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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Poemas de Rubén Darío (Traduzidos por Anderson Braga Horta)

(Rubén Darío)




A JUAN RAMÓN JIMÉNEZ


¿Tienes, joven amigo, ceñida la coraza
para empezar, valiente, la divina pelea?
¿Has visto si resiste el metal de tu idea
la furia del mandoble y el peso de la maza?


¿Te sientes con la sangre de la celeste raza
que vida con los números pitagóricos crea?
¿Y, como el fuerte Herakles al león de Nemea,
a los sangrientos tigres del mal darías caza?


¿Te enternece el azul de una noche tranquila?
¿Escuchas pensativo el sonar de la esquila
cuando el Ángelus dice el alma de la tarde?...


¿Tu corazón las voces ocultas interpreta?
Sigue, entonces, tu rumbo de amor. Eres poeta.
La belleza te cubra de luz y Dios te guarde.




A JUAN RAMÓN JIMÉNEZ


Diz-me, jovem amigo, tens cingida a couraça
para a divina liça iniciar, valente?
Notaste se resiste o metal de tua mente
à fúria da espadada ou ao peso da maça?


Sentes que tens o sangue dessa celeste raça
que vida com o número pitagórico idéia?
E, como o forte Heracles ao leão de Neméia,
aos sanguinários tigres do mal darias caça?


Enternece-te o azul de uma noite tranqüila?
Escutas pensativo o sino que destila
badaladas pelo Ângelus, que diz a alma da tarde?...*


Teu coração as vozes ocultas interpreta?
Segue, então, o teu rumo de amor. Tu és poeta.
A beleza te cubra de luz, e Deus te guarde.




MARGARITA


¿Recuerdas que querías ser una Margarita
Gautier? Fijo en mi mente tu extraño rostro está,
cuando cenamos juntos, en la primera cita,
en una noche alegre que nunca volverá.


Tus labios escarlatas de púrpura maldita
sorbían el champaña del fino baccarat;
tus dedos dehojaban la blanca margarita,
“Sí... no... sí... no...” ¡y sabías que te adoraba ya!


Después ¡oh flor de Histeria! llorabas y reías;
tus besos y tus lágrimas tuve en mi boca yo;
tus risas, tus fragancias, tus quejas eran mías.


Y en una tarde triste de los más dulces días,
la Muerte, la celosa, por ver si me querías,
¡como a una margarita de amor te deshojó!




MARGARIDA


Lembras-te que querias ser uma Margarida
Gautier? Fixo em minha alma teu raro rosto está,
de quando ceamos juntos, na primeira surtida,
em uma noite alegre que nunca voltará!


Teus lábios escarlates de púrpura maldita
sorviam o champanha do fino baccarat;
teus dedos desfolhavam a branca margarida:
“Sim... não... sim... não...” – sabias que te adorava já!


Depois, flor de Histeria! tu choravas e rias;
teus beijos, tuas lágrimas minha boca provou;
tuas risadas, queixas, fragrâncias, possuí-as.


E numa tarde triste dos mais ditosos dias
a Morte, a ciumenta, por ver se me querias,
como a uma margarida de amor te desfolhou!






ITE, MISSA EST


A Reynaldo de Rafael


Yo adoro a una sonámbula con alma de Eloísa,
virgen como la nieve y honda como la mar;
su espíritu es la hostia de mi amorosa misa,
y alzo al son de una dulce lira crepuscular.


Ojos de evocadora, gesto de profetisa,
en ella hay la sagrada frecuencia del altar:
su risa es la sonrisa suave de Monna Lisa;
sus labios son los únicos labios para besar.


Y he de besarla un día con rojo beso ardiente;
apoyada en mi brazo como convaleciente
me mirará asombrada con íntimo pavor;


la enamorada esfinge quedará estupefacta;
apagaré la llama de la vestal intacta
¡y la faunesa antigua me rugirá de amor!




ITE, MISSA EST


A Reynaldo de Rafael


Adoro uma sonâmbula com alma de Heloísa,
que é virgem como a neve e funda como o mar;
seu espírito é a hóstia que em amorosa missa
alço ao som de uma doce lira crepuscular.


Olhos de evocadora, gesto de profetisa,
deixa ver a sagrada freqüentação do altar;
seu riso é o suave sorrir de Monna Lisa;
seus lábios são os únicos lábios para beijar.


E hei de beijá-la um dia com rubro beijo ardente;
apoiada em meu braço como convalescente,
fitar-me-á, assombrada, com íntimo pavor;


quedará estupefata a esfinge enamorada;
apagarei a chama da vestal intocada
e a faunesa primeva me rugirá de amor!




EL CISNE


A Ch Del Goufre


Fue en una hora divina para el género humano.
El Cisne antes cantaba sólo para morir.
Cuando se oyó el acento del Cisne wagneriano
fue en medio de una aurora, fue para revivir.


Sobre las tempestades del humano oceano
se oye el canto del Cisne; no se cesa de oír,
dominando el martillo del viejo Thor germano
o las trompas que cantan la espada de Argantir.


¡Oh Cisne! ¡Oh sacro pájaro! Si antes la blanca Helena
del huevo azul de Leda brotó de gracia llena,
siendo de la Hermosura la princesa inmortal,


bajo tus blancas alas la nueva Poesía
concibe en una gloria de luz y de armonía
la Helena eterna y pura que encarna el ideal.




O CISNE


A Ch Del Goufre


Foi numa hora divina para o gênero humano.
O Cisne antes cantava tão-só para morrer.
Quando se ouviu o acento do Cisne wagneriano,
foi em meio a uma aurora, foi para reviver.


Por sobre as tempestades de nosso humano oceano
se ouve o canto do Cisne; não se cessa de ouvir,
dominando o martelo do velho Tor germano
ou as trompas que cantam a espada de Argantir.


Oh Cisne! Oh sacro pássaro! Se antes a branca Helena
de um ovo azul de Leda brotou de graça plena,
sendo da Formosura a princesa imortal,


sob tuas brancas asas a nova Poesia
concebe numa glória de luz e de harmonia
a Helena eterna e pura que encarna o ideal




QUE EL AMOR NO ADMITE CUERDAS
REFLEXIONES


(A la manera de Santa Ffe)


Señora, Amor es violento,
y cuando nos transfigura
nos enciende el pensamiento
la locura.


No pidas paz a mis brazos
que a los tuyos tienen presos:
son de guerra mis abrazos
y son de incendio mis besos;
y seria vano intento
el tornar mi mente obscura
si me enciende el pensamiento
la locura.


Clara está la mente mía
de llamas de amor, señora,
como la tienda del día
o el palacio de la aurora.
Y al perfume de tu ungüento
te persigue mi ventura,
y me enciende el pensamiento
la locura.


Mi gozo tu paladar
rico panal conceptúa,
como en el santo Cantar:
Mel et lac sub lingua tua.
La delicia de tu aliento
en tan fino vaso apura,
y me enciende el pensamiento
la locura.


QUE O AMOR NÃO ADMITE PRUDENTES
REFLEXÕES


(À maneira de Santa Ffe)


Senhora, Amor é violento,
e quando nos transfigura
nos incende o pensamento
a loucura.


Não peças paz aos meus braços
que prendem os teus sem pejos:
são de guerra os meus abraços
e são de incêndio os meus beijos;
e seria vão intento
o tornar-me a mente escura
se me incende o pensamento
a loucura.


Minha mente se alumia
das chamas de amor, senhora,
tal como a tenda do dia
ou o palácio da aurora.
E ao odor do teu ungüento
te segue minha ventura,
e me incende o pensamento
a loucura.


Meu gozo teu paladar
rico favo conceitua,
como no santo Cantar:
Mel et lac sub lingua tua.
O dulçor do teu alento
em tão fino vaso apura,
e me incende o pensamento
a loucura.
/////

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Trapos (Nilto Maciel)



Tomás olhava para os carros em movimento. Trânsito maluco! Os motoristas dirigiam em alta velocidade. Agarrado ao volante, Gilberto nem piscava. Já se tinha acostumado àquilo. Dirigia em Brasília há quase vinte anos. E também no Rio, em São Paulo, outras cidades, estradas. Não apenas acostumado: não sentia nenhuma dificuldade em dirigir. O colega afrouxou o laço da gravata, coçou o queixo e se voltou para ele. Como as pessoas podiam se acostumar ao caos? Carro, o grande mal da humanidade. Se o homem não acabasse com o carro nos próximos dez anos, a vida ia ficar insuportável. Não falava apenas da poluição, porque os combustíveis usados hoje podiam ser substituídos por não poluentes. Falava do excesso de veículos nas ruas, dos engarrafamentos, dos atropelamentos, dos acidentes. Além disso, as pessoas não andavam mais, viviam dentro dos carros. Gilberto tentou falar. O outro aumentou o tom da voz. Sempre mais solidão, o isolamento das pessoas. Gilberto sorriu e levou a mão direita ao boné. Ora, não fossem os carros, seria muito mais difícil viver nas grandes cidades.