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domingo, 24 de junho de 2007

Hora de despertar (Nilto Maciel)

























Filho desnaturado – disseram vizinhos de Bartira.
Num domingo de muita luz, Oliveiros beijou a testa de sua mãe, pôs uma fita no gravador e saiu, pé ante pé. “A qualquer hora o espectro do sono flutuará na penumbra da sala.” Pareceu-lhe ouvir o chamado da doente e voltou. Os olhos dela o fitaram como se o fitassem há tempos, desde o princípio de tudo. “A qualquer hora seremos amputados pelo alfanje do vento.” Ele a beijou de novo e arrastou para mais próximo dela a mesinha com as fitas e o gravador. Quando quisesse ouvir outra fita, bastaria esticar o braço. E garantiu voltar logo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

O menino e o poeta (Nilze Costa e Silva)


(Dimas Macedo)



Querer bem à poesia de um autor. Quase não se fala assim. Pois eu digo que quero muito bem à poesia do Dimas Macedo. Principalmente à poesia do seu lado menino, retratado inicialmente no seu livro “A Distância de Todas as Coisas”, em que traz explícito o desejo de recuperar a criança perdida. Nos ritos emocionais, o gosto de reativar sensações passadas, religar-se, percorrer espaços e alcançar estrelas, em cujo centro se desenrola o renascimento espiritual do homem. Em parte da sua obra poética, o menino Dimas Macedo mergulha nessa sedutora viagem de ritmos, melodias e metáforas, reencantando seus caminhos, suas buscas, suas trilhas, partilhas e até mesmo as incertezas.