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sexta-feira, 20 de abril de 2007

À beira do cais (Nilto Maciel)



 
A lua bruxuleava nas ondas. Alfonso não parava de fumar, e a luz do cigarro às vezes semelhava outra lua. Figuras de contornos vagos surgiam e desapareciam nas águas. Sereias ou iemanjás. Quando apareceu Maria. Pediu cigarro e propôs beberem. Besando al marinero que te quiere mármol amante nadador y puro, que por ti rasga el mar y en ti se muere. Ela riu e gargalhou. Ora, não esperava conhecer naquela noite um estrangeiro.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Sintaxe do desejo (Hildeberto Barbosa Filho)

(Dimas Macedo)


Com Sintaxe do desejo, o poeta Dimas Macedo seleciona e reúne seus poemas, dentro de um arco cronológico que vai de 1978 a 2003, consolidando, assim, um primeiro balanço de sua expressão lírica, materializada em títulos como: A distância de todas as coisas, Estrela de pedra, Liturgia do caos e Vozes do silêncio.

Homem de formação humanística afeito à prática da crítica e do ensaísmo literários, Dimas Macedo também procura, no âmbito de suas inquietações criativas, cultivar o solo particular da poesia - esta paisagem arisca e encantatória, esta cartografia mágica, toda tecida de mistério e de espanto. Diria, com base na própria nomenclatura do poeta, em síntese conceitual que já reflete sua visão estética diante da palavra: a poesia é a “sintaxe do desejo”.
O paradoxo implícito no título desta reunião resume uma concepção de poesia no sentido geral, mas também no sentido específico. Sintaxe quer dizer organização, portanto, planejamento, racionalidade, consciência. O desejo, pelo menos na perspectiva freudiana, é algo involuntário, instintivo, impulsivo, inconsciente... Ora, a expressão poética não pode prescindir nem de uma coisa nem de outra. Pensemos, desta feita, na poesia como a organização verbal do desejo, na poesia de todo poeta autêntico, assim como na poética individual de Dimas Macedo.