Nilto Maciel não é só um escritor. Além de um bom escritor e de um imprescindível articulador literário, é o artista da palavra que sabe compreender e assimilar os avanços estilísticos de seu tempo. E, como tal, procura, sem nenhuma demonstração de cansaço, o aperfeiçoamento do próprio estilo, para melhor conduzir a narrativa na construção de seus personagens. Nesse sentido, sua escritura o aproxima não de um Graciliano Ramos, também nordestino, mas do Machado de Assis maduro e inconfundível de Quincas Borba e Memorial de Aires.
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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
O sonho da princesa (Nilto Maciel)
Fugiu do castelo montada num cavalo branco. A noite parecia a mais escura de todas. E se bruxas saíssem em seu encalço? E se vampiros sedentos de sangue virgem a esperassem nos atalhos? E se o dragão, aquele imenso monstro, aparecesse? Pela estrada, porém, seu pai, o rei, todo dia cavalgava. E nunca o atacaram seres maus. Se o atacassem, seriam dizimados por sua furiosa espada. E pelas armas dos leais soldados.
Havia, porém, outro perigo. Se o cavalo deixasse a estrada e se metesse na floresta? Não, aquele cavalo, o predileto do rei, não se atreveria a cometer tamanha insensatez. Nem ele nem outro. Nem mesmo cavalos cegos.
Reclusa no castelo, a princesa imaginava reinos distantes e, sobretudo, seu príncipe encantado. Quando o conhecesse, imediatamente se casaria com ele. Teriam muitos filhos e viveriam felizes para sempre. No reino do faz-de-conta.
No meio da noite, a princesa sentiu sono e fadiga. Freou o animal e apeou. A estrada parecia sem fim. O reino de seu pai abarcava o mundo. E onde ficava o reino onde vivia o príncipe de seus sonhos? Olhou para o céu. As estrelas a protegeriam das trevas. As nuvens deslizaram mais e a vaga luz da Lua chegou até aquele perdido pedaço do reino. Que maravilha! A princesa ensaiou passos de dança. Rodou, rodopiou, sorrindo. Parou, cambaleou, olhando para o animal. E teve um grande susto. Havia um chifre no meio da testa dele.
Era um licorne.
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