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segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Remição (Nilto Maciel)




“O amor e a morte trazem gozo para o espírito; também acalmam o corpo após um transe rápido e orgástico”. Manoel Lobato, O Cântico do Galo

Naquela noite Dr. Paulo tudo fez para não mais pensar em Helena. E quase nela não pensou. Como se tivesse morrido uma paciente qualquer. No entanto, não dormiu logo. Mesmo depois de tomar um comprimido de Gardenal. Talvez quisesse apagar da retina a imagem daquele corpo agora debaixo da terra. Dele e de seu fruto. Vagou pelo quintal da casa de sua infância, pela cama da mãe adotiva, pelos corredores da Santa Casa, e se acomodou no orfanato. Reviu companheiros de estripulias, ressuscitou a galinha que um dia furtou para matá-la. Por onde saía o xixi? Arrancou-lhe penas do rabo, futricou-lhe a cloaca com um dedo. Exasperada, a ave esperneava. Excitado, ele torceu-lhe o pescoço. E realizou a primeira cirurgia de sua vida. Com o canivete de ameaçar meninos zelosos e delatores cortou ao meio a galinha. Insatisfeito, examinou-lhe o intestino e o oveiro. Retirou bosta e óvulos e imaginou fogo onde pudesse assar a carne.

Os varões de Palma (Silvério da Costa)



 
Recebi do caro amigo Nilto Maciel, escritor e poeta de Brasília, o seu livro mais recente Os Varões de Palma, com o qual me deliciei! Trata-se de um romance popular com muito de universal, pois narra o mundo de Palma, uma pequena vila cuja população se perde em torno de uma égua, escolhida para satisfazer uma vingança. Sendo ela o centro das atenções, desde que aparecera, inesperadamente, junto ao cruzeiro, coube ao autor tirar proveito do episódio para envolver, do começo ao fim, o leitor. Lançando mão de uma linguagem coloquial, entre o picaresco e o poético, ele nos mostra, numa sucessão de criativos e inesperados incidentes, em que o misticismo se mistura à libertinagem, até onde vai a imaginação do homem, e do que ele é capaz.