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domingo, 17 de junho de 2007

Aníbal e os livros (Nilto Maciel)

















Bárbara fez uma fogueira de todos os livros de Aníbal, apesar da oposição dos filhos. Melhor vendê-los aos sebos. Doá-los a bibliotecas públicas. Fazer um leilão. Bárbara ainda leu os títulos de alguns livros, antes de lançá-los ao fogo. Talvez descobrisse a causa essencial, primeira, da tragédia de seu marido, nas letras das capas. Ou nos desenhos. Ou nos nomes dos autores. Não, não adiantava descobrir nada. E deu início ao lento esforço de empilhar os volumes no quintal da casa: On The Origin of Species, Charles Darwin; Animal Sharpshooters, Anthony D. Fredericks; The Cannibal, John Hawkes; La Bãete du Gâevaudan: l'innocence des loups, Michel Louis; Cannibal, Terese Svoboda; Viagem ao Brasil, Hans Staden ...

Conversa decisiva (Valéria Nogueira Eik)


O quarto luxuosamente decorado abrigava o homem à beira da morte. Ele estava quieto como um defunto, olhos pregados no lustre suntuoso, e as mãos cruzadas no peito. A sua respiração, no entanto, denunciava ainda um resto de vida, e o ventre volumoso parecia singrar um mar ondulado, ora subindo, ora sumindo. Deu pela presença da moça e olhou-a de alto a baixo, avaliando se era realmente a pessoa certa. Balançou a cabeça numa negativa resignada. Fez sinal para que o enfermeiro deixasse o aposento.