«O Viúvo», de Ronaldo Costa Fernandes, é um romance surpreendente. As frases curtas, diretas, rápidas e cortantes reconstituem um clima pesado e sombrio à Fernando Pessoa em «O Livro do Desassossego», atribuído ao heterônimo Bernardo Soares, em que o estado mental de quem escreve transborda para a palavra.
Não é o mesmo estilo em que oxímoros e frases paradoxais permeiam o texto. Além disso, o português que usa é o do Brasil de hoje, sem floreios, sem gírias ou palavras de baixo calão. É como se Machado de Assis tivesse renascido na segunda metade do século XX e, incorporando todas as conquistas literárias das últimas décadas, renovado o idioma e produzido este texto que é o depoimento apurado de um homem atormentado. Costa Fernandes faz exatamente isso: dá um salto para a linguagem moderna, mas sem perder a raiz brasileira que, mais ao fundo, ainda é portuguesa.