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sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Pescoço de girafa na poeira (Nilto Maciel)




Mal o dia amanheceu, Fátima arregalou os olhos, assustada. Que horas já eram? Conteve-se. Todos ainda dormiam. Até seu pai. Se pulasse da rede, despertaria a mãe, as irmãs, os irmãos. E seu plano poderia gorar. Melhor dormir mais um pouco. Afinal, talvez tenha permanecido acordada grande parte da noite. Não se lembrava de nenhum sonho. E sentia sono.

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Conservatórias de Palma (Jaime Collier Coeli)



 
Os Varões de Palma, romance de 1.994 de Nilto Maciel, encaminha o leitor para uma questão cruel: não nos faltam instituições sólidas, mas para que servem? Da grande variedade de conservatórias, resta a dúvida, no mínimo incômoda: conservar o que e para que?

Nilto Maciel nos revela o que aparenta esconder, com muito bom humor. Ele nos escamoteia o tema do conhecimento, nos equívocos dos varões da cidade de Palma, que bem conhecem seus desejos e interesses, mas não os expressam. Inutilmente inventam interpretações, devidas à ignorância ou à hipocrisia, sem conseguir invalidar antiga constatação de Terêncio: homo sunt et nihil humani a me alienum (Sou homem e nada do que é humano me é estranho).