RAPAZINHO
viu estrelas no céu e um sol que se apagou, ai, e cambaleou como se o peso do globo sobre seu corpo rolasse e lento caiu. Os olhares capiongos, molengas, capengas, famintos de seus ex-companheiros se foram encontrando na altura distante de seu corpo inerte. E olharam tão longos com seus olhos tão grandes e suas vistas tão miúdas o corpo mais magro alvacento de fome caído, molambo quem sabe já findo. Se sentiram penas da leveza do corpo franzino, o sentir não disseram.

O muro... o muro furar já não pode, espirrou vagarosa de dentro do Gigante uma voz de quem perde inseparável amigo do peito.

O Ruivo, a lembrar a negrura dos olhos do caçula então estirado qual lençol mal lavado, piscou: vai morrer, se não já morreu.

ENTREOLHARAM-SE FEITO URUBUS SONOLENTOS
capengaram ao redor do magrorrível cadáver. Seus olhos brilharam, luzes de azeite, e num leve roçar dos ventos da tarde balançaram pendentes, feito chamas na noite.

Estamos com fome, fome demais, curvou-se o costado já menos largo do antigo Sansão.

Um minuto dançou no espaço por entre a estática dos três masmorrentos que lentos se acocoravam num rito profano, círculo macabro ao redor do caído.

Mexeu-se o Ruivo pralápracá, lenguelengue, e de todo este esforço brotou mansa mensagem de vida longuinha: a carne dele... e um suspiro tremeu em seu todo até derramar suores da face incolor no chão ressequido ou nas pontas inchadas dos pés alargados. Pulo ágil qual fera faminta: então vamos, vamos logo! O novo Grandão sobre a massa deitada que pareceu (ou fantasma, meu deus?) defender-se do assalto do alto repentinamente inesperado e por fim mais dois se fizeram, embora mais lentos ou tardos, rasgando-lhe as carnes já mansas, cordeiros de deus, à custa de mordidelas sangrentas com suas sujas e horríveis bocarras, sarracob sarracob.

UM MONTINHO DE OSSOS BRANQUÍSSIMOS
ao pé do muro jazia de jazigos esquecido. E distantes solitários em si dormiam nojentos chacais, bestas suspirantes, porcos roncadores, demônios em sonhos. E de suas crateras imundas esgotos vermelhos evolava um odor de monturo e carniças, tingindo o ar dum cinza opaco nevoento, prenúncio de grandes tempestades, abismos insondáveis, noites trevosas.

MEIA-NOITE O DIA ABORTOU
nos olhas medonhos medolhos do Grandão que acordou assustado, suado, sujado e debateu-se no chão qual pássaro de asas quebradas, olhou pra noite grandona de seu espelho partido e escancarou a bocarra nauseabunda. Dobrou meio corpo alquebrado, sacolejou os ombros cansados e fez-se ereto, feito macaco primevo. Através da luz dos céus tão distantes descobriu as figuras adormecidas de seus comparsas, cismou, tremeu, recordou o recente passado, os ossos como a se triturarem nos cantos do muro, como se deles se alevantassem almas penadas e abraçá-lo viessem quais brancas jibóias. Gritou, esmurrou a parede, chutou o montículo de ossos que saltaram pelos quatro cantos daquele estreitíssimo mundo de mortos, acordando os dormidos de contentamento do banquete de ontem: malditos! Nas trevas o esbravejo destruía os sonhos.

MONÓTONO BATICUM
pumpumpum se paria do encontro daquelas sofridas, sangradas, disformes, calosas, pétreas, férreas mãos com os muros odiados, horizontes de pedra. E no doudo bater as mãos mã mã mãs sam sã sãs soam so-ã ãã ai aiai ais gemiam.

Durante horas e horas batucaram possessos nos juros-feitiço num ritmo desvairado de ritos desesperados, em suores e ódios, escavadores de minas profundas em busca de riquezas brilhosas, ávidos, imávidos, cansados, cambaleantes, sambaleantes de fome e dor.

UM PÁSSARO VOAVA NO CÉU
e se aproximava feito nuvem grávida. Sim, o grande pássaro ancestral piava nas entranhas agouros de desesperos e medo da morte e nos cérebros entorpecidos desejos indomáveis. E se retorciam, mágicos obscenos, crispavam as mãos desfeitas em cores e líqüidos indefiníveis em movimentos ritmados, como querendo saltar sobre as garupas mais próximas. E esmurravam odientos e horríveis as rochas firmes e impenetráveis, inconscientes da mentira de todas as sabedorias: as pedras duras não se abalavam sequer ao bater das águas moles.

O RUIVO TREMEU E CHOROU
e de seus antigos lábios escapuliu a anunciação temível: ela voltou. Logo, muito logo, um quem cretino se evaporou das restantes bocas, a ensurdecer o muro e escancarar os olhos e encher o poço de espantos medrosos.

Acocoraram-se lentos e abraçaram-se febris. O Ruivo principiou a nomeação da teimosa assassina: fo...

O GRANDALHÃO OS DENTES RANGEU
e babou e a pesada ainda mão direita desviou da inquebrantável parede para a nuca suada do Cabeça Chata ao seu lado. Como um boneco de palha, o raquítico espantalho abraçou-se ao muro e lenta, lenta men te es cor re gou pro chão num gemido plangente.

O Baixote afastou-se num passo em falso, fugindo à fúria, e benzeu-se medroso e heróico:

Que foi?

Os dois companheiros dobraram os joelhos fervorosos sobre o coitado caído e rezaram-lhe as carnes, repletos de esperança.

AGIGANTOU-SE A BRANCURA
num dos cantos do muro. Nos demais os faustosos gargântuas cochilam, acordam, gemem e se assustam e se olham e descobrem fantasmas por todos os lados. E se grudam às paredes perdidos no fundo do poço com medo dos olhos, dos ossos, dos pés que caminham, das mãos que agarram, das mentes que pensam. E se abraçam ao silêncio e recordam os bumbuns e não podem jamais esmurrar as paredes, de costas para elas. E a luz não veio e a treva se fez. E a morte era louca a voar e gritar debaixo das terras, detrás das paredes, nos ares distantes.

IMENSO TOURO MANSO
ergueu-se e vislumbrou num canto o Sarará que esticou as pernas mole, olhos fixos na frente e noutro o Baixote que chutou o cochilo com violência antes de Golias o engolir.

Do fundo do poço almas penadas lembraram os ossos insepultos, antes repasto que imagem. E o convite “vamos” veio a seguir da alva podridão do Gigante. As outras bocas ressequidas se abriram numa reprise estropiada. Imóveis, apenas piscaram os olhos semicerrados na direção dos restos acumulados.

A temeridade do hércules-quasímodo comandou a investida do minúsculo batalhão: Vamos! E caminhou passos trôpegos de brucutu rumo ao alvo cúmulo de ossos reluzentes das luzes dos corpos celestes distantes. Dobrado qual fiel, o Ruivo implorou: Jogue um, em incrível semientrega do ângulo frígido às suas costas, enquanto noutro extremo o Baixo ar ar arfava e migalhava um naco naquinho de tíbia ou costela.

O Grandalhão já mordia, lambia, chupava os ossos ressequidos mas orvalhados pela frieza da noite que descambava pé ante pé pros abismos da infinita nostalgia. E, no meio de toda esta negrura espantosa, brancura dos ossos e dentes do guloso nocauteador engelharam as faces, suores correram e rangeres rasgaram os tímpanos sujos dos dois: Palermões! E, em gozo ou gemido, o fantástico comilão imaginou gordurosas e tenras coxonas de porco como não conhecera jamais. Assuntou e assustou-se com os próprios ruídos que faziam seus dentes na dureza dos ossos e num choque imprevisto arremessou os dois fêmures contra os sonolentos espiadores. Que se defenderam e agradeceram a dádiva voante qual pássaro crescente em alvura e rapidez. E partiram o crânio rolante, bola de neve a agigantar-se, e raquíticas costelas pra saciedade das fomes enormes dos jecatatus acocorados. E a madrugada escorregou pelos muros feito gatunos fantasiados de amarelo clarinho.

GIGANTESCA ESTRELA
acordou o delírio nos três mosqueados que espiavam os suores e esgares espraiados por toda a extensão de suas pálidas máscaras.
O derrotado hércules sussurrou um grito no vastíssimo cubículo, ei solidário que aos outros um susto medonho causou e se verbalizou num huumm bivocal qual trovão. E uma tempestade de babas e fantásticos motores voou sobre as pistas de pouso molhadas: cuidado, pilotos, voar é preciso, buscar as alturas. E as mãos se estraçalharam de encontro às testas frias, suadas. Desastre!

MEUS DESGRAÇADOS IRMÃOS
bradou maquiavélico o líder por obra e força: é preciso a morte de mais um pra saciar nossa fome demais. Quem quer a mim se aliar pra se empanturrar de couros e ossos?
Como trôpegos insetos em busca do abrigo do abraço definitivo, a vomitar eus que se misturaram e rangeram por pouquíssimos segundos, os dois inimigos correram malditos em busca dos braços mordaços do valente chefão. O Baixote se esfregou nos metros de muro e desequilibrado esparramou-se aos pés mui crescidos do provocador. Ligeiro, o Ruivo frenou a um passo do corpo recém-derramado.

ABRAÇADOS FEITO FERAS
pareciam um só disforme corpo a contorcer-se em agonia dolorosa e entrelaçados como titãs apaixonados, fungavam, mordiam, urravam, choravam, morriam pela vitória sem sentido. Súbito estupenda marrretada prostrou-os para a carnificina final.

TODA A CARA FEROZ DO TITÃ
penetrou crac no pescoço quebrado do Ruivo que emitiu um ai doloroso e profundo. Jorrou por toda a redondeza um líqüido quase vermelho annnn e o espanto do rosto místico do incrível vampiro cresceu. Outro crac noutro pescoço, outro ai pungentíssimo e a mesma danação de tinta rubra salpicou e cegou o monstro que alevantou a cabeçorra lambuzada pra sorvê-la como a límpida água da fonte da vida que bom, qui bum quibum, chuuuu, lept lept, não mais ais, só lepts-chus-cracs, violentas mordidelas, vampirescas, medonhas, vorazes, ferozes, vermelhos olhos enterrados nas carnes ossudas: olhos, nariz, boca, a cara toda enfiada nas magrezas, a roer já rija ossatura aiaiai.

TANTA FOI A FARTANÇA
e quanta a festança que o solitário golias, já divinizado, gemeu e gemeu por dias e dias, gritos de dores, contorções de berros, enormes diarréias derramadas, sujeiras demais recriadas, envolto em sonhos pesadelos à beira da morte e da loucura, ai que desta vez eu morro sozinho no meio do horror, entre quatro paredes perdido num mundo de podridões e ossadas.

BATALHAS? QUE BATALHAS?
Rapinas aqui não houve jamais, este mundo sempre foi pequeno assim, cercado por quatro muralhas de bronze e minhas asas eu as quebrei em luta titânica contra pássaros de fogo, porque se asas ainda tivesse, juro: voaria para a estrela menor deste céu e estes muros, estes estreitos e baixos murinhos deixaria pra trás, para sempre fugiria pumpumpum, e os ecos tão frágeis dos bumbuns quase mudos soavam nos muros pumpumpum. Bateu e bateu té as mãos se racharem e os dedos doerem até perto dos ombros mui largos, das costas e dos pés inchados e grandes. E pontapés desferiu a torto e a direito, insultos bradou à secular muralha de pedra erguida gigante qual forte antigo, para cair em sangues, como se chibata de ferro açoitasse constante, e dormir de sofrer de viver entre quatro paredes de ferro, de pedra, de bronze, de diabo, satanás, maldição.

A FOME ACORDOU-O FERIDO
vermelho, distante da podridão das carnes não devoradas, dos restos dos outros derretidos no chão calcinado de sóis amarelos tão próximos e gastos de tanto arder na fogueira dos tempos incontados, perdidos entre espaços no espaço tão curto de quatro paredes, muralhas de ferro, de bronze, de pedra. Ergueu-se bambo molambo e tombou e dançou de sono ou fraqueza, a vomitar arco-íris, sangues e fezes. Prostrou-se por sobre as recordações dos montes de ossos: franzino rapaz fugiste primeiro, cabeça chata que apenas gemeu ao murro feroz e dois imbecis a brigar por mim neste chão asqueroso de pedras e horrores, que coisa, meu deus, livrai-me da fome, da dor, da prisão, desta vida maldita, levai-me, meu deus, devorai-me, matai-me, senhor.

O SOL VERMELHO-AMARELO
dançava entre cordeiros brancos no palco azul e lindo lindo. No horizonte a guilhotina se espremia feito caixa mágica e estranhas figuras de lobos se contorciam no poço e penetravam em sua boca e se metiam em seus olhos lúgubres, cisternas onde boiavam gêneses e apocalipses e passeavam pelos labirintos de seus ouvidos e faziam bacanais nas profundezas de seu cérebro com as formigas-mastodontes que corriam nos prados e se atolavam nos pântanos e se revolviam em convulsões e se expeliam em cachoeiras de detritos que queimavam a terra revolta, abalada, sofrida.

O LOBO DECRÉPITO
correu, saltitou, farejou, lambeu-se, sonhou, saltou os baixos muros do forte e caiu de bruços, de costas, estatelado, a beber sol, lua, estrelas, nuvens fugitivas no alto ou no baixo do terror instalado no universo em gritos, loas satânicas para expulsar os animais descomunais passantes preguiçosos dos labirintos das montanhas amarelas.

SILENCIOSO CRAC
ouviu-se, quando bruto safanão fez sangrar até às raízes a árvore murcha entre as duas colunas. Depois abocanhou guloso, como se mastigasse os frutos primitivos da árvore da vida, a morder voraz o cacho que balouçava ao sopro do vento. E, neste ritmo, correu atlético, fauno castrado, a esmurrar a parede, maldita bastilha, sou bravo, sou forte, sou filho das selvas, meu canto de morte, guerreiros, ouvi.

HORRÍVEL FIGURA
que espelho não via, sorria contente de ter esmurrado a pedra erguida dez metros de altura e chorou a seguir de mais fome sentida e sentado lambeu e mordeu e comeu os dedos inchados dos pés muito gordos de tanto correr. E comeu satisfeito e bebeu o licor que dos troncos corria.

NO SONHO CORRIA
e cantava estranhas canções de guerra e de paz, de amor e de ódio. E com Jesus conversava, com o Ruivo, com todos os fantasmas que dormiam nos vermes e contentes da vida e da morte passeavam no pátio. E jantou dedo mindinho, seu vizinho, maior de todos, fura-bolos, cata piolhos, chupeta na boca, a cantar cantiga de ninar, dorme menino, eu tenho o que fazer.

AS AGUDAS LÂMINAS DO FRIO
picotaram seu corpo e um pássaro agourento piou lá nas alturas e bateu as asas com estardalhaço. Assustado, correu e pulou para ver nas dobras das asas do pássaro gigante uma negra aranha grudada. A bandeira hasteada tremia, mostrava e escondia a cruz gamada da imensa masmorra.
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segunda-feira, 13 de novembro de 2006

A estética de um ritual (Batista de Lima)


Estaca Zero, de Nilto Maciel, é um ritual. Só isso. Nada mais seria necessário dizer, após a leitura das 66 páginas desse romance. Ou como ele próprio diz, pela boca do personagem Cesário Valverde: "um bom esboço de romance" (pág. 65), onde "tudo é obra de fantasmas" (idem), e também onde "se resiste à custa de palavras" (66).

Por falar em personagem, não se sabe em torno de quem gravita a narrativa. De Cesário, que encabeça os principais aconteceres em primeira pessoa e discurso indireto? Da favela "Estaca Zero”, que é a síntese dos problemas sociais e periféricos de qualquer metrópole brasileira? Ou do próprio fazer do romance, da metodologia do narrar? Tem-se, pois, três opções a seguir, como três saídas labirínticas que partem de um eixo central que é o enredo engendrado pelo autor.